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No Pará, 151 casos de intolerância religiosa foram registrados em 2021

No Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, números alertam para a violência que ainda existe no país motivada por crenças religiosas

O Liberal

O Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, lembrado nesta sexta-feira (21), foi instituído pela lei 11.635/2007, em memória da Iyalorixá Mãe Gilda, do terreiro Axé Abassá de Ogum, da Bahia, vítima de intolerância por ser praticante de religião de matriz africana. No Pará, de janeiro a dezembro de 2021 foram registradas 151 ocorrências tendo como locais centros religiosos. O número mostra que ainda há muito o que ser feito para garantir que cada cidadão tenha o direito de exercer sua religião, seja ela qual for, sem sofrer nenhum tipo de violência.

O Templo Umbandista dos Tupinambás, do Instituto Religioso Umbandista (IRU), localizado na passagem Maria, no bairro da Cremação, em Belém, funciona desde 1978 e é gerido por Pai Marcelo Machado, de 53 anos. Ele conta que desde que o templo foi inaugurado, todo final de ano ou sexta-feira santa há uma caminhada em grupo. Ao longo dos anos, ele e outros umbandistas já sofreram vários tipos de violência, desde agressões verbais até agressões físicas, como quando os intolerantes arremessaram objetos no grupo que passava pela rua.

"Mas nós não desistimos e continuamos. Hoje, graças à nossa persistência, já somos vistos de maneira diferente, já começam a respeitar, abrem espaço para passarmos.”

“Tudo isso foi construído arduamente, ao longo do tempo. Mas até hoje, quando um pai de santo entra em um banco, por exemplo, ou alguma outra instituição, sempre tem aquele impacto. Nós continuamos nessa resistência, orientando para que não nos deixemos amedrontar, e que continuemos passando boas informações, da verdade que cultuamos aqui dentro da nossa religião", declarou o sacerdote.

image A luta contra a intolerância é antiga para os adeptos das religiões de matriz africana (Marcelo Seabra/ Arquivo O Liberal)

Pai Marcelo acredita que a sociedade evoluiu ao longo dos anos em relação ao respeito pelas crenças religiosas, e que muito disso ocorreu por conta da educação e da mídia, que passou a dar mais espaço a outras religiões e desconstruir antigos mitos. Mas ainda há muita coisa para melhorar.

"É preciso que o governo tome para si essa responsabilidade, e passe para o ensino curricular, na educação básica, noções não só sobre as religiões afro, mas também do judaísmo, por exemplo, e de tantas outras religiões. Aí sim, nós vamos poder formar cidadãos que possam conviver e entender o próximo."

Todas as religiões são afetadas pela intolerância

O problema da intolerância e discriminação religiosa atinge adeptos de praticamente todas as religiões. Em abril de 2021, a Igreja Adventista do Distrito de Alvorada da Amazônia, pertencente ao município de Novo Progresso, no Pará, amanheceu pichada com símbolos nazistas. No Círio, Jairo Tapajós, que fazia parte da Guarda de Nazaré, foi expulso da organização por ter levado uma imagem da santa a um terreiro de candomblé, em Belém. Em 2013, a réplica do Cristo Redentor, em Araguaína (TO), foi depredada. Casos assim acontecem ano a ano pelo Brasil.

No Pará, a Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh) conta com a Gerência de Igualdade Racial do Programa Raízes e realiza ações articuladoras de forma transversal. O órgão tem um Conselho Estadual de Política de Promoção da Igualdade Racial composto por vários líderes de religião de matriz africana. Ariosnaldo da Serra, pai Naldo de Oxóssi, é conselheiro da Política de Promoção da Igualdade Racial (CEPPIR) e sacerdote de Umbanda. Ele ressalta que as ações são importantes porque ainda existe preconceito, racismo e intolerância em pleno século 21.

"A sociedade precisa entender que, efetivamente, não precisamos ser tolerados, e sim respeitados, assim como as outras representações religiosas. As ações da Sejudh são importantes, principalmente quando atua em nosso segmento. Esta política deve ser aplicada de forma ampla, com responsabilidade para que possamos alcançar a quebra da intolerância, que assola nossos territórios, espaços sagrados e a nossa própria identidade e tradição, para que não haja violação de direitos", enfatiza.

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