Irmãos Batista foram 5 vezes ao Planalto fora da agenda oficial durante gestão Lula, diz jornal
Controladores do grupo J&F e conselheiros da JBS estiveram com membros do governo Lula entre 2023 e 2024

Controladores do grupo J&F e conselheiros da JBS, os irmãos Joesley e Wesley Batista estiveram ao menos cinco vezes no Palácio do Planalto, fora da agenda oficial, durante a atual gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As idas ao Planalto não registradas oficialmente ocorreram entre o início de 2023 e 2024, antes da reunião com Lula, em maio deste ano. As informações foram divulgadas pelo jornal Folha de S. Paulo, após obter os registros de entrada dos empresários no Palácio, por meio da Lei da Acesso à Informação.
Segundo a reportagem, em quatro dessas visitas, os irmãos Batista tiveram reuniões com membros do governo que não foram registradas nas agendas oficiais. Em outra ocasião, Joesley foi ao local sozinho, mas a presidência e os ministérios ainda não informaram quem o recebeu.
No atual governo petista, os empresários obtiveram ao menos uma vantagem: uma Medida Provisória, editada em junho, autorizou um socorro de R$ 450 milhões à Amazonas Energia. O valor será pago pelos consumidores na conta de luz. Os dois tiveram 17 encontros no Ministério de Minas e Energia antes de a MP ser assinada por Lula, segundo uma reportagem do jornal Estadão.
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A Âmbar Energia, empresa que pertence aos irmãos Batista - e que foi a primeira empresa habilitada pelo governo a importar energia elétrica da Venezuela para reforçar o abastecimento de Roraima - quer comprar a Amazonas Energia. A transferência está sendo avaliada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Atualmente, a Aneel tem uma vaga de diretor em aberto, a ser indicado por Lula e chancelado pelo Senado.
Encontros
Secretaria de Comunicação Social (Secom), Vice-Presidência e ministérios que atuam no Planalto foram questionados sobre encontros com os empresários nas datas registradas. Segundo a Secom, o conselheiro de Lula para assuntos internacionais e assessor da Presidência, Celso Amorim, teve dois encontros com os empresários. Esses eventos só foram incluídos na agenda oficial depois dos questionamentos do jornal.
O secretário do Programa de Parceria de Investimentos (PPI), Marcus Cavalcanti, também teve duas reuniões no Planalto com os controladores da J&F, mas esses encontros ainda não estavam na agenda até 13 de setembro.
Já a Casa Civil informou que os “representantes do grupo empresarial” fizeram uma “apresentação da carteira de investimentos do grupo no Brasil e exterior” durante as reuniões com o secretário do PPI. No entanto, o ministério não especificou quais negócios foram apresentados ou se as reuniões tiveram desdobramentos.
A Casa Civil argumentou que a falta de registro na agenda pode ser resultado de uma “falha de comunicação”, pois a equipe do PPI não trabalha no Planalto, enquanto o secretário “eventualmente” tem agendas na sede do Executivo.
Os registros de entrada também mostram uma visita de Joesley Batista ao Planalto em 8 de novembro, mas a Presidência e os ministérios que operam no Planalto afirmaram que autoridades da cúpula do governo não tiveram agendas com o empresário nessa data e não explicaram o motivo de sua visita.
Ainda conforme apuração da Folha de S. Paulo, os encontros com Celso Amorim ocorreram em 1º e 23 de fevereiro de 2024, mencionando apenas a presença de Joesley, apesar dos registros de entrada apontarem que Wesley também esteve no prédio na segunda data. Procurada, a Secom não esclareceu se ele participou da reunião. As reuniões com os empresários só foram incluídas na agenda de Amorim em 4 de setembro, um dia depois de a Folha questionar as entradas deles no Planalto.
Conforme divulgado oficialmente, os encontros tiveram como assuntos “visita de cortesia e temas de interesse da instituição”.
Em 27 de maio, os irmãos Batista retornaram ao Planalto para uma reunião com Lula, com o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, o CEO da JBS, Gilberto Tomazoni, e outros representantes do setor, como Marcos Molina, da BRF/Marfrig, para tratarem sobre doações de proteína animal para complementar cestas básicas para o Rio Grande do Sul. Eles entraram pela portaria principal, mas não houve registro no sistema do Planalto. O vídeo da entrada dos empresários mostra que eles não passaram pelo setor de credenciamento de visitantes.
Joesley e Wesley já haviam aparecido ao lado de Lula em ao menos duas ocasiões durante a atual gestão do petista, mas fora da sede do Executivo.
Escândalos de corrupção
No ano de 2017, os Batista foram personagens centrais do escândalo político que ameaçou o mandato de Michel Temer (MDB), depois da divulgação de uma conversa gravada por Joesley com o então presidente. Eles também já admitiram envolvimento em diversos casos de corrupção nos governos petistas, mas, agora negam e tentam anular a multa de R$ 10,3 bilhões assumida em acordo de leniência com o Ministério Público
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