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Projetos sociais ajudam mulheres com câncer de mama a recuperar autoestima

Objetivo das iniciativas é devolver o brilho no olhar das pacientes que têm ou já tiveram câncer, mas ficaram com sequelas

Elisa Vaz
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As sequelas do câncer de mama, em muitos casos, podem ser uma memória difícil para quem enfrenta ou já enfrentou a doença. Em uma sociedade que impõe padrões de beleza inalcançáveis e cobra da mulher feminilidade em excesso, a perda do cabelo e a retirada da mama ativam gatilhos, e o resgate da autoestima se transforma no maior desafio para essas pacientes. Mesmo já curadas, as mulheres nem sempre conseguem ficar em frente ao espelho com olhos de amor e carinho para o próprio corpo.

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Elas são o público-alvo de muitos projetos que intensificam as ações no Outubro Rosa e lutam exatamente por isso: devolver o brilho no olhar das pacientes que têm ou já tiveram câncer, mas ficaram com sequelas. É o caso do "Transformando Vidas", que existe desde 2019 e atende mulheres que passaram pelo câncer de mama, resgatando a autoestima em forma de micropigmentação nas aréolas, em um ou dois lados, dependendo do caso, e de forma gratuita, sem qualquer parceria ou patrocínio. A projeção realista é feita em 3D.

Quem teve a ideia de iniciar o projeto foi a especialista em micropigmentação Rosana Abreu, que desenvolve as ações com recurso próprio, de forma voluntária. "Vi uma entrevista de uma dermatologista fazendo um procedimento e eu achei aquilo lindo. Aquilo me encantou, chorei, me emocionei com a matéria, e o desejo partiu daí. Quando eu fiz o curso de micropigmentação, a professora sabia do meu interesse, mas eu não tinha a menor ideia de que dentro da minha atuação seria possível atender a área paramédica. Daí eu comecei a criar esse projeto, que é o resgate da identidade, de almas, de pessoas, de mulheres que foram tão profundamente abaladas emocionalmente", lembra a idealizadora.

A procura pelo trabalho de Rosana se dá, principalmente, pelas redes sociais. Até hoje, já foram atendidas, em média, 80 mulheres, e o objetivo da fundadora é aumentar essa demanda. "Costumo dizer que não lido com vidas, eu lido com almas. São pessoas que chegam no meu consultório abaladas emocionalmente, frustradas, pessoas que foram curadas, mas algo nelas ainda está faltando, que é aquela identidade, a aréola, que é algo importante no nosso corpo e é a forma de expressar a nossa feminilidade. É uma referência muito importante para nós e nos olharmos no espelho e não vermos um pedaço de nós leva ao estresse e depressão".

Paciente tem nova vida

Com a transformação, Rosana conta que as pacientes se emocionam. No ato de amor e doação, até a profissional se pega chorando junto com as mulheres que atende. Foi o que aconteceu quando a recepcionista Rosete Santos, de 40 anos, chegou ao consultório para o procedimento nos seios. Ela descobriu o câncer em 2017, em estágio avançado, e precisou fazer 21 sessões de quimioterapia e também radioterapia, sendo necessário retirar uma mama. Como não conseguiu fazer o implante de silicone na época, passou um ano sem um seio. Ao constatar a possibilidade de ser acometida pelo câncer novamente na outra mama, precisou fazer uma nova cirurgia de retirada, e aproveitou para implantar os silicones.

"Eu sempre fui muito forte, desde que descobri, as pessoas me viam bem, meu cabelo caiu e tirei de letra, mas quando tive que tirar a mama foi o momento mais difícil para mim. Chorava muito, cheguei da cirurgia e quando me olhei chorei muito, tive que fazer terapia, não aceitava aquilo, me isolei em casa, engordei muito porque só queria ficar em casa. Mesmo quando coloquei o silicone não melhorei, ainda sentia a tristeza porque meus seios não tinham bico. Sou casada e tinha vergonha do meu marido, nunca troquei de roupa na frente dele, minha autoestima ficou muito baixa e não conseguia me olhar no espelho", lembra Rose.

