Escadaria da Igreja Matriz foi o palanque preferido de muitos candidatos em Santarém

Comícios na Escadaria da Matriz

A escadaria da antiga Igreja Matriz de Santarém, hoje Catedral Metropolitana, foi, por muitos anos, o palanque preferido de candidatos a prefeitos, vereadores, governadores e até mesmo presidentes. Um dos comícios mais famosos foi o do candidato à presidência da república, Jânio Quadros, que veio “passar sua vassoura” pela escadaria da Catedral no dia 13 de janeiro de 1960, na companhia do então prefeito Ubaldo Corrêa.

Geralmente esses políticos eram católicos, mas outros não. Isso gerou um fato curioso acontecido no dia 20 de setembro de 1945 que passamos a relatar: O Partido Comunista promoveu, no dia supracitado, um comício na cidade, e o lugar escolhido foi a escadaria da Catedral. Isso revoltou boa parte dos católicos da cidade. Durante todo o tempo do comício os sinos tocaram dobre pelos defuntos e de fato compareceu uma grande massa popular, não para ouvir o líder comunista Ivan Ribeiro, mas para bater latas, assoviar, vaiar e fazer tantos outros barulhos que não era possível ouvir uma única frase. Como se não bastasse a multidão dispersou os políticos a pedradas. O caso foi parar na delegacia de polícia, padres foram intimados, inclusive Monsenhor Anselmo Pietrulla, que se encontrava ausente da Prelazia. Citado no processo, o caso ganhou repercussão contrária ao que o Partido Comunista queria, a solidariedade ao Prelado veio de todas as partes, o que levou os próprios membros do partido a retirarem a queixa e o caso ficou por isso mesmo.
 
O Delegado de Polícia e as eleições de 1934

No ano de 1934, o tenente Luiz Antônio de Medeiros, então exercendo a função de delegado de polícia da cidade de Santarém, decidiu, por meio de portaria, proibir o porte de arma de fogo por qualquer cidadão, tendo em vista manter a paz e a ordem nas eleições daquele ano. A portaria publicada pelo Delegado, no dia 27 de setembro, também não consentia “publicações de qualquer natureza, onde hajam palavras ofensivas e desrespeitosas às autoridades legalmente constituídas do Estado e do Município”. O delegado temia pelos “espíritos” exaltados por conta da política que fugia do bom senso e passava a divergir da educação e da serenidade. Sempre bom olhara para o passado e ver que o bom senso prevaleceu em momentos tumultuosos na vida política de nosso povo.
 
Uma pergunta do presidente Geisel

Uma nota publicada no “Jornal do Baixo Amazonas”, datada do dia 22 de outubro de 1978, nos apresenta o seguinte fato interessante daquele momento político dos santarenos: “Durante a permanência do presidente Geisel em Santarém, numa reunião com os políticos da Arena, um político da terra assegurou ao presidente que o partido venceria tranquilamente as eleições aqui. Parecendo conhecer melhor o resultado das eleições desde que foram criados Arena e MDB, o presidente retrucou: “Mas, o MDB aqui é forte, apesar de tantas obras que o Governo tem feito aqui”. E, voltando-se para o político otimista, perguntou: “Por que?”. O silêncio foi a resposta”. Nem sempre se pode tentar enganar as pessoas apenas com bajulações e puxa-saquismos...
 

 
(*) É presbítero da Arquidiocese de Santarém. Pós-graduado em História da Amazônia. Membro fundador do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós – IHGTap e da Academia de Letras e Artes de Santarém – ALAS.