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Cursinhos populares no Pará contribuem para ampliar o acesso ao ensino superior

Projetos de educação popular focam no atendimento da demanda de pessoas em situação de vulnerabilidade

Fabrício Queiroz
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O início do ano costuma ser um período festivo para muitos jovens que ingressam no ensino superior. A aprovação nos vestibulares das principais universidades do estado deve fazer a alegria de mais de 12 mil estudantes, porém outros continuarão em busca do sonho da graduação, sendo que grande parte são pessoas com menos recursos financeiros para investir em cursos particulares. Pensando na realidade desse público, diversas iniciativas de cursinhos populares tem se organizado na cidade para contribuir com a educação e incentivar a continuidade dos estudos.

Em 2023, a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) oferta 1.120 vagas, a Universidade do Estado do Pará (UEPA) outras 3.768 vagas e a Universidade Federal do Pará conta com o maior processo seletivo com 7.380 vagas, totalizando 12.268 nas três maiores instituições de ensino superior. Apesar da adoção de políticas afirmativas ser uma realidade nessas universidades, com reserva de vagas para pessoas com deficiência, estudantes oriundos de escolas públicas, indígenas e quilombolas, a demanda desse público ainda é grande e muitos contam com o apoio de projetos de educação popular, como a Rede Emancipa, que é responsável pela articulação de cursinhos nos municípios de Belém e Ananindeua.

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“A Rede Emancipa é um movimento social de educação popular. Nós nos organizamos em defesa da educação, temos tanto cursinhos populares quanto atividades de alfabetização, além de desenvolver algumas atividades de português instrumental com indígenas Warao. Nossas ações são de cidadania e, principalmente, de luta pelo acesso à universidade”, explica Jorge Martins, coordenador do movimento no estado e nacionalmente.

Sob essa perspectiva, a Rede está presente em sete espaços localizados nos bairros do Benguí, Matinha, Condor, Parque Verde, Vila da Barca, Cidade Nova, além da UFPA, onde o projeto iniciou em 2014. Atualmente, são cerca de 500 pessoas atendidas e 200 educadores voluntários envolvidos. “Pra gente, educação é um espaço político no sentido de fazer com que eles se conscientizem e lutem pelos seus direitos politicamente. Não é uma questão político-partidária, é uma questão política de consciência da sociedade”, enfatiza o coordenador.

Da mesma forma, Maira Cordeiro, que também integra a coordenação do projeto, ressalta que vê a aprovação no vestibular como o primeiro passo rumo a outro modelo de sociedade. “A gente tem um lema que é: ‘A Emancipa muda vidas’. A gente tem essa preocupação de que não seja apenas um cursinho, mas que os alunos que passam por aqui se lembrem que aqui foi um local de formação para a vida deles, um local que eles se reconhecem como colegas e amigos, e não como concorrentes. Para isso, damos ênfase aos valores da solidariedade e do companheiros que são pautados pelo Paulo Freire para que isso fique marcado na vida deles”, afirma a professora.

Nesse sentido, a professora Pânia Pires, coordenadora do cursinho popular solidário Fátima Bessa, no bairro da Matinha, pontua que essa abordagem favorece o desenvolvimento da autonomia dos estudantes, bem como aprendizagens mútuas na interação entre os dois grupos. “Os nossos alunos são na maioria trabalhadores. Na aula de atualidades, em que a gente trabalha vários temas, como racismo, feminismo, inclusão social e inclusão digital. Tem aulas em que eles contribuem bastante com a questão da educação popular. Eu aprendo tanto com eles quanto eles aprendem com a gente porque a gente vai com a teoria e eles vem com a prática”, exemplifica.

image Maira Cordeiro, Pânia Pires e Jorge Martins defendem ações de cidadania por meio da educação no projeto Rede Emancipa (Thiago Gomes / O Liberal)

Essa proposta diferenciada se torna inclusive um dos fatores que geram o engajamento de novos voluntários, que em alguns casos são ex-alunos que dão continuidade ao trabalho e ajudam na expansão do projeto. A estudante Larissa Ranielle, 21 anos, por exemplo, frequentou as aulas da Rede Emancipa nos anos de 2019 e 2020, conseguindo aprovação para a Universidade Federal do Maranhão, da UFRA e UFPA, onde atualmente ela cursa o bacharelado em geofísica.

“O Emancipa é um cursinho totalmente diferente dos mais demais, até mesmo dos gratuitos porque ele não te prepara para a prova do Enem, ele prepara para enfrentar a tua realidade e a universidade. Ele te faz perceber que você tem voz politicamente e socialmente, a gente tem a oportunidade de aprender de fato o que é a democracia”, analisa Larissa, que mesmo tendo alcançado seu objetivo de aprovação não se afastou do projeto.

