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Logística e barreiras culturais são os desafios para a saúde bucal indígena

O aumento do consumo de alimentos industrializados, com muitos açúcares e carboidratos, tem levado ao desenvolvimento de cáries

Victor Furtado
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Em 2020, será feito o primeiro Inquérito Nacional de Saúde Bucal dos Povos Indígenas. Um trabalho inédito, para finalmente levantar dados necessários ao desenvolvimento de políticas públicas. A pesquisa também vai identificar os principais desafios para os profissionais que atuam no atendimento aos povos tradicionais. No entanto, informalmente, alguns já são bem conhecidos: o acesso a comunidades mais isoladas, investimento e algumas divergências culturais.

Helder Pinheiro é professor da Faculdade de Odontologia da UFPA e um dos coordenadores do inquérito na região Norte. Ele explica que povos indígenas enfrentam vulnerabilidade social e têm acessos dificultados às políticas públicas. A ausência histórica de dados também reduziu as possíveis medidas para contar os problemas que sequer são oficiais.

Com o perfil, será possível descobrir hábitos, como uso de creme dental, escovações, contato com o meio ambiente e alimentação. E assim identificar quais etnias têm mais necessidades acumuladas e doenças. Muitas vezes, quando o indígena procura e consegue acessar os serviços de saúde, já está com doenças desenvolvidas e o atendimento se torna mais curativo e não preventivo.

O dentista João Batista atua em comunidades da Terra Indígena Guamá - Tocantins, a maior do Brasil, com 3 mil quilômetros de extensão e cerca de 18 mil pessoas. Ele estima que só se consiga chegar a 60% desse público. Raramente a meta de quatro consultas anuais é atingida. A dispersão das 190 aldeias da TI dificulta rotas de atendimento. Às vezes, um único dentista chega a atender 1,5 mil pacientes.

Existem povos de maior contato, recente-contato e isolados. O maior contato com populações urbanas até facilita a conscientização hábitos preventivos. Mas leva essas etnias a consumir mais produtos industrializados, açúcares e carboidratos que levam a problemas bucais. Explicar que esses hábitos alimentares trazem riscos é difícil. Já as mais isoladas, costumam ser resistentes a compreender hábitos de higiene, mas apresentam menos problemas de saúde mais graves.

"Alguns povos tomam refrigerantes como se fosse água. Por exemplo, os Xicrin: são de contato mais recente e recebem pagamento de royalties pela exploração mineral. Quando é dia de pagamento, vários veículos vão até para vender todo tipo de besteira a eles e eles adora. Até 20 anos atrás, não havia diabetes e cáries, por exemplo. Agora vários indígenas estão diabéticos e com cáries. Para alguns, a cárie quer dizer que é para arrancar", diz João Batista.

Esses foram alguns dos temas abordados no 7º Encontro Estadual de Coordenadores Municipais de Saúde Buca, promovido pela Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa). O encontro faz parte da programação do XII Congresso Internacional de Odontologia da Amazônia (Cioa). O tema deste ano é "A Ciência Odontológica na Era da Tecnologia Digital".

A coordenadora estadual de saúde bucal da Sespa, Alessandra Amaral, explica que o encontro apresentou metas da secretaria até 2022. Até este mês de outubro, o Governo do Estado conseguiu se aproximar e monitorar o desenvolvimento de projetos e políticas públicas em 56 dos 144 municípios. Mas até o final da gestão, todo o estado deverá estar coberto pelo monitoramento de saúde.

Dentre os trabalhos preventivos e de monitoramento da saúde bucal estão o consumo de bebidas alcoólicas, amamentação, cuidados com idosos e incidência de cânceres de boca.  "Saúde começa pela boca", diz Alessandra. Um dos resultados, destacados pela coordenadora estadual, é a referência, em Belém, de atendimento a pacientes com fissuras. No ano que vem, deverá ser implantada uma referência em Santarém. E depois, em Marabá e na região do Marajó.

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