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Conheça a história de Aldenora, que descobriu a doença em 2007 e começou o tratamento imediatamente. Em 2009 mobilizou mulheres e fez a primeira caminhada da campanha Outubro Rosa nas ruas de Barcarena. Hoje é o maior grupo de mulheres na cidade.

Ao saber do projeto Transformando Vidas, a paciente, que mora em Barcarena, mandou mensagem para Rosana e marcou uma data para viajar a Belém e fazer o procedimento, que foi realizado na semana passada. Se antes havia o sentimento de ser uma estranha no próprio corpo, agora Rose consegue se olhar no espelho e se amar. Ela conta que chorou de alegria e comemora o resultado: "Ficou idêntico, até a cor, parece que sempre foi meu". Hoje, a recepcionista só tem a agradecer, porque pode sorrir de novo.

No dia 22 deste mês, o grupo realizará um evento, na sede do Clube do Remo, em alusão à campanha Outubro Rosa, com a presença de mais de 200 mulheres. A programação inclui coquetel, animação, bandas, brindes, sorteios e desfiles. "O projeto, nesse dia, vai proporcionar uma união entre todas nós, uma confraternização, vamos rir, chorar, porque a emoção é indispensável, toma conta de todos nós. É um dia em que vamos celebrar juntas essa comemoração pela vida. Outubro Rosa representa reviver para todas elas, é um novo nascimento, uma nova chance de viver", ressalta a idealizadora da ação, Rosana Abreu.

Para continuar desenvolvendo ações como essa, o "Transformando Vidas" precisa de ajuda financeira para pagar os custos expressivos do encontro. Após esse evento, há também necessidade de recursos para suprir a demanda de materiais que o projeto utiliza nos atendimentos regulares às mulheres, cujo número tende a aumentar ainda mais. A pretensão é realizar eventos dessa natureza de três a quatro vezes durante o ano, em datas comemorativas como o Dia da Mulher e Dia das Mães no primeiro semestre e mais dois no segundo semestre. Paralelo a isso, seguirá o trabalho voluntário, com intenção de atender 150 mulheres durante o ano inteiro.

Laços de amor

Levar informações para as pacientes com câncer é o principal intuito do projeto "Laços de Amor", criado em 2017 e que hoje organiza palestras sobre câncer, nutrição, direitos oncológicos, fisioterapia e outras áreas, além de encontros de Carnaval, festa junina e confraternizações em geral. Segundo a integrante Gemille Lourenço Sales, o grupo surgiu a partir da inquietude de uma paciente sobre a falta de informações durante os tratamentos. No total, são 160 mulheres atendidas e seis na organização.

"Nós apoiamos diariamente, tirando dúvidas, orientando sobre alguns caminhos para se entrar no tratamento do SUS, nos juntamos caso alguma paciente precise levantar valores para os seus tratamentos, fazemos visitas caso alguma paciente esteja precisando de conversa e força mais de perto", conta. O projeto também recebe doações de cestas básicas e kits de higiene que são distribuídas entre as pacientes que não têm benefícios, e de cadeiras de rodas, fraldas descartáveis e medicamentos. Toda doação é dividida entre as que mais necessitam.

"Só nós entendemos a dor de quem passa por um tratamento oncológico, então os grupos de apoio são muito importantes, pois temos com quem dividir nossas dores, medos e receios sem sermos julgadas. Para mim, que já passei pelo mesmo, é gratificante dar apoio. A mulher que passa por um tratamento de câncer, principalmente de mama, vive um processo avassalador, pois ela aprende na marra a ter que lidar com muitas perdas: cabelos, mama, cílios e unhas. Além do fator estético tão cobrado pela sociedade, existe a possibilidade de essa mulher não engravidar mais, dependendo do tipo de câncer", ressalta Gemille. Por isso o objetivo do projeto é proporcionar, além de informações, ajuda psicológica para as pacientes e ações de beleza para elevar a autoestima.

