Ilha do Combu: os desafios do saneamento ecológico e da segurança hídrica; vídeo

Com o aumento do número de frequentadores e de estabelecimentos na localidade, moradores e pesquisadores têm se preocupado com o saneamento ecológico e a segurança hídrica da ínsula

Fabyo Cruz

A Ilha do Combu, em Belém, é uma das principais riquezas naturais da Amazônia. Localizada a cerca de 15 minutos de barco do centro da capital paraense, a área insular destaca-se por seus atrativos gastronômicos e ecológicos, atraindo visitantes de várias partes do mundo e movimentando a economia local. Com o aumento do número de frequentadores e de estabelecimentos na localidade, moradores e pesquisadores têm se preocupado com o saneamento ecológico e a segurança hídrica da ínsula.

No passado, era comum que os ribeirinhos - habitantes tradicionais que vivem às margens dos rios - recorressem à água do rio para suprir suas necessidades básicas. Na atualidade,   essa prática já não pode ser feita por conta da contaminação provocada pelas indústrias, cidades, substâncias químicas e biológicas. Pensando nisso, parcerias entre associações de moradores e empresários locais junto de universidades públicas federais desenvolvem projetos que visam captar, tratar e conservar a água da chuva para o consumo humano.

Um microssistema piloto de captação de água da chuva funciona atualmente no estabelecimento da Dona Nena, como é conhecida a produtora de chocolate rústico Izete Costa. Ela faz parte de uma das  200 famílias que trabalham com a produção do cacau, o segundo item mais vendido na ilha depois do açaí. A princípio, a captação ocorre por meio de duas bombas capazes de atingir 400 litros de água, mas será ampliado para 5 mil litros com um sistema mais robusto com suporte da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra).

“Pra gente é um benefício muito grande, pois não dispomos de água potável. Essa ampliação será um benefício para nós, para nossa saúde, ainda vai ajudar muito no trabalho da própria empresa porque a gente também beneficia as frutas da propriedade, então precisamos de água para fazer a esterilização dos nossos potes que é ainda é feita com água e, quem sabe futuramente, a gente possa estar utilizando para o banho. Também vai beneficiar o açaí, pois a gente não vende em  quantidade devido a falta de água de qualidade para fazer todo processo que ele necessita, como o próprio branqueamento”, disse  Dona Nena.

 

Captação de água da chuva

 

Para captar a água da chuva corretamente é necessário haver uma área de captação segura, afirma a professora doutora Vania Neu, da Ufra. “A gente precisa ter uma área de captação coberta por telha de barro, não pode ser com amianto ou palha. Não podemos ter muitos galhos de árvore sobrepondo à superfície, pois a água é captada pelo telhado, conduzida por calhas e tubos, até um reservatório que chamamos de cisterna. Nesse sistema, desviamos a primeira água que cai, são cerca de 30 litros, o restante recebe um tratamento com hipoclorito para matar qualquer bactéria. Depois de passar por um filtro de carvão ativado, a água fica própria para consumo", disse a especialista.    

image Captação de água da chuva (Igor Mota / O Liberal)

Vania é pesquisadora e coordena o projeto “Segurança Hídrica e Saneamento na região insular de Belém”, as ações da Ufra garantem água potável e saneamento para 15 famílias da Ilha das Onças. A educadora explica que a ideia de trabalhar tecnologias sociais com os ribeirinhos é fazer com que as comunidades se empoderem do sistema de captação de água. “Não é o nosso papel vir aqui e construir para a comunidade, mas construir junto deles, para que eles possam replicar esse sistema. Assim, um vizinho, um amigo ou um parente possa saber como fazer essa instalação que é muito simples. No momento em que trabalhamos com a comunidade, implantando junto com eles, todos passam a ter o domínio da tecnologia e ficam independentes da gente”, comentou.  

 

Tanques de Evapotranspiração (TEvap)

 

Um outro projeto da Ufra, que está sob a coordenação da professora Vania Neu, são os Tanques de Evapotranspiração (Tevap). Trata-se de uma alternativa de fossas ecológicas na Ilha do Combu, que atualmente não possui um adequado esgotamento sanitário, fazendo com que os dejetos sejam dispensados no rio. Na construção dos Tevap são utilizados entulhos e pneus usados, além de outros materiais. O sistema consiste em uma caixa impermeável feita com tijolos e no centro um tubo, feito com pneus usados e preenchido com entulho. Em seguida, seixo e areia são sobrepostos em camadas. Para completar a construção do Tevap, são utilizadas terra preta e plantas com alto potencial de evapotranspiração.

image Pesquisadora Vania Neu (Igor Mota / O Liberal)

“Muitos bares e restaurantes possuem a fossa tradicional, séptica ou despejam os dejetos diretamente no rio, o mesmo rio que os visitantes usam para o banho. É preciso dar o tratamento adequado para o esgotamento sanitário ou em breve teremos um surto de doenças de veiculação hídrica". Segundo a pesquisadora, 99% do esgoto é formado por líquido. "Os Tevaps têm fácil manutenção e ainda produzem alimento seguro e de qualidade, sem a adição de adubos químicos. Nosso objetivo é que os sistemas implantados, sejam um modelo a ser  replicado nos outros restaurantes, ou uma alternativa para quem busca sustentabilidade, autonomia ou não e é  atendido por rede de tratamento de esgoto", diz.

O estabelecimento da Dona Nena, "Filha do Combu, chocolates e doces artesanais", é um dos empreendimentos que buscou apoio da Ufra para a instalação dos Tevap. Segundo Mário Carvalho, que administra o empreendimento, o sistema deve ser implementado em setembro deste ano. “Aqui na propriedade da Nena serão implantados dois sistemas, um menor para residência e outro maior que vai ser duplo para o banheiro dos clientes, pois recebemos muitas pessoas aqui. O mesmo sistema será implantado no restaurante Saldosa Maloca, no total serão seis sistemas. Acredito que vamos inspirar outros estabelecimentos a implantar os Tevaps”, disse o gerente.

 

Biodigestores  

 

O estabelecimento Saldosa Maloca, na Ilha do Combu, já utiliza de práticas ambientais que não agridem o meio ambiente, entre elas, a operação de quatro biodigestores que estão em pleno funcionamento, gerando biogás para a cozinha e biofertilizante para a horta. A administra restaurante, Prazeres dos Santos, explica que o recurso manipula resíduos orgânicos, como restos de peixe, frango e carne, além de restos de vegetais.

image Biodigestores (Igor Mota / O Liberal)

“Começamos a usá-lo desde 2019. Esse recurso fez com que os nossos custos com gás reduzissem. Ainda usamos o gás butano porque o biogás não é tem alta pressão, portanto, para utilizá-lo nós usamos um fogão específico”, explicou Prazeres.

image Prazeres dos Santos (Igor Mota / O Liberal)

Prazeres diz que o estabelecimento contribui com o meio ambiente ao não enviar os resíduos para os aterros sanitários. “A maior parte do que nós produzimos aqui no restaurante damos uma destinação bem interessante. Primeiro são os resíduos orgânicos, que além de transformar em biogás e biofertilizantes, ainda fazemos a compostagem. Também temos todo um cuidado com as embalagens, todas elas são lavadas e depois secadas para serem encaminhadas às cooperativas”, destacou.

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