Pandemia prejudica cumprimento de vacinação de crianças e adolescentes
Na Grande Belém, pais de crianças e adolescentes relatam contratempos para manter exames e calendários vacinais em dia

Manter em dias os exames e o Calendário Vacinal da Criança na pandemia da covid-19 tem sido mais um verdadeiro desafio para pais, mães e responsáveis dos bebês, das crianças e dos adolescentes que vivem na Grande Belém. Embora seja necessário para ajudar na diminuição de infecções pela covid-19, a situação se agrava, ainda mais, em tempos de lockdown, já que diversos espaços de saúde, como Unidades Básicas e Estratégias da Família, estão voltadas para o combate da pandemia ou contam com quantitativo de pessoal e horários reduzidos. Acontecem ainda situações em que os espaços não dispõem de todas as vacinas disponíveis às crianças ou, até mesmo, estão fechadas para reforma superlotando outros espaços de atendimentos.
A auxiliar de escritório Nádia Alice Ferreira, 38 anos, que mora no bairro Levilândia, em Ananindeua, é mãe da pequena Noemi Ferreira, que tem 50 dias de nascida. Ela conta que, desde que a menina nasceu, recebeu duas vacinas e fez o Teste do Pezinho, tudo na maternidade. Porém, não conseguiu ainda confirmar se a menina precisa receber outras vacinas nem a marcação à realização dos Testes da Orelhinha e do Olhinho.
“Na maternidade ela recebeu a BCG ID e Hepatite B, e fez o Teste do Pezinho. Mas não sei quais são as outras vacinas que ela precisa, pois até o acompanhamento com a médica está prejudicado com a pandemia. Já fui na Unidade da Cidade Nova 8 e está fechada. Fui também na Unidade do Levilândia, meu bairro, e na Paulo Frota, na Cidade Nova 3, elas estão abertas, mas não têm vacinas. Na maternidade em que ela nasceu tem o Teste do Olhinho, mas eu preferia confirmar um lugar para fazer também o Teste da Orelhinha, para sair de casa uma vez só e resolver as duas coisas juntas, porque a gente tem que pagar caro para apanhar carro por aplicativo e também sentimos receio de sair toda hora por conta da covid-19. Eu sei que a situação de andar por aí é arriscada, mas também ficamos preocupados com o atrasado no Calendário de Vacinação e os exames dela”, afirma Nádia, que está desempregada.
O autônomo Cláudio Freitas Pinheiro, 53 anos, e a esposa Flávia Pompeu Pinheiro, 40 anos, são pais de Heitor de Sales Pinheiro, de quatro meses, e moram no Centro de Ananindeua. Eles também enfrentaram dificuldades para encontrar vacinas à criança desde janeiro de 2021, isto é, mesmo antes do lockdown.
“O grande problema é que a gente tem que contar com a sorte, primeiro, para saber se tem vacina. Só para ter uma ideia ele se vacinou em três Unidades de Saúde diferentes. A Unidade da Cidade Nova 8 está fechada para reforma. A Unidade da Cidade Nova 4 está em reforma, mudou de prédio sem avisar as pessoas, tinha funcionários, mas não tinha vacina. Na Unidade da Cidade Nova 6 só entregam 20 fichas, à tarde não funciona, porque há falta de funcionários, não tinha vacina Rotavírus e mandaram voltar em 20 dias. Em 15 dias, fui lá e ainda não tinha. Aí fui na Unidade perto da Praça da Bíblia, onde conseguimos a Rotavírus, mas ele já estava com pouco mais de dois meses”, reclama o pai de Heitor.
A mãe do menino relata ainda que quando Heitor recebeu a primeira dose da vacina Pneumocócica junto com a Pentavalente teve reação e passou a fazer a segunda dose da Pentavalente no Hospital Ofir Loyola, onde receberá a terceira também.
“Então, hoje ele só precisa fazer as vacinas VIP e Pneumocócica. Mas a orientação no hospital é esperarmos acalmar mais a pandemia da covid-19, para evitar infecção por esta doença, já que essas são vacinas que Heitor pode esperar. É o que vamos fazer, porque neste momento é melhor ficarmos em casa, porque íamos para o hospital, mas ficávamos apavorados”, afirma Flávia Pinheiro.
Pediatra destaca importância de manter vacinação em tempo adequado. Porém, orienta que responsáveis aguardem o término do lockdown
Para a pediatra Mariane Franco, docente no curso de Medicina da Universidade do Estado do Pará (UEPA), mesmo nesse tempo da pandemia da covid-19, o ideal seria que a criança e os adolescentes pudessem ter o Calendário Vacinal no tempo adequado, porém, ela reconhece que o momento é bem atípico e orienta que os pais e responsáveis por eles esperem pelo menos terminar o lockdown, evitando, assim, a infecção pela covid-19.
“Todos os esforços das Unidades de Saúde da Família e Unidades Básicas de Saúde neste momento estão voltados para a vacinação contra a covid-19, que tem levado muitas vidas. Muitas estão ainda menos quantidade de funcionários devido deslocamentos para os espaços de vacinação nos municípios, em parceria que envolve o estado e os municípios, para dar conta da imunização da população. Há funcionários também dos grupos de riscos que não estão indo para as Unidades. Quando terminar o lockdown, deveremos retomar um pouco mais à ‘normalidade’ e então as mamães e os papais poderão cuidar melhor das suas crianças com a realização de vacinação e exames. Neste momento, não há risco maior que a infecção pela covid-19. Os bebês não podem nem usar máscaras para se deslocar, as grávidas ainda não têm indicação à vacina da covid-19 e as mães, que estão no puerpério, precisam descansar”, explica a pediatra.
Ela destaca que único teste que tem necessidade de ser feito na primeira semana de vida do bebê é o do Pezinho, além das vacinas BCG ID e Hepatite B. “Estes já são feitos normalmente na maternidade. Os outros testes e vacinas da criança, do segundo ao quarto mês, dão para esperar mais um pouquinho, pelo menos até terminar o lockdown”.
Ainda na pandemia, mesmo antes do lockdown, ela informa ainda que estão em falta em diversas cidades brasileiras e no Pará as vacinas da Febre Amarela, Tríplice Bacteriana e Pentavalente.
“Essas vacinas estão em falta em virtude também do Ministério da Saúde estar com forças voltadas à vacina da covid-19. Como estamos vivendo um período muito difícil, daqui a pouquinho elas deverão estar de volta, abastecendo os Postos de Saúde para as famílias se vacinarem com tranquilidade”.
Contudo, a docente da UEPA frisa que é muito importante a vacinação para a saúde e prevenção de várias doenças. “Além de ser uma demonstração de cuidado e amor com as crianças e os adolescentes. Recomendamos que, a cada consulta ao pediatra, os responsáveis levem a Carteira de Vacinação para checagem e orientação do especialista”, enfatiza a pediatra Mariane Franco.
Prefeituras
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma), neste período de pandemia, mesmo agora no lockdown, alguns serviços essenciais oferecidos nas Unidades Básicas de Saúde do município de Belém foram mantidos. É o caso dos atendimentos de pré-natal, pediatria, Teste do Pezinho e imunização. A Sesma informou que, nas UBS da Marambaia, Terra-Firme e Juru[1]nas, onde começaram a funcionar as Clínicas de Campanha para o atendimento dos casos da covid-19, parte dos profissionais foram deslocados para dar suporte. “Situação que será normalizada a partir de segunda-feira, 29”. A Sesma reforça que fora esses casos pontuais, os serviços essenciais estão com atendimento normal nas demais unidades de saúde do município.
A Secretaria Municipal de Saúde de Ananindeua (Sesau) informa que o município possui 62 Unidades Básicas de Saúde (UBS’s). “Desse total, apenas 8 unidades foram usadas como pontos de vacinação contra a covid-19, sem causar prejuízo a quaisquer outros calendários vacinais”. Sobre as salas de vacinação de rotina das UBSs, a Secretaria afirma que elas estão funcionando normalmente e com estoque suficiente para atender à demanda, exceto as UBSs Paulo Frota, Cidade Nova 8 e Guajará, que estão passando por manutenção. Quanto ao atendimento pediátrico, a Sesau garantiu que as consultas ocorrem normalmente e que o acompanha[1]mento de crianças recém-nascidas é feito sob solicitação médica e agendamento.
Já a prefeitura de Marituba, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), informou que não há falta de vacinas que compõem a carteira de vacinação infantil, mesmo em período de pandemia. “Informamos também o município conta com atendimento pediátrico e ginecológico nas duas Unidades Básicas de Saúde de Marituba – UBS Nossa Senhora da Paz e UBS Gilson Ruffino – que funcionam como porta de entrada do Sistema Único de Saúde afim de desafogar outros atendimentos como emergências e hospitais”.
Calendário de Vacinação
Criança e adolescentes, desde o nascimento até 19 anos de idade
Vacinas e idades:
BCG ID - Ao nascer
Hepatite B - Ao nascer, aos dois, quatro e seis meses de idade
Adolescentes não vacinados deverão receber três doses
Rotavírus - Aos dois e quatro meses
DTP/DTPa - Aos dois, quatro, seis e quinze meses, e de quatro a seis anos
dT/dTpa – de treze aos quinze anos
Hib - Aos dois, quatro, seis e quinze meses
VIP/VOP - Aos dois, quatro, seis e quinze meses, e de quatro a seis anos
Pneumocócica conjugada - Aos dois, quatro, seis e doze meses
Meningocócica C e A,C,W,Y conjugadas - Aos três, cinco, doze meses; de quatro a seis anos, aos onze e doze anos e aos dezesseis anos
Meningocócica B recombinante - Aos três, cinco e doze meses
Adolescentes não vacinados deverão receber duas doses
Influenza – A partir dos seis meses de idade
SCR/Varicela/SCRV - Aos doze e reforço entre quinze meses e quatro anos
Adolescentes não vacinados deverão receber duas doses de ambas as vacinas
Hepatite A - Aos doze e dezoito meses
Adolescentes não vacinados deverão receber duas doses
HPV - Meninos e Meninas, a partir dos nove anos
Febre amarela - A partir dos nove meses de idade e um reforço aos quatro anos
Uma dose para os não vacinados previamente
Dengue - Para crianças e adolescentes a partir dos nove anos de idade com infecção prévia comprovada.
Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria – SBP.
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