Enem 2023: preparo de pessoas com deficiência requer adaptação para antes e durante a prova

Recursos de acessibilidade durante a prova precisam ser solicitados ainda na inscrição

Camila Guimarães

Acessibilidade é um direito de todas as Pessoas com Deficiência (PcDs) que vão fazer as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), seja do tipo visual, auditiva, intelectual ou até mesmo pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Os recursos necessários para usufruir desse direito são solicitados ainda durante as inscrições, mas o preparo precisa começar muito antes. Esse é o tema da na 15ª reportagem da série sobre o Enem, publicada todas às sextas-feiras, no jornal O Liberal e no portal OLiberal.com.

O professor Ronaldo Alex, formado em Língua Portuguesa e especialista em braille, explica que estudantes cegos e com baixa visão são o público principal atendidos pelo Instituto Álvares de Azevedo, no bairro Batista Campos, em Belém. No local, esse público, matriculado no ensino regular da rede estadual, conta com reforço para aprender os conteúdos e também se preparar para o vestibular.

image Atividades no Instituto Álvares de Azevedo (Ivan Duarte / O Liberal)

"Aqui é voltado especificamente para as pessoas com deficiência visual. Na prática, o aluno vem no contraturno do ensino regular, traz o material que ele precisa estudar e é feita toda uma adaptação para que ele consiga ter acesso, como a adaptação em braile, audiodescrição etc.", exemplifica.

Segundo o professor, o maior desafio dos estudantes deficientes visuais no Ensino Médio são as disciplinas de matemática, química e física, devido à dificuldade de adaptar alguns conteúdos para serem apreendidos por outros sentidos que não a visão.

"A tabela periódica, um elemento químico, uma cadeia... isso é muito complicado. O estudante deficiente visual precisa tocar. Um mapa ou um desenho precisam ser descritos. Esse aluno também precisa dominar o braille, então tem uma certa dificuldade aí", comenta.

Segundo o professor, o preparo desses estudantes é feito com base nas disciplinas e conteúdos que eles mais precisam de adaptação e o instituto oferece uma série de recursos para que os materiais se tornem apreensíveis. No entanto, a prova do Enem acaba apresentando alguns desafios a mais para quem tem limitação ou ausência de visão.

"A questão do tempo é uma dificuldade. Mesmo sendo uma prova longa, o aluno pode solicitar o tempo adicional de prova ainda no ato da inscrição, mas por mais experiente que esse aluno seja com o braille, ele não consegue fazer uma prova toda em braille. A leitura visual é muito mais rápida. Por conta disso, o deficiente visual pode solicitar um leitor para ele - uma pessoa que auxilie lendo as questões. Essa leitura precisa ser correta para que o aluno compreenda o sentido verdadeiro do texto. Mas nós sabemos que, durante a prova, apenas uma leitura do texto pode não ser suficiente, então o processo acaba ficando muito longo e cansativo. Às vezes uma hora a mais de prova não é o bastante", avalia.

image Estudante Victoria Emely (Ivan Duarte / O Liberal)

 

A estudante Victoria Emely, de 19 anos, que tem deficiência visual, destaca como as adaptações representam segurança para o Enem. "O ensino aqui na escola me auxiliar a entendo o conteúdo do ano letivo e da preparação para o Enem. Porque o conteúdo é adaptado em braile e alto relevo. Tenho adquirido independência na vida de estudante na vida pessoal", comentou a adolescente.

image Estudante Victoria Emely e professor Ronaldo Alex (Ivan Duarte / O Liberal)

A diretora do Instituto Álvares de Azevedo, Lindalva Carvalho, também pontua que o acesso desses estudantes ao desenvolvimento de habilidades necessárias para a prova é um desafio a ser transposto em alguns casos, devido à escassez de escolas totalmente preparadas para esse ensino.

"O candidato que já é nosso aluno desde as séries iniciais, já tem toda uma técnica e preparo para enfrentar os desafios que a prova requer. Mas quando ele chega aqui já na fase adulta, sem que alguns aprendizados tenham sido dominados, como o braille, por exemplo, ele vai ter muito mais dificuldade na hora de escrever a prova de redação", alerta, enfatizando que o instituto é a única unidade do Estado voltada totalmente para o ensino de cegos e pessoas com baixa visão, por isso, também recebem estudantes de outros municípios, onde a acessibilidade é ainda mais escassa.

Para Lindalva Carvalho, é por essa razão que é muito importante que, ainda durante as inscrições no Enem, o estudante sinalize os recursos que serão necessários para aplicação de sua prova.

"Quando eles fazem a solicitação, a escola pega o manual do candidato, vê a relação dos candidatos, as necessidades que eles têm e faz a contratação dos aplicadores especializados para cada necessidade. O estudante cego, por exemplo, pode precisar de um ledor ou transcritor. O estudante com baixa visão vai precisar apenas da adaptação da fonte e do contraste de cores da prova de acordo com a acuidade visual dele. Mas é muito importante que essa solicitação seja feita ainda na inscrição", alerta.

image Da esquerda para a direita: estudante Victoria Emely, diretora Lindalva Carvalho e professor Ronaldo Alex (Ivan Duarte / O Liberal)

 

Recursos para PcD no Enem

São 17 recursos diferentes, destinados a estudantes com e sem deficiência. Em certos casos, é possível solicitar mais de um desses recursos simultaneamente, proporcionando uma abordagem abrangente para atender às necessidades individuais dos candidatos.

  1. Prova em braille: prova escrita em sistema tátil;
  2. Tradutor intérprete de Língua Brasileira de Sinais (Libras): profissional capacitado na tradução das orientações gerais do Exame;
  3. Videoprova em Libras;
  4. Prova com letra e imagens ampliadas (fonte 18);
  5. Prova superampliada (fonte 24);
  6. Cartão-resposta/Folha de redação ampliados (fonte de tamanho 18);
  7. Leitor de tela: prova compatível com o software DosVox e NVDA;
  8. Guia-intérprete: profissional capacitado para mediar a interação entre o participante surdocego, a prova e os demais colaboradores envolvidos na aplicação do Exame. É permitida a tradução integral da prova;
  9. Auxílio para leitura de textos e descrição de imagens;
  10. Auxílio para transcrição de respostas das provas objetivas e redação;
  11. Leitura labial para pessoas com deficiência auditiva ou surdas que não se comunicam por Libras;
  12. Tempo adicional de 60 minutos em cada dia de aplicação do Exame;
  13. Calculadora: recurso fornecido pelo Inep, caso o documento comprobatório seja aprovado;
  14. Sala de fácil acesso para pessoas com mobilidade reduzida;
  15. Apoio para pernas e pés;
  16. Mesa para cadeira de rodas;
  17. Mesa e cadeira separadas (sem braços).
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