Dia Mundial do Diabetes: confira como identificar e tratar a doença

De acordo com o Ministério da Saúde, a condição orgânica relacionada ao aumento da glicose no sangue afeta cerca de 250 milhões de pessoas no mundo

João Thiago Dias / O Liberal
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Neste domingo (14), é celebrado o Dia Mundial do Diabetes, condição orgânica relacionada ao aumento da glicose no sangue que afeta cerca de 250 milhões de pessoas no mundo, segundo o Ministério da Saúde. Só no Brasil, são mais de 13 milhões que vivem com a doença, conforme divulgou a Sociedade Brasileira de Diabetes, em 2019.

Em Belém (PA), segundo dados da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL, 2019), cerca de 6,8% dos belenenses adultos têm diabetes, sendo a incidência de 6,4% em homens e de 7,1% em mulheres. 

A data deste domingo foi escolhida pela Federação Internacional de Diabetes (IDF) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1991, para reforçar a conscientização a respeito da enfermidade. Entretanto, ainda são muitas as dúvidas da população.

A endocrinologista Carlliane Lima e Lins Pinto Martins, que também é professora universitária de Medicina em Belém e Oficial Médica do quadro de saúde da Polícia Militar do Pará, listou algumas informações essenciais para tirar dúvidas sobre a doença.

Tipos

Ela explicou que o diabetes tipo 2 é o mais frequente (cerca de 90% dos casos) e tem relação direta com predisposição familiar e maus hábitos de vida que levam à obesidade. Frequentemente, inicia na idade adulta, mas casos em adultos jovens e adolescentes também podem ser identificados. O início é lento e gradual, causando poucos ou até nenhum sintoma. Com o avançar da doença e o surgimento das complicações, os sintomas vão surgindo e trazendo limitações.

"É uma doença metabólica relacionada à predisposição genética e maus hábitos de vida. Uma alimentação hipercalórica, sedentarismo e acúmulo de peso e gordura abdominal, levarão a alterações no organismo com prejuízo na atuação do hormônio insulina. Isso, por sua vez, desencadeia outras alterações em cadeia que irão promover o aumento da glicose no sangue no paciente com genética propícia. Com a evolução do quadro, o próprio pâncreas terá dificuldades em produzir a insulina", explicou a médica Carlliane Lima.

image Endocrinologista Carlliane Lima e Lins Pinto Martins (Arquivo pessoal)

O diabetes do tipo 1 é o segundo mais frequente. É uma doença autoimune, ou seja, surge após agressão ao pâncreas pelos nossos anticorpos. Eles destroem as células que produzem insulina e, com isso, o quadro se inicia de forma mais rápida e com necessidade de repor insulina precocemente. Esse tipo de diabetes é mais comum em crianças e adolescentes, mas pode iniciar de forma mais lenta em adultos jovens também. 

"Diabetes tipo 1 tem uma causa completamente diferente. O indivíduo nasce com um defeito no sistema imunológico que reage e inicia um processo de autodestruição do pâncreas após um gatilho ambiental que pode ser estresse emocional ou mesmo uma virose comum. Não tem relação com a obesidade e ocorre em idades mais precoces", detalhou a especialista. Existem, ainda, outros tipos menos comuns, relacionados à mutação de genes específicos ou a medicações, doenças endócrinas raras e lesões pancreáticas.

Sintomas

Os sintomas são semelhantes em todos os tipos e ocorre quando a glicose está muito alta. No tipo 1, como a glicose eleva muito logo no início, por deficiência de insulina, os sintomas são muito marcantes ao diagnóstico, podendo levar até a uma urgência médica. O tipo 2 tem início assintomático e evolução lenta e o diagnóstico geralmente é feito em exames de rotina. Os sintomas mais exuberantes surgem nos períodos de descompensação, quando a glicose chega em níveis muito altos (>300mg/dl).

"Os sintomas são: muita sede, vontade de urinar o tempo todo, inclusive com vários despertares noturnos para ir ao banheiro, muita fome e perda de peso. A visão pode ficar turva, o paciente se sente fraco e cãibras e dormência nos pés e mãos podem surgir. O avanço da doença e o descontrole permanente, seja qual for o tipo, pode gerar lesões em vários órgão e levar a grandes problemas de saúde como perda da visão, insuficiência renal com necessidade de hemodiálise,  amputação em membro inferior, impotência sexual, infarto do coração, acidente vascular encefálico, predisposição à infecções e maior gravidade com pior desfecho", contou a médica.

O que fazer?