“Eu queria retornar por uma questão de gratidão, porque é um local que eu me sinto à vontade e, principalmente, porque eu acredito na educação. Eu quero lutar e ver pessoas como eu, da minha mesma classe social e raça, dentro da universidade”, destaca.

image A estudante de Geofísica, Larissa Ranielle (ao centro), conquistou aprovação no vestibular com apoio das aulas do cursinho popular (Divulgação)

Para este ano, a Rede Emancipa já dialoga com organizações de bairro, movimentos sociais e grupos afroreligiosos visando ampliar a oferta de cursinhos populares, bem como levar outras ações de direitos humanos para diferentes pontos da cidade. A previsão é que as inscrições para novos alunos ocorra em fevereiro, após a divulgação dos resultados dos processos seletivos e do Sistema de Seleção Unificada (SISU).

Movimento social promover ações educativas há mais de 30 anos

Ainda na capital paraense, no bairro do Jurunas, outra iniciativa também auxilia no acesso de estudantes em situação de vulnerabilidade nas universidades.  O Movimento de Educação Popular do Jurunas (Mepiju) foi fundado em 1988 por iniciativa do sociólogo Leopoldo Júnior e do professor de história Domingos Conceição, ofertando inicialmente aulas de português e matemática. Após a interrupção de suas atividades por alguns anos, o Mepiju se restabeleceu com um cursinho popular atendendo os moradores da região.

Desde 2021, as aulas ocorrem na Escola Estadual Arthur Porto, na avenida Fernando Guilhon, beneficiando cerca de 60 pessoas e com apoio crescente da comunidade. “A gente sempre foi muito abraçado pela comunidade tanto que, por isso, a gente a conseguiu parceria com os vários colégios que a gente fez parte”, conta a coordenadora do projeto, a pedagoga Stefanie Ribeiro, 23 anos, que cursou a graduação após passar pelo cursinho.

“Um dos meus professores na escola era do Mepiju. Vários amigos meus se inscreveram e desde essa época a gente falava que se a gente passasse, a gente voltaria porque a gente sempre gostou daqui. A gente viu que eles acreditavam na gente, que eles se importavam e nos valorizavam, independente do fato de estar ganhando ou não para dar aula”, comenta a professora, que ressalta alguns diferenciais da proposta pedagógica do projeto.

image A pedagoga Stefanie Figueiredo coordena o Mepiju, que atende 60 alunos no bairro do Jurunas (Thiago Gomes / O Liberal)

“Desde sua fundação, o Mepiju seguiu a filosofia freireana. Nós sempre prezamos o respeito e uma forma de ensino que fuja daquele método tradicional. Os professores sempre foram bem receptivos, por exemplo, em relação a opiniões, eles querem que os alunos participem, para que não seja aquela coisa engessada e é por isso que a comunidade nos aceitou bastante”, diz Stefanie.

Por conta dessa proposta e do desejo de realizar um trabalho voluntário, as gêmeas Camille e Izabella Dutra, 20 anos, que cursam licenciatura em Letras – Língua Portuguesa na UFRA, resolveram contribuir com o projeto há cinco meses com planos de seguir colaborando com o sonho de muitos jovens da periferia de Belém. “Na faculdade, a gente aprende muito a parte teórica de como dar aula, de como trazer aquele conteúdo para determinado aluno, mas aqui a gente pode colocar em prática essa teoria”, afirma Camille.

“A gente sempre procura interagir nas nossas aulas com a realidade do aluno, que também é um dos objetivos do projeto, sempre buscar usar exemplos do cotidiano deles porque queremos facilitar esse processo de aprendizado. A ideia é que o professor não seja o centro da sala de aula, mas mostrar que o aluno é também um instrumento de aprendizado porque todos nós dentro de sala aprendemos uns com os outros”, complementa Izabella.

image As irmãs Izabella e Camille Dutra destacam importância da atuação no cursinho popular para sua formação profissional (Thiago Gomes / O Liberal)

Assim como elas, outros cerca de 90 voluntários atuam no Mepiju, incluindo docentes das diversas áreas do conhecimento, psicólogos e terapeutas ocupacionais que visam atender todas as demandas de preparação dos jovens que buscam ingressar no ensino superior. As inscrições para o cursinho estão abertas até o final de fevereiro e as turmas estão previstas para iniciar em março.

“Nós queremos trabalhar nessa área da saúde mental dos alunos em 2023. No ano passado, nós tivemos muitos casos de alunos com ansiedade, que precisaram se afastar porque eles não estavam bem psicologicamente, então queremos ajudar para tentar minimizar a ansiedade em relação ao Enem”, esclarece Stefanie Figueiredo.

Para conhecer as ações dos cursinhos populares do Mepiju e da Rede Emancipa, entre em contato por:

Movimento de Educação Popular do Jurunas (Mepiju)

Endereço: Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Arthur Porto - rua Engenheiro Fernando Guilhon. Bairro: Jurunas

Telefone: (91) 99370-9649

Redes sociais: facebook.com/mepjurunass

Rede Emancipa

Redes sociais: instagram.com/emancipabelemananindeua

facebook.com/redeemancipabelem

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