No Outubro Rosa, as atividades previstas são palestras, que serão realizadas em 10 locais, além de três grandes encontros: no Hakata, no dia 19; Transformando Vidas, no dia 22; e homenagem à fundadora do Laços de Amor, Josy Damasceno, no dia 31. Em todas essas datas haverá sorteio de brindes, desfile das pacientes e música. Para mais informações, basta acessar o Instagram @grupolacosdeamor.

Maria Bonita

As mulheres diagnosticadas com câncer de mama e que não têm recursos para enfrentar o tratamento oncológico também são assistidas pela associação Maria Bonita, que tem o objetivo de melhorar a qualidade de vida das pacientes e investir na saúde física e mental de mulheres sobreviventes ou em tratamento contra o câncer. O projeto, existente há quatro anos, mobiliza de 30 a 40 voluntários e promove ações e eventos que chegam a atender de 230 a 300 pacientes paraenses por ano.

Quem idealizou e agora atua como presidente da iniciativa é a arte-educadora Fabize Muinhos, que viveu o diagnóstico e tratamento de um câncer de mama em 2018. Ela diz que os efeitos são diversos, entre eles a perda total ou parcial de cabelos e pelo e as manchas na pele, que têm apelo significativo para as mulheres, afetando diretamente a autoestima por despertarem curiosidade e olhares desconfortáveis, de rejeição e preconceito. Segundo Fabize, os maiores desafios são os processos depressivos vividos pelas pacientes

"A ideia inicial do Maria Bonita foi ampliar a rede de informação para mulheres sobre a importância dos testes preventivos e promover ações sistemáticas com foco na melhoria da qualidade de vida da paciente e de sua rede de apoio, ampliando a autoestima no momento em que lutam pela cura da doença. Acreditamos muito na força do projeto Maria Bonita e no alcance das ações que promovemos. Acreditamos em todos que são sensíveis a esta causa que é de tantas mulheres, não apenas daquelas que desconhecemos e figuram nas estatísticas, mas de mulheres que estão ao nosso lado, amores, amigas, família", comenta.

Hoje, o Maria Bonita tem ações em três linhas de atuação. O "Maria Bonita em Movimento" propõe uma reflexão sobre o tratamento oncológico e a busca por melhores condições de saúde emocional por meio de encontros, palestras, shows, espetáculos, blocos carnavalescos, oficinas de turbante, maquiagem, dança, teatro, feiras colaborativas de incentivo ao empreendedorismo, entre outras ações. 

Já o "Maria Bonita nas Águas" realiza e promove atividades de canoagem (Caiaque, Sup e Va'a) para mulheres sobreviventes do câncer ou em tratamento oncológico. Em 2021, se tornou oficialmente o representante da região Norte do movimento Remadoras Rosa do Brasil e passou a integrar a rede internacional de canoagem para mulheres sobreviventes do câncer, o Dragon Boat. 

Por fim, o "Maria Bonita Recomeços" é uma ação de doação de próteses mamárias para uso externo em pacientes mastectomizadas. Em parceria com cirurgiões plásticos, por meio de doações de próteses de silicone, que são entregues a essas mulheres, a ação favorece diretamente às reflexões sobre autoestima, aceitação e saúde. Fabize explica que todos os recursos doados são aplicados nas ações do projeto e publicados nas redes sociais (@projetomariabonitabelem).

Como ajudar

Projeto Transformando Vidas

É possível doar itens para a ação planejada, como lanches, itens de decoração, camisa do projeto e brindes, ou também quantia em dinheiro.

PIX: rosarosajose674@gmail.com

Entrar em contato pelo telefone (91) 98119-2994

Projeto Laços de Amor

Para doações, chave PIX: gemillesales02@gmail.com

Entrar em contato com pelo Instagram @grupolacosdeamor

Projeto Maria Bonita

É possível oferecer serviços ou fazer doações de materiais ou mesmo dinheiro.

Entrar em contato pelo telefone (91) 98048-1074

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