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Dia da Mulher: Data reforça debate sobre respeito e representatividade

Mulheres aumentam presença em diferentes áreas, mas ainda precisam vencer desafios, como o preconceito e a desconfiança

Natália Mello
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Representar o gênero feminino em uma posição de destaque no contexto profissional ainda é um desafio diário para as mulheres, mesmo em pleno século XXI. A busca constante por ultrapassar obstáculos faz parte da rotina, e a quebra de preconceitos geram representatividade e inspiram novas trajetórias. Um exemplo disso é percebido pela advogada Anete Penna de Carvalho, procuradora da Procuradoria Geral do Estado (PGE), há quase 24 anos. Em 27 anos de carreira, já foi advogada em um dos maiores escritórios de advocacia do Pará, foi sócia de outro renomado escritório de Belém e professora do curso de Direito do Centro Universitário do Pará (Cesupa), e do Curso Preparatório para Procurador do Estado. Hoje ela atua como procuradora da Casa Civil do Governo Estado, um dos principais órgãos do Executivo estadual. Apesar das experiências e do conhecimento, sua trajetória é marcada por um início sob o olhar de questionamento.

“Foram várias situações, mas me marcou muito o período em que comecei a advogar. Ao me chamarem para entrar nas salas de audiências, notava, aquele olhar desconfiado e questionador, no sentido de ‘você é a advogada ou a estagiária?' A advogada jovem sofre pela falta de confiança, em virtude da falsa impressão da ausência de conhecimento e experiência. Mesmo como procuradora, tive dificuldade em atingir a credibilidade por ter ingressado nova na carreira”, declarou Anete. Sobre estar inserida em um ambiente predominantemente masculino, a procuradora, de 49 anos, cita a pioneira na advocacia feminina no Brasil, Myrthes Gomes de Campos, como inspiração.

“Foi a primeira mulher a falar em um Tribunal no Brasil. Tal história nos leva a refletir que apesar de passado mais de 100 anos de sua atuação, ainda existem pessoas que subestimam o nível do profissionalismo e desempenho de uma profissional, pelo único e exclusivo fato de ser mulher. Todavia, a mulher vem ganhando cada vez mais espaço no mundo jurídico, e a atuação de mulheres como Myrthes tem grande peso nos dias atuais, servindo de exemplo para cada desafio enfrentado pelo grupo feminino que compõe o meio jurídico”, analisa.

image "Mesmo como procuradora, tive dificuldade de conquistar credibilidade por ter ingressado ainda muito nova na carreira”, conta Anete Pena (Márcio Nagano / O Liberal)

Anete lembra a dificuldade de conciliar o papel de mãe com os sonhos de estudos. Durante o período de pesquisa e elaboração da tese do doutorado, em Portugal, ela engravidou da filha caçula – Anete tem duas meninas, uma de 20 e outra de 9 anos -, e enfrentou um período bem difícil. Três anos depois descobriu um aneurisma cerebral e encarou mais um tempo sem poder concluir esse sonho. “Após todos esses anos com o prazo suspenso para a entrega da tese, consegui defender na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e recebi o conceito aprovada, com distinção”, relembra.

A procuradora destaca o esforço contínuo por eficiência na missão de ser multitarefa, e diz que é movida a novos desafios, com um já sendo preparado para este ano. “Trabalhar com destaque na busca de ocupar sempre um novo espaço, ser mãe e esposa, sem deixar a feminilidade de lado. Ou seja, o desafio de ser forte sem perder a feminilidade. Para o futuro, existe a possibilidade de concorrer à vaga do desembargo pelo quinto constitucional da OAB-PA. O desafio é grande, tendo em vista que a vaga destinada à indicação pela OAB-PA nunca foi preenchida por uma mulher. Tenho recebido muitos incentivos e acredito que podemos nos oferecer como uma possibilidade dessa representatividade, que tanto defendemos pois serve de inspiração para muitas outras profissionais”, acrescenta.

image Sobre o maior desafio como mulher, a procuradora Anete Pena destaca a busca por eficiência na missão de ser multitarefa (Márcio Nagano / O Liberal)

 

Mulheres aumentam participação no empreendedorismo

De acordo com a Junta Comercial do Estado do Pará (Jucepa), 42,36% das empresas no Pará têm mulheres em seus quadros societários e de chefia, contra 57,64% formalizados por homens, somente em 2021. No mesmo ano, a quantidade de empresas abertas por mulheres do tipo MEI (Microempreendedor Individual) foi de 35.797 (56,6% do total), as Microempresas representam 8.521 (10% do total), a empresa de pequeno porte 2.718 (62,2% do total) e as sem porte definido foram 471 (30,2% do total).

