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Tavi: procedimento trata doença cardíaca sem cirurgia

Técnica já foi incorporada ao SUS, mas ainda é acessível apenas no sistema particular

Camila Guimarães
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No Brasil, estima-se que 3% dos idosos com mais de 70 anos, e 4% dos acima de 85 anos vão desenvolver estenose valvar aórtica - uma doença caracterizada pela disfunção de uma válvula do coração chamada aorta. Cerca de 50% dos pacientes com esta condição morrem em um ano. Há cinco anos, no Pará, o único tratamento era a cirurgia de peito aberto, até que, em 25 de maio 2017, foi realizado pela primeira vez um procedimento menos invasivo que já vinha revolucionando a cardiologia no mundo: o Implante Valvar Aórtico Transcateter, conhecido pela sigla em inglês “Tavi”.

O cardiologista clínico e intervencionista Arilson Rodrigues, primeiro médico a realizar o procedimento em Belém, explica que a técnica consiste na implantação de uma prótese da válvula aórtica sem a necessidade de cirurgia, o que diminui bruscamente o índice de mortalidade dos pacientes, melhorando a recuperação e a qualidade de vida:

“Nós usamos um catéter para levar a prótese da válvula aórtica até o coração do paciente, posicionamos em cima da válvula doente e realizamos a implantação. A prótese fica no coração do paciente, fazendo o trabalho da válvula que não funcionava mais corretamente”.

Arilson explica que o procedimento revolucionou a cardiologia, desde quando foi criado, em 2002, na França. No Brasil, o primeiro procedimento de Tavi foi feito em 2010, em São Paulo. Hoje, já são mais de 18 mil casos no país e cerca de 60 realizados no Pará, em Belém.

“Mais de 75% dos pacientes com estenose valvar aórtica vão a óbito em menos de dois anos. A maior parte deles são idosos a partir de 75 anos de idade, que geralmente já têm outras doenças associadas e são muito frágeis. Uma cirurgia de peito aberto nesses casos têm riscos elevadíssimos. Mas com o Tavi, esses pacientes passaram a ter uma nova alternativa”, diz o cardiologista.

Por nota, o Hospital Beneficente Portuguesa informou que trouxe, de São Paulo e pela primeira vez em Belém, "...o médico cardiologista intervencionista, Dr. Fábio Sandoli Jr., que trouxe mais inovação em procedimentos de alta complexidade com a chamada TAVI, que é a instalação de válvula cardíaca, realizada sem necessidade de intervenção de peito aberto. A cirurgia foi realizada junto à equipe médica do Serviço de Hemodinâmica da BP, com os doutores Bruno Faillace, Pedro Teixeira, Cleiton Ramos, Chehden Bitar e Caio Maneschy".

Primeiro paciente de Tavi no Pará diz que nasceu de novo

Em Belém, o primeiro paciente a ser submetido ao procedimento foi o aposentado Carlos Alberto Figueiredo de Lima, de 77 anos, que esta semana comemorou cinco anos desde a intervenção que salvou sua vida: “Antes de fazer o procedimento, às vezes eu me sentava ali na frente de casa e sentia como se estivesse morrendo. Mas depois do Tavi, eu me senti muito bem. Parece que eu tinha renascido”.

Carlos Alberto tinha 72 anos quando passou pelo procedimento. Ele conta que já tinha problemas de saúde que diminuíam suas possibilidades de tratamento cirúrgico no momento: “Quando fui à consulta, o médico disse que eu era uma bomba relógio. Quando ele viu meus exames, ele disse ‘eu não sei como você está vivo’”.

O cardiologista Arilson Rodrigues lembra que Carlos Alberto já havia passado por uma cirurgia com abertura de tórax cinco anos antes, para realização de outro procedimento conhecido como ponte de safena. Naquele momento, Carlos Alberto estava evoluindo com insuficiência cardíaca: “Ele ficava inchado, com falta de ar e fazia várias vindas ao pronto-socorro, com várias internações. Ele precisava trocar a válvula aórtica urgentemente, mas, como ele já tinha feito uma cirurgia a peito aberto, o risco de ele fazer novamente era muito maior”.

Quando soube que havia a possibilidade de fazer o implante da prótese aórtica por meio da técnica até então inédita em Belém, Carlos Alberto disse que não teve medo: “Eles me disseram que eu ia ser famoso porque eu ia ser o primeiro”, relembra bem-humorado. “Quando o médico me avisou do procedimento ele disse que tinha ‘aparecido uma luz no fim do túnel'”.

A filha de Carlos Alberto, a advogada Marina Santos, de 50 anos, diz que o procedimento mudou completamente a vida do pai: “Ele tinha uma fisionomia doente. Só de levantar da cama parecia que ele tinha corrido uma maratona. Hoje, ele sobe e desce as escadas todos os dias, às vezes vai até o supermercado caminhando… É outra vida”.

image Seu Carlos foi o primeiro paciente de Belém e está bem de vida e de saúde. "Nasci de novo", diz ele, fã de pão careca. (Thiago Gomes / O Liberal)

Procedimento foi incorporado ao SUS e já tem cobertura obrigatória nos planos de saúde

A partir do dia 29 de junho do ano passado, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) avaliou a inclusão do Tavi no rol dos tratamentos disponíveis no sistema público de saúde, “levando em consideração aspectos como eficácia, acurácia, efetividade e a segurança, além da avaliação econômica comparativa dos benefícios e dos custos em relação às tecnologias já existentes e o seu impacto orçamentário” (Ministério da Saúde).

Entretanto, o cardiologista Arilson Rodrigues explica que, atualmente, o procedimento não está disponível nos hospitais públicos: “Ele tem um custo de mais de 140 mil reais, e o SUS só cobre 29 mil reais, por isso, atualmente ele só é feito nos grandes centros de pesquisa e ensino, em São Paulo, por exemplo”,  lamenta.

A Secretaria de Saúde do Estado do Pará (Sespa) foi acionada para esclarecer sobre as perspectivas de realização do Tavi por meio da rede pública, mas, até o momento, não retornou o contato.

Em Belém, até então, o procedimento só é acessível por meio do sistema de saúde privado, sendo de cobertura obrigatória nos planos de saúde desde sua inclusão no rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) em 1º de março de 2021.

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