Grupos fazem arrecadações para ajudar promesseiros do Círio de Nazaré

Empatia- Cuidar do próximo fortalece a fé de voluntários que atuam na procissão

Emilly Melo/ Especial para O Liberal
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A fé que move milhares de pessoas durante o Círio de Nazaré desperta solidariedade e empatia naqueles que são tocados pela emoção ao ver o mar de fiéis que se reúnem para seguir a berlinda de Nossa Senhora com o propósito de agradecer e pagar as promessas feitas à Virgem Maria. 

Seguindo esse mesmo objetivo, o empresário Sandro Hage, de 26 anos, juntou-se a três amigos, em 2018, para distribuir água aos promesseiros da corda na trasladação, e assim surgiu o “Promesseiros da Nazinha”. “No primeiro ano, levamos todas as águas dentro do meu carro e do meu outro amigo. Eram carros bem pequenos, que a gente até brinca que não sabe como conseguimos em uma só viagem levar toda a água”, lembra Sandro.

“Essa motivação é cada vez maior a cada ano que passa”

A ideia surgiu de forma espontânea enquanto o grupo de amigos conversava. “Do nada veio a ideia, em cima da hora, coisa de duas ou três semanas para o Círio acontecer”, relembra o empresário. No entanto, a motivação para continuar nos demais anos foi devido ao apoio recebido dos fiéis e por quem se interessa em ajudar. “Essa motivação é cada vez maior a cada ano que passa”, destaca.

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O sentimento de gratidão predomina todos os anos em Sandro, que tem um carinho maior pelo mês de outubro por ser o aniversário dele. “Faço aniversário dia 11 [de outubro], e sempre é no dia ou na semana do Círio. Então, para mim, é um mês especial. 

“Eu particularmente me sinto abençoada quando estamos fazendo isso, porque vemos que está todo mundo ali, unido, por uma só causa,  um só objetivo, que é a festa da Nossa Senhora de Nazaré”, relata Anna Luiza Fernandes, integrante do projeto. 

Ação é retribuição, diz advogada voluntária

A advogada e voluntária Hilda Dias afirma que a ação desenvolvida pelo Promesseiros é uma forma de agradecer à padroeira pelas intercessões e milagres alcançados ao longo do ano.“Eu acho que é uma forma de retribuir o que Nossa Senhora nos dá o ano todo, seja saúde, bênçãos, é uma forma de espalhar solidariedade e amor nesse momento que é o mais importante para a nossa cidade”, conta a advogada.

Para Sandro, o período da pandemia foi um dos mais difíceis por não ter tido procissão nas ruas de Belém. “Durante esse período de pandemia, as maiores preocupações dela foram os meus avós e o Círio. Eu falava: ‘calma, mãe, a gente vai voltar com o Círio’. O retorno no ano passado foi extraordinário porque eu pude estar com ela nesse momento, e poder viver esse momento com ela, depois dos anos sofrendo com a pandemia, foi muito gratificante”, diz.

Anna Luiza ressalta que a meta deste ano é ultrapassar as arrecadações do ano de 2022, que foram superiores a 20 mil copos de água distribuídos. “É como se estivéssemos voltado com força total, isso deu um gás para a gente continuar nos próximos anos”. Já para Hilda, o retorno às ruas, no ano passado, foi marcado por agradecimentos. “Teve um sentimento especial de poder agradecer pela saúde da nossa família, amigos, que estavam bem depois de tudo o que passamos nesses anos de pandemia”, completa a advogada. 

“Eu acho que o nosso trabalho voluntário fica ainda mais importante e precisamos de mais visibilidade para conseguir ainda mais doações e ajudar mais pessoas, tanto as que estão na corda quanto as que estão fazendo o percurso", aponta Hilda.

Grande demanda por ajuda levou a criação de grupo

Há sete anos, o grupo Amigos na Fé busca ajudar os promesseiros que saem de outros municípios do Estado rumo a Belém. 

A terapeuta ocupacional Letícia Alves, de 23 anos, conta que, inicialmente, juntou-se aos pais e a alguns amigos para distribuir água e amparar os romeiros que passavam pela rodovia BR-316. 

