Varíola dos macacos: o que se sabe sobre a imunização contra a doença

Com a chegada das vacinas no Brasil, profissionais de saúde serão o grupo prioritário a ser imunizado, por causa do maior risco de contaminação pela doença, afirma o Ministério da Saúde

Laís Santana
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Atualmente existem, no mundo, duas vacinas em uso contra a varíola dos macacos: a Jynneos, fabricada pela farmacêutica dinamarquesa Bavarian Nordic, e a ACAM2000, fabricada pela empresa multinacional americana Emergent BioSolutions. Embora o Ministério da Saúde não confirme qual imunizante será aplicado no Brasil, o que se sabe é que o Brasil conseguiu 50 mil doses em uma remessa destinada aos países das Américas intermediada pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). O lote será suficiente para imunizar cerca de 25 mil pessoas, pois o esquema vacinal é de duas doses com intervalo de cerca de 30 dias entre elas.

A  bióloga e pesquisadora da Seção de Virologia do Instituto Evandro Chagas (IEC), Mônica Silva, explica que essas vacinas foram fabricadas contra a varíola humana (smallpox) com a intenção de ser utilizada em determinadas situações, como numa reemergência da doença. Porém, a vacina foi testada contra o vírus da varíola de macaco conferindo proteção contra a doença.

"No início do processo de erradicação da varíola foram utilizadas vacinas com vírus vivo da vaccínia bovina. Posteriormente, foram desenvolvidas as vacinas com vírus atenuado e que podiam ser congeladas, um fator importante para as estratégias de imunização. Ao longo do tempo essas vacinas foram sendo aperfeiçoadas utilizando antígenos virais mais seguros, como no caso do MVA (modified virus Ankara) usado na produção da vacina MVA-BN® (daí sua denominação)", afirma Mônica Silva. 

De acordo com a pesquisadores, a vacina é baseada em um vírus vaccínia incapaz de se replicar no corpo humano, porém capaz de induzir resposta imune. A vacina induz tanto atividade celular como produção de anticorpos. Os anticorpos presentes em indivíduos imunizados que entrarem em contato com vírus semelhantes ao usado na fabricação da vacina (vírus da varíola do macaco, da varíola e vaccínia), irão imediatamente reconhecer estes vírus como corpos estranhos e, juntamente com outras componentes do sistema imune, irão eliminar o vírus invasor. Desta forma temos a proteção contra a infecção.

A produção do imunizante ocorre em pequena escala e fica na dependência da disponibilidade de insumos que na maioria das vezes são fabricados em países como a China e a Índia. A tecnologia da produção das vacinas utilizadas contra monkeypox já está bem estabelecida, e portanto, não pode ser considerada de produção difícil, haja vista que a vacina já está em comercialização há anos.

"Ainda não se sabe sobre a eficácia das vacinas contra a varíola de macaco que estamos vivendo atualmente, porém há vários casos de pessoas vacinadas contra a varíola há décadas atrás, terem desenvolvido a varíola de macaco. Apesar disso, estudos anteriores demonstraram que as vacinas de 3ª geração produzem anticorpos neutralizantes tão eficazes quanto às vacinas utilizadas à época da erradicação da varíola", pontua Silva

O esquema vacinal dos imunizantes é similar a outras vacinas. No caso da MVA-BN® (vacina mais comercializada), a vacina é aplicada por via subcutânea (sob a pele) e compreende um esquema de duas doses, podendo ou não ter dose de reforço. Pessoas que não tenham sido previamente vacinadas contra varíola humana, varíola de macaco e vaccínia devem receber duas doses de 0,5 ml. A segunda dose deve ser administrada em, pelo menos, 28 dias após a primeira. Se necessário, pode ser aplicada a dose de reforço (dose única ou duas doses de 0,5 ml). Pessoas vacinadas contra a varíola humana, varíola de macaco ou vaccínia recomenda-se a aplicação de apenas uma única dose de 0,5 ml. Pacientes imunocomprometidos, mesmo que tenham sido imunizados previamente contra varíola humana, varíola de macaco e vaccínia, devem receber duas doses.

A bióloga e pesquisadora do IEC reforça que a vacina MVA-BN é recomendada para indivíduos com idade igual ou acima de 18 anos. Sua segurança em indivíduos abaixo desta idade ainda não foi testada. Pode ser administrada em pacientes imunocomprometidos ou que tenham risco de desenvolvimento de reações adversas às vacinas tradicionais contra varíola (baseada em vírus replicantes), pacientes com eczemas ou outras condições esfoliativas da pele. Já a ACAM2000® é contraindicada para indivíduos imunocomprometidos, crianças menores de 12 meses, grávidas, pacientes com doença cardíaca, eczemas entre outras condições.

"Até o momento, a OMS não recomenda a vacinação em massa da população contra a varíola do macaco, ficando limitada a pessoas com risco de exposição ao vírus", acrescenta Mônica Silva. 

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