Na suspeita, qualquer médico da atenção básica é apto para solicitar os exames diagnósticos, iniciar o tratamento se confirmado e orientar mudança no estilo de vida. O especialista é o endocrinologista. Ele pode e deve ser procurado precocemente no diabetes tipo 2, mas é imprescindível que ele faça parte da rede de apoio ao paciente diabético nos casos em que as medidas terapêuticas iniciais não trazem resultado satisfatório ou quando o quadro já está mais avançado. Na suspeita do tipo 1, o especialista precisa ser prontamente acionado, seja ele o endocrinologista ou o endócrino-pediatra. 

"O tratamento é medicamentoso, mas precisa das mudanças nos hábitos de vida em associação. É preponderante que o paciente faça uma dieta com baixo índice de carboidratos (açúcar e massas em geral). O controle do peso e o exercício físico também são fundamentais. A dieta saudável e adequada ao contexto da doença, sem excedente calórico, associada à atividade física regular são as formas de interromper o ciclo vicioso da inflamação gerada pela gordura corporal", disse Carlliane Lima.

Avanços

Os avanços no tratamento foram muitos nos últimos 20 anos. Novas classes de medicação surgiram e trouxeram mais segurança para o paciente. Algumas protegem o coração, os rins e podem ajudar na perda de peso. Menos efeitos colaterais são observados. As insulinas também avançaram muito e causam menos risco de hipoglicemia (glicose muito baixa) e promovem menor ganho de peso. 

"Os estudos na área são muitos, pois estamos diante de uma das doenças crônicas mais prevalentes do mundo e cujas consequências estão relacionadas às principais causas de sequelas permanentes e mortalidade. Novos remédios orais e até novas formas de administrar insulina, como por via inalatória, são novidades recentes. A própria monitorização da glicêmica sofreu avanços com a comercialização de sensores que dispensam as dolorosas furadas de dedo. Num futuro mais distante, o uso de células tronco e mecanismos de mudança de expressão genética poderão modificar o tratamento da doença, tal como fazemos hoje", adiantou a endocrinologista.

Pará

A Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa) informou que o usuário do Sistema Único de Saúde (SUS) tem acesso ao tratamento de diabetes nas Unidades Básicas de Saúde. Quando há intercorrência, ele é encaminhado para o hospital de referência. Em Belém, é o Hospital Universitário João de Barros Barreto, no bairro do Guamá.

Em nota, a Sespa também informou que, de acordo com o Sistema de Informações Hospitalares (SIH) do Ministério da Saúde, 6.611 pessoas foram internadas para tratamento de diabetes mellitus em 2019 no Pará. Em 2020, foram 5.869. E, de janeiro a setembro de 2021, 4.036 internações.

"A Sespa apoia as ações de promoção da saúde e prevenção de doenças, como o diabetes, que são competência dos municípios", detalhou a nota.

Verdade ou Mentira sobre diabetes

1. Comer muito doce pode levar ao diabetes
VERDADE
. Em indivíduos com predisposição genética. Comer muito de qualquer coisa, gerando excedente calórico e acúmulo de gordura corporal, também pode. O sedentarismo participa desse ciclo vicioso.

2. Dificuldade para cicatrização por de ser sinal de diabetes
VERDADE
. Paciente com diabetes descompensado pode ter dificuldade na cicatrização sim, pois a elevação da glicose atrapalha o bom funcionamento do sistema imunológico na reparação de tecidos e combate às infecções. 

3. É simples suspeitar de diabetes
MENTIRA
. É fácil identificar com exames de sangue, mas nem sempre é fácil suspeitar, pois ela pode ser assintomática no início. 

4. Muita sede pode indicar diabetes
VERDADE
. Muita sede pode ser sinal de diabetes e os níveis já poderão estar bem altos.

5. Diabetes tem cura
MENTIRA
. Diabetes não tem cura. É doença crônica em sua essência, mas grandes perdas de peso ao diagnóstico podem causar a remissão da doença. Uma espécie de controle sem remédio e que poderá ser sustentado com a manutenção do peso saudável. 

6. Diabético não pode comer frutas
MENTIRA
. Diabético pode comer frutas num contexto equilibrado e calculado. Outros nutrientes são necessários para esse balanço. O nutricionista é o profissional que auxilia na prescrição de uma dieta individualizada.

7. Diabético não deve comer doces
VERDADE
. Doces devem ser evitados sim, pois contêm muito açúcar refinado, muita gordura saturada e baixo valor nutricional. 

8. Obesidade pode ser um risco
VERDADE
. Obesidade em si, mas principalmente o acúmulo de gordura corporal, mesmo que o paciente não tenha o peso que o defina como portador de obesidade, é o grande fator de risco para o diabetes tipo 2