“Entregamos água, fizemos massagem, fizemos curativos e ficamos até parte da madrugada, por volta das quatro horas por aí. Observamos que a demanda é muito grande, mesmo na madrugada. A gente começou às 18 horas e continuou enquanto ainda tínhamos coisas”, relembra Letícia. 

Com essa experiência, a terapeuta percebeu a grande demanda de fiéis que precisavam de ajuda e decidiu fazer campanhas de arrecadações para prosseguir com as ações no ano seguinte, com o intuito de ficar durante a madrugada toda. “Em 2018, a gente iniciou às 18 horas e ficou até as seis da manhã, quando a imagem passou pela BR. Desde então, fazemos essa ação toda sexta-feira que antecede o Círio”, afirma a coordenadora do Amigos na Fé.

Poder contribuir para que outros devotos consigam finalizar a sua caminhada à Basílica de Nazaré é o que motiva os voluntários, conta Letícia, que se entusiasma ao descrever como é envolvida com o Círio. “É o melhor momento do ano, me sinto mais conectada comigo mesma, com a minha espiritualidade e fé. Renovo minhas energias, não só por ter a presença de Nossa Senhora nas ruas, mas pela força que as pessoas emanam. É tanta fé e energia boa que contagia”, declara Alves.

O segundo semestre do ano já chega carregado de ansiedade e expectativa para mais uma ação, relata a jovem. “Eu fico muito feliz e empolgada, mas, acima de tudo, fico grata”. Segundo ela, não é apenas a doação, mas um momento, por mais breve que seja, que a empatia transborda entre todos e o cuidado com o próximo acontece de várias maneiras, como através da distribuição de suprimentos ou apenas um olhar. 

“Não estamos só doando um alimento, uma massagem ou um curativo. Ficamos localizados em um perímetro que não é tão perto e nem tão longe da Basílica, então as pessoas chegam muito cansadas, mas ainda falta muito chão para continuar. Então, são abraços, palavras de afirmação, um olhar que faz toda a diferença para dar força. Essa fé que move montanhas é impressionante”, enfatiza Letícia.

Novas histórias a cada ano

A jornada dos peregrinos é sempre acompanhada de novas histórias a cada ano. A troca de vivências é o que mais emociona a voluntária. Ouvir a razão pela qual os promesseiros reúnem suas forças para seguir a caminhada, é um sentimento único de se viver, classifica Letícia. 

“Às vezes, a gente encontra as mesmas pessoas, mas nunca é igual de um ano para o outro. As pessoas mudam. Coisas acontecem. Ouvimos muitas histórias, por exemplo, quando sentamos com alguém para fazer uma massagem por uns 10 ou 15 minutos, ela conta o porquê de ela estar ali ou por um agradecimento de vida. É muito potente”, conta. 

O período da pandemia foi muito marcante para os voluntários do Amigos na Fé, pois continuaram com as ações, porém com um número de colaboradores reduzido e seguindo as recomendações sanitárias para evitar o contágio do coronavírus. A decisão foi motivada pela disposição em ajudar aqueles que desejavam agradecer a Nossa Senhora pelos milagres, especialmente os que sobreviveram da Covid-19. 

“Na pandemia, apesar de não poder aglomerar, optamos por fazer a ação porque tiveram poucos projetos ajudando. Todos estavam completamente paramentados, com face shield, máscaras e luvas. A gente não podia abraçar, nem ter contato físico, mas vimos o quanto o olhar é potente. O quanto as palavras são capazes de impulsionar, de incentivar aqueles que tinham histórias muito difíceis”, ressalta Letícia. 

 Arrecadações

O Amigos na Fé realiza as ações por meio dos recursos levantados em campanhas nas redes sociais. O projeto faz arrecadação de itens de curativo, materiais para massagem, alimentos para distribuir como mingau, sopa, bolos e frutas. Embora seja uma iniciativa católica, o grupo é composto por 40 pessoas que professam outras religiões, como protestantes, umbandistas, espíritas, que compartilham o sentimento de empatia e a vontade de fazer o bem. 

 

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