Remadores recolhem lixo da Baía do Guajará e usam canoagem como instrumento de transformação social

Todos os materiais recolhidos são levados à uma cooperativa que trata de forma adequada.

Amanda Martins

A falta de cuidado de parte da população com o despejo inadequado de lixo tem causado poluição nas águas da Baía do Guajará. Não há pouco tempo tem sido comum encontrar sacolas plásticas, garrafas pets e papelão boiando pelos rios, que, ou caíram de embarcações ou foram descartadas pelos próprios moradores das redondezas. Esse desrespeito à natureza nas águas das praias e furos de Belém, é uma triste realidade ainda pouco discutida na sociedade.

Um dos objetivos do Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado na última segunda-feira (5), é sensibilizar a opinião pública quanto à valorização do meio ambiente. Se por um lado há quem não se importe, de outro, tem um grupo de canoeiras buscando trabalhar uma espécie de “canoagem ecológica”, unindo o esporte à responsabilidade socioambiental.

A turma tem uma base próximo ao Complexo Ver-O-Rio, no bairro do Umarizal, e costuma realizar atividades durante e aos finais de semana, saindo sempre da famosa ‘Prainha’. No último sábado (3), foi feito um dos treinos, que costumam causar boas ações para o meio ambiente.

O advogado Antônio Fernandes, 28, é um dos praticantes do grupo de canoagem Caruanas, e conta que sempre gostou de atividades que envolvessem “estar na água”. Ele praticou natação por muitos anos, mas achava um esporte solitário. Ao ter contato pela primeira vez com o rio, se encantou e conheceu a remar há quatro anos.

image Um grupo de canoeiros buscam trabalhar uma espécie de “canoagem ecológica”, unindo o esporte à responsabilidade socioambiental. (Tarso Sarraf)

“O meu dia começa muito pior se eu não for remar, enfrento com mau humor e fico mais estressado”, disse sobre o corpo sentir falta das atividades que são geralmente feitas por ele às quartas e sextas-feiras.

Além de exercitar a consciência corporal, Antônio disse ter ganhado ao longo dos anos a social também. Isso porque, os participantes são habituados a conciliar a prática esportiva com a coleta de lixos e resíduos encontrados na Baía do Guajará e no Rio Guamá, onde geralmente navegam.

“A gente já passou por algumas situações que não gostaríamos de ter visto no rio. Uma vez fomos para a Base Área e, ali, tem uma empresa portuária com uma renda de contenção. Ela se rompeu e nós encontramos caixa, plástico, papelão. Toda a rede de esgoto estava saindo, fora o forte odor”, relembrou pesadamente o advogado.

Antônio mencionou ser comum encontrar óleo das embarcações na beirada do rio. As roupas, sapatos, isopor e resto de frutas, por conta da Feira do Ver-O-Peso ser próximo, são encontrados e coletados pela equipe.

“Tem muita latinha de cerveja no rio e não é o lugar onde ela deveria estar. Não se parece que aquele lixo foi deixado ali por acaso, parece que alguém simplesmente jogou e foi sendo levado. Não afeta só essa área, porque o rio vai caminhar e pode levar até Mosqueiro”, complementou o advogado sobre a falta de conscientização das pessoas.

População pode estar ingerindo peixe com sabor de plástico

A contaminação da flora não é apenas a única consequência que o descarte irregular do lixo pode causar. O advogado também chama atenção para o quanto a fauna pode ser prejudicada.

“O pessoal fala muito mal da sacola plástica por conta das tartarugas, que confundem com água-viva, que faz parte da dieta delas. A primeira atitude dela é comer a sacola, como ela não vai conseguir engolir, morre sufocada”, explicou Antônio.

Trazendo para a realidade paraense, o advogado cita o quanto não é incomum abrir um peixe e encontrar “alguma coisa dentro”, mas que isso é pouco visto porque as pessoas consomem ou o pescado nos restaurante ou compram “bonitinho” e limpo.

Efeito dominó do bem

A publicitária Ingrid Bittencourt, 30, pratica a canoagem há dois anos. Para ela, foi muito natural aliar o esporte ao cuidado com o meio ambiente, principalmente porque, quando se começa a remar se ganha um “olhar sustentável”, provocando a sensação de querer cuidar da natureza e adotar atitudes sustentáveis.

image Ingrid Bittencourt pratica a canoagem há dois anos. Para ela, foi muito natural aliar o esporte ao cuidado com o meio ambiente. (Tarso Sarraf)

“Passamos a querer um ambiente limpo não só para a gente quanto para as futuras gerações. A gente acaba tendo uma consciência a mais tanto de recolher o lixo que a gente acha na água quanto de ter mais controle do nosso consumo”, disse Ingrid, acrescentando que todos buscam se ajudar de alguma forma.

Foi participando das aulas que a funcionária pública Renata Valena dos Santos de Sousa, 36, passou também a aprender a ter atitudes consideradas mais ecológicas, como buscar reciclar o lixo. “Uma das instrutoras batia muito na tecla: ‘vamos reciclar nosso lixo que pode ser dinheiro para outras pessoas’. Lá em casa, eu brigo porque naquela correria e comodidade a gente acaba não fazendo o certo”, disse Renata.

image Renata Valena: 'mesmo sabendo que a atitude dela é "pequena" perto do lixo crônico, a gente se sente feliz por fazer a diferença'. (Tarso Sarraf)

A funcionária pública é moradora da Avenida Augusto Montenegro, mas se desloca aos sábados para participar da atividade executada, que ocorre em outro bairro. Mesmo sabendo que a atitude dela é "pequena" perto do lixo crônico, Renata se sente feliz por fazer a diferença.

Lixo recolhido é levado a uma cooperativa para reciclagem

Não existem números exatos de recolhimento do lixo que são retirados pelo grupo de caieiras Caruanas, segundo a instrutora Luciana Quintana, 41. Ela é uma das sócias do projeto e diz que se for juntar tudo o que recolhido a cada remada dá “muita coisa”.

image A instrutora Luciana Quintana diz que 'não existem números exatos de recolhimento do lixo que são retirados pelo grupo de caieiras Caruanas'. (Tarso Sarraf)

Apesar de já terem encontrado objetos grandes, como por exemplo, sofás e geladeiras, próximo a Ilha das Onças, em Barcarena, onde o grupo também realiza remos, os materiais que são recolhidos pertencem aos "recicláveis”. E é justamente esse o destino deles após o fim das atividades.

“Doamos para a Cooperativa Belém. Dependendo da quantidade de lixo que nós doamos, podemos enviar para lá ou pedimos para recolher”, explicou Luciana. O espaço costuma dar o destino adequado levando o produto a um novo ciclo de reaproveitamento.

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