Em 2021, MEIs liderados por homens tinham receita média 23% maior se comparado aos negócios liderados por mulheres. Além disso, do total de 132.807 empreendimentos formalizados no Pará, 80.933 (61%) são liderados por mulheres. Vale destacar ainda, de acordo com o Sebrae, que a atividade econômica com maior concentração de mulheres empreendedoras é a de tratamento de beleza, com 95% de presença feminina. Outros setores de destaque são varejo de confecção e acessórios (75% de empreendedoras mulheres) e comércio varejista de perfumaria e cosméticos (72% de mulheres empreendedoras).

Desafios não intimidam

Apesar disso, o comércio de mercadorias de produtos alimentícios tem menor representatividade feminina, com um percentual de 43%. Mas, diante desse mundo, Letícia e Débora Belarmino, de 30 anos e 33 anos, respectivamente, não se intimidaram. O que hoje se transformou em uma empresa de grande porte, que emprega cerca de 100 funcionários diretos e indiretos em quatro lojas – uma matriz, no bairro do Marco, e outras três em shoppings localizados na Região Metropolitana de Belém, começou apenas com o sonho de empreender e o porte de uma microempresa.

image Engenheira de produção, Letícia Belarmino conta que o empreendedorismo sempre esteve presente (Everaldo Nascimento / O Liberal)

“A gente completa 10 anos na semana que vem. Quando começamos, eu tinha 20 anos, era muito nova, não tinha noção do que poderia acontecer, mas o empreendedorismo sempre esteve muito presente na minha vida. Fazia doce para vender no colégio, depois no cursinho, vendia bijuteria, as meninas gostavam das minhas roupas na faculdade, desenhava e mandava fazer, nunca fiquei parada”, disse a engenheira de produção, Letícia. A jovem conta que o dinheiro obtido com o trabalho sempre foi uma consequência do movimento dela em direção a um propósito: o de ser bem sucedida.

Mas isso não significa que ela e a irmã não passaram por dificuldades. “Até para conseguir recursos em alguns locais, logo no início, foi um pouco difícil por sermos mulheres muito jovens. Quando chegavam as pessoas para conhecer o espaço perguntavam ‘quem são os donos?’. Quando a gente aparecia, não levavam a sério, e quando meu pai aparecia queriam conversar, como se não fossemos capazes de pensar em estratégia, em gestão, em logística, em como escolher uma tecnologia nova, dominar um novo sistema. Aquele olhar preconceituoso de que a mulher não é capaz de conquistar as coisas que o homem alcança”, explica.

Cenário começa a mudar

Mas, atualmente, Letícia sente que esse cenário vem mudando gradativamente e a resistência, mesmo que de forma ainda bastante discreta, vem dando espaço a um lugar de ocupação das mulheres. Embora ela considere uma tarefa difícil ser uma mulher empreendedora, a experiência dos últimos anos a transformou, e o poder de decisão passou a conferir mais confiança aos colaboradores e parceiros de maneira geral.

“Para as pessoas levarem mais a sério a gente, muitas vezes temos que ter uma conversa longa, para verem que somos capazes. Mas acho importante isso tudo que conquistamos, porque hoje, graças a Deus, vemos que as mulheres já vêm conquistando seu espaço. Temos mulheres abrindo seus negócios, e não sinto mais tanto essa dificuldade. Não sei se é porque a gente está há tanto tempo no mercado e por existirem bem mais mulheres à frente de seus negócios. Mas é muita luta, muito trabalho”, reforça.

Sem deixar de lançar o olhar sobre a perspectiva do gênero, Letícia conta que priorizam a contratação de mulheres na empresa, principalmente por levarem em consideração as dificuldades de conciliação de tantas tarefas conferidas à mulher. “Ser mulher, ter emprego, ser mãe, ter uma casa, sabemos que é difícil, e é por isso que 80% do nosso quadro é feminino”, diz. Apesar de ser considerado um case de sucesso, Letícia e a irmã não pararam, e o futuro promete trazer novos lugares para elas ocuparem. “Estamos nos estruturando internamente para daqui a um ano mais ou menos executarmos o projeto de expansão tanto no cenário estadual como de fora do Pará”, finaliza.

Conteúdo especial contará histórias de lutas femininas

Por ser uma data marcada por debates e manifestações que vêm para trazer luz ao debate sobre as lutas femininas, o dia 8 de março terá destaque no jornal O LIBERAL e nas demais multiplataformas com um conteúdo especial que trará a história de importantes nomes de mulheres paraenses. Com origem operária, o Dia da Mulher passou a ser lembrado por, anos atrás, neste mesmo dia e mês, várias mulheres - que trabalhavam em fábricas nos Estados Unidos - saírem às ruas para reivindicar melhores condições de trabalho e igualdade de direitos no ambiente profissional. A manifestação foi reprimida com total violência e, na ocasião, 130 ativistas foram assassinadas.

De lá para cá foram observados inúmeros avanços, graças ao protagonismo de mulheres que se posicionam e ocupam vários setores da sociedade: no mercado de trabalho, no serviço público e privado, em causas sociais, na educação e docência, na ciência, no meio ambiente e na mudança de configuração do lar. E nesse contexto, o caderno especial O Pará Se Faz com Mulheres Fortes traz depoimentos de oito mulheres, entre elas a chefe do laboratório de vírus respiratórios do Instituto Evandro Chagas, Mirleide Santos; a gerente de relacionamento com a comunidade da Vale, Silvia Cunha; a idealizadora do projeto Juventude Negra Periférica: do extermínio ao protagonismo, Lilia Melo; e o ícone da luta antirracista da Amazônia, Zélia Amador. O especial tem patrocínio da Vale e contará com demais conteúdos em multiplataformas, em Oliberal.com e nas redes sociais, com vídeos e imagens.

Mulher no mundo corporativo

Nelia DaLapa, diretoria de recursos humanos há sete anos da Hydro, que tem sede no Pará, afirma que mesmo no início de carreira, quando trabalhava em uma empresa de tecnologia em que havia equilíbrio em quantidade entre homens e mulheres, ela ficava incomodada com o desequilíbrio quando se tratava de cargos de chefia. “Aliás, a diretoria era formada apenas por homens”, lembra.

Sobre o mercado atual, Nelia observa avanços nas oportunidades, “principalmente no setor de serviços e tecnologia”. Mas ela admite que não houve uma mudança tão substancial quanto esperava. "Tivemos avanços importantes, porém ainda há muito a ser feito para tornar o mercado de trabalho mais inclusivo para as mulheres”, aponta.

Para a diretoria de recursos humanos da Hydro, algo que evoluiu nos últimos tempos é a chegada de um maior número de mulheres em posições de liderança. "Vejo empresas globais lideradas por mulheres”, afirma. Nelia destaca também que as mulheres são maioria em muito cursos universitários, o que mostra que elas estão se preparando.

Nelia DaLapa, como responsável pelos recursos humanos na empresa onde trabalha, tem a possibilidade de contribuir, “desafiando os líderes a dar oportunidades para mulheres em áreas-chave da organização, criando programas de incentivo à contratação de profissionais e dando condições para que as mulheres possam trabalhar e também construir família, com licença maternidade estendida, por exemplo”, revela.

Mas a gestora de recursos humanos reconhece que há ainda muitos desafios a serem vencidos no que diz respeito à equidade de gênero. “Muitos vieses inconscientes precisam ser superados. Ainda existe, por exemplo, resistência à contratação de mulheres para trabalhos mais operacionais. A resistência está, muitas vezes, na própria família das candidatas. Temos desenvolvido diversas iniciativas para promover um ambiente mais inclusivo para as mulheres e estamos investindo no seu desenvolvimento”, explica Nelia.  

Ela destaca com entusiasmo a existência de um processo de trainee apenas para mulheres na Hydro, o “Viva Seu Talento 2022”. “Eu sou árdua defensora desse programa, e acredito que esse seja um passo na direção que buscamos, de mais igualdade e oportunidade para as mulheres desenvolverem aqui o seu potencial”, diz. Nelia espera que, com essas iniciativas e a ocupação dos espaços pelas mulheres nas corporações, sejam resolvidas algumas distorções do mercado, como o fato de o salário médio de mulheres ainda ser menor do que o de homens.

Programa para pessoas que se identificam com o gênero feminino

O programa tem foco na candidatura de pessoas que se identificam com o gênero feminino, para garantir, assim, a formação de equipes que reflitam cada vez mais a sociedade – atualmente, 52% da população brasileira são mulheres. Pautado nos pilares de coragem, cuidado e colaboração, o programa recebe inscrições até esta segunda-feira (7) e poderão ser feitas pelo site (traineehydro2022.com.br).

“A Hydro acredita que uma equipe mais diversa é fundamental para resolver desafios complexos e criar as inovações necessárias para apoiar a ambição da organização de ser um líder industrial rentável e sustentável. A implantação deste programa de trainee focado nos talentos das pessoas identificadas com o gênero feminino faz parte de uma série de ações que temos desenvolvido para promover a diversidade, em linha com as diretrizes do nosso programa de Diversidade, Inclusão e Pertencimento (DIP)”, afirma Nelia Lapa.

O programa tem a duração de dois anos e fará a seleção em quatro etapas: testes de idiomas, comportamento, dinâmica e case on-line, além de entrevistas. As aprovadas no Viva Seu Talento 2022 poderão atuar nas plantas da refinaria Alunorte, em Barcarena, na Hydro Paragominas, nos escritórios da Hydro em Belém (PA) e Rio de Janeiro (RJ), e na Hydro Extrusão, em Itu (SP), Utinga (SP) e Tubarão (SC). A iniciativa faz parte do projeto de DIP, um compromisso da companhia em promover uma mudança positiva na sociedade. O objetivo da Hydro é aumentar a representação de empregadas para 25% até 2025.

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