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Amigos do Jipe: projeto leva educação e material escolar para comunidades do Pará

Voluntários que se uniram na década de 1990 usam seus jipes para fazer trilhas e ajudar jovens que não têm itens de estudo

Elisa Vaz

A chegada do novo ano letivo traz a necessidade de adquirir materiais escolares para crianças e adolescentes que vão ingressar em uma nova série. Em muitas comunidades do Pará, no entanto, a realidade socioeconômica é difícil e comprar itens se torna impossível para as famílias - por isso, esses estudantes dependem de doações para ter onde escrever e livros para ler. Daí a importância de os pais e responsáveis estarem atentos e aproveitarem o início do ano para se desfazer do que não será mais usado, ao mesmo tempo em que ajudam outros jovens a terem a chance de estudar.

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Desde 1992, um grupo de amigos se reúne para fazer trilhas em grandes carros e aproveitam as viagens pelo interior do Estado para assistir comunidades mais vulneráveis, que precisam não apenas de itens para os estudos, mas também de remédios, assistência médica e cestas básicas. Hoje os voluntários são chamados de Amigos do Jipe - formalmente, Associação Confraria Amigos do Jipe (Acajipe) -, com sede no bairro da Pratinha, em Belém.

O presidente da entidade, Djalma Alencar, conta que, cada vez que o grupo ia a locais distantes, percebia as dificuldades das comunidades, por isso passou a ter um compromisso com a solidariedade. No total, participam do projeto mais de 70 jipes, mas há mais voluntários, principalmente na área da saúde, como enfermeiros e médicos.

image Anos atrás, Onélia Carvalho ficou em coma, e hoje ela conta com o auxílio do projeto para conseguir os medicamentos necessários. (Igor Mota / O Liberal)

Onélia Carvalho, de 66 anos, conta há anos com a ajuda dos integrantes. Na época da pandemia da covid-19, precisou fazer uma cirurgia e acabou ficando em coma. Ela mora na Pratinha com o esposo, e o casal precisou de doações de cestas básicas, medicamentos e assistência de saúde, produtos e serviços que continuam recebendo até hoje. “O grupo chegou na minha porta e me auxiliou com as despesas e apoio para a minha família, só tenho a agradecer”, comemora.

Foco na educação

A atuação na área de educação tem cerca de uma década. “Além das cestas de alimentos, nós levamos materiais escolares, porque sempre tem gente com filho. Se um livro não tem mais utilidade, bora levar e doar para a comunidade. Foi aí que começamos a observar a necessidade e a carência de livros, a ausência de materiais didáticos, as crianças muitas vezes emprestaram caderno e lápis umas das outras”, relata.

O município de Bujaru foi o primeiro a receber as ações de educação do projeto, e depois disso a região do Marajó também foi alcançada. A ideia, segundo Djalma, é levar de volta os adolescentes e os idosos para as escolas. “Os garotos são pais e mães cedo e precisam sair de casa para arrumar dinheiro, não vão mais para a escola. Nosso objetivo é resgatar essas pessoas para elas voltarem a estudar”, afirma.

Professora, Jucicleide Baía Nazaré lembra do dia em que os integrantes do projeto fizeram uma trilha até Bujaru e descobriram a comunidade onde ela atua, Nossa Senhora do Rosário, a quilômetros da sede do município. As ações do projeto, segundo ela, foram importantes para melhorar a educação dos moradores - a escola, pequena, tinha uma sala, uma cozinha e um banheiro e atendia 40 pessoas; hoje, são 180 alunos e a instituição é de médio porte.

image A professora Jucicleide Baía Nazaré comemora a melhoria dos índices de educação no município de Bujaru após ação do projeto (Igor Mota / O Liberal)

“Foi muito importante criar uma biblioteca e termos mais materiais didáticos. Nossos alunos não tinham nada, e o Amigos de Jipe forneceu tudo. Recebemos também 10 computadores e temos nossa sala multifuncional. Essas ações alteraram a vida da comunidade, não só na educação, mas na área social mesmo, na saúde. Eles têm vontade de ter melhorias de vida, muitos terminaram os estudos, já temos vários pais de família que terminaram o fundamental, tivemos alunos aprovados no ensino médio, é uma forma de garantir o futuro da comunidade”, declara a professora.

Biblioteca é construída

Já Fernando Silva, que mora no Marajó, perto da comunidade quilombola de Mangueiras, se uniu com a mãe, Fátima, para ajudar as crianças e os adolescentes a terem mais educação - estão construindo, há cinco anos, uma biblioteca que vai contar com livros dos mais variados assuntos e materiais didáticos. O objetivo, de acordo com ele, é melhorar os índices de educação no Arquipélago.

“Os Amigos do Jipe fizeram duas trilhas e viram a nossa necessidade. Eu já estava com o projeto para fazer e eles nos deram apoio. Vamos fazer a biblioteca para ocupar a mente dessas crianças, tenho certeza de que quanto menos crianças com a mente desocupada melhor, e a biblioteca está saindo. Temos livros e uma parte dos materiais didáticos, falta a finalização. Temos computadores também. Queremos trazer crianças e adolescentes para a escola”, avalia.

O voluntário diz que a “parte de educação é muito fraca” no Marajó, e que o projeto de incentivo à educação não envolve o poder público. A mãe de Fernando, Fátima, já foi professora na comunidade e em Soure e quer usar sua experiência para atender esses novos estudantes. A expectativa deles é melhorar a vida dos jovens a partir do conhecimento.

Falta engajamento

A maior dificuldade do grupo, na opinião de Djalma Alencar, é encontrar o engajamento de parceiros nos locais atendidos. “Algumas dificuldades são as doações da população em geral, que ainda é pouco, e a gente não divulga muito, só 1% do que é feito é publicado. Mas a maior dificuldade é implementar isso dentro de uma escola pública. Nossos exemplos de sucesso são porque os professores abraçaram o projeto. Isso é fantástico. Mas a escola em si, diretores, ninguém quer assumir a responsabilidade”, diz.

Amigos do Jipe

Por isso, a participação popular é tão importante para levar adiante o trabalho dos voluntários a outras cidades do Pará - como o grupo faz tudo por conta própria, precisa de mais pessoas atuando nas ações e também de mais doações. É comum que os itens escolares se tornem obsoletos antes mesmo de serem totalmente desgastados, e contribuir para uma destinação consciente desses produtos é importante, diz Djalma.

As doações podem ser feitas presencialmente, na sede do Amigos do Jipe, que fica na rodovia Arthur Bernardes, ao lado do Centro de Instrução Almirante Brás de Aguiar (Ciaba), na Pratinha, ou entrando em contato pelas redes sociais e, assim, os voluntários buscam os itens em qualquer lugar. Também é possível contribuir com valores em dinheiro.

Saiba como ajudar o projeto Amigos do Jipe

Doações de material escolar (cadernos, livros, canetas, lápis, borrachas, tesouras, cola, papéis avulsos, mochilas, estojos e outros itens, novos ou usados):

  • Sede do projeto (rodovia Arthur Bernardes, ao lado do Centro de Instrução Almirante Brás de Aguiar (Ciaba), na Pratinha, Belém) ou informando o melhor local

Doações de valores em dinheiro:

  • PIX: CNPJ 19.566.878/0001-17
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