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Norte lidera mapa da fome com 45,2% das famílias em situação de insegurança alimentar no Brasil

Da população que convive com a fome na região, a maioria (2,6 milhões) está no Pará. A taxa de paraenses que não têm acesso a alimentos em quantidade suficiente é de 30%

Fabyo Cruz
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Com 45,2% da população, o Norte lidera o ranking de domicílios com as formas mais severas de insegurança alimentar, ou seja, moderada ou grave, segundo dados divulgados, na última quarta-feira (14), pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Penssan). Da população que convive com a fome na região, a maioria (2,6 milhões) está no Pará. A taxa de paraenses que não têm acesso a alimentos em quantidade suficiente é de 30%.

Em domicílios com crianças de dez anos, o Pará figura o sexto lugar com 53,4% de famílias enfrentando insegurança alimentar grave ou moderada, aponta a nova edição do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, II Vigisan. Pela primeira vez os dados da pesquisa são apresentados por estados. Dos 12,4 mil domicílios pesquisados no Brasil, 502 são de lares paraenses.

image Dos 12,4 mil domicílios pesquisados no Brasil, 502 são de lares paraenses (Igor Mota/O Liberal)

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) classifica o problema em três níveis denominados de insegurança alimentar: leve, quando existe a preocupação com a quantidade, bem como com a qualidade dos alimentos; moderada, se existe limitação na quantidade de alimentos; e grave, quando existe a fome decorrente da real falta de alimentos.

Na quinta-feira (15), um dia após a divulgação da pesquisa, Antônio da Silva, 65 anos, morador do bairro do Jurunas, na periferia de Belém, saiu de sua casa para almoçar no Restaurante Popular Desembargador Paulo Frota, localizado na Campina, no centro da cidade. Até então, tudo que ele havia ingerido em sua casa era um café preto. “Aqui é uma saída pra gente almoçar né. Com a situação das coisas, alta inflação, tudo caro, o pobre precisa vir pra cá porque se não passa forme”, desabafou.

image O público do restaurante popular é formado, em sua maioria, por pessoas em situação de rua, idosos e trabalhadores do Centro Comercial (Igor Mota/O Liberal)

Antônio está desempregado e, atualmente, mora com a irmã e o cunhado, que também não têm emprego. Ele diz que para não dar mais trabalho aos familiares, todos os dias enfrenta a fila do Restaurante Popular para comprar a refeição que custa R$2,00. Com o almoço garantido, ele diz que a alimentação da noite é um mistério. “Não sei o que vou jantar hoje à noite, deixo sempre às graças de Deus, ele que vai decidir, nem que seja um café com bolacha”, comentou.

O público do restaurante popular é formado, em sua maioria, por pessoas em situação de rua, idosos e trabalhadores do Centro Comercial. Cada pessoa pode repetir uma vez a refeição. O local é uma política de segurança alimentar realizada pelo Banco do Povo de Belém, da prefeitura. O serviço é prestado por meio da empresa contratada Nutri Brasil. Diariamente, são ofertadas 1.100 refeições prontas. O custo de cada refeição é subsidiado em 78%, com isso o usuário paga R$ 2,00 pela unidade, enquanto a prefeitura arca com o custo unitário de R$ 7,10.

Maria das Graças, 62 anos, também aguardava na fila do restaurante popular para garantir o almoço. A idosa reside temporariamente com a irmã em uma casa no bairro de Fátima, após sua residência pegar fogo. “Eu não tenho filhos e nem marido, também não sou aposentada. Sobrevivo com o dinheiro do Auxílio Brasil, mas não dá pra pagar tudo só com isso. Então costumo vir aqui para almoçar, às vezes vou a um restaurante que entrega comidas pras pessoas, não são restos, são comidas que sobraram no dia”, disse a idosa.    

 

Razão da insegurança alimentar

 

Os principais fatores que podem explicar a elevada prevalência da insegurança alimentar no Pará são a renda per capita e a baixa escolaridade da população, afirmou Naiza Sá, professora da faculdade de nutrição da Universidade Federal do Pará (UFPA). Outros fatores também são agravantes, diz a especialista. “Além disso, a gente pode citar a produção de alimentos que é voltada para o exterior, para a exportação, e não para o mercado interno. E, também, a dimensão do Pará, pois é um estado muito grande, de difícil acesso às localidades”, explicou.    

Naiza Sá esclarece que a insegurança alimentar é um problema multicausal, portanto, são fundamentais as criações de políticas públicas para que seja resolvida a adversidade no país. “Para resolver o problema da fome são necessárias políticas públicas, que perpassam desde a educação, acesso a emprego, renda per capita maior, até a aquisição de alimentos. Somente programas de políticas de governo, políticas públicas, poderão solucionar esse problema definitivamente”, assegurou.            

 

Cenário nacional

 

A pesquisa analisou dados coletados entre novembro de 2021 e abril de 2022, a partir da realização de entrevistas em 12.745 domicílios, em áreas urbanas e rurais de 577 municípios, distribuídos nos 26 estados e Distrito Federal. A segurança alimentar e a insegurança alimentar foram medidas pela Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia), também utilizada pelo IBGE.

No Brasil, o número de domicílios com moradores passando fome saltou de 9% (19,1 milhões de pessoas), em 2020, para 15,5% (33,1 milhões de pessoas), em 2022. São 14 milhões de novos brasileiros/as em situação de fome em pouco mais de um ano. O estado com mais casos de insegurança alimentar grave é Alagoas (36,7%). Em relação à segurança alimentar, apenas o Rio Grande do Norte superou a média nacional (41,3%), atingindo 51,2%.

 

 

Entenda as diferenças entre Segurança e Insegurança Alimentar

 

  • Segurança Alimentar: quando família/domicílio tem acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais.
  • Insegurança alimentar leve: preocupação ou incerteza em relação ao acesso aos alimentos no futuro; qualidade inadequada dos alimentos resultante de estratégias que visam não comprometer a quantidade de alimentos.
  • Insegurança alimentar moderada: redução quantitativa de alimentos e/ou ruptura nos padrões de alimentação resultante de falta de alimentos.
  • Insegurança alimentar grave: fome (sentir fome e não comer por falta de dinheiro para comprar alimentos; fazer apenas uma refeição ao dia, ou ficar o dia inteiro sem comer).

 

 

Ranking da fome no Brasil (%):

 

  • Alagoas (36,7%)
  • Piauí (34,3%)
  • Amapá (32%)
  • Pará (30%)
  • Sergipe (30%)
  • Maranhão (29,9%).

 

Ranking das regiões brasileiras (%)

 

  • Norte (45,2%)
  • Nordeste (38,4%)
  • Centro-Oeste (28,4%)
  • Sudeste (27,4%)
  • Sul (21,7 %)

 

Fonte: Rede Penssan

 

Serviço:

 

Restaurante Popular

 

Endereço: Tv Aristides Lobo, 290. Bairro da Campina

Horário de Atendimento: das 11h às 11h20 para públicos prioritários (idosos, gestantes, lactantes e pessoas com deficiência) e os demais até às 14h

Dias: da segunda à sexta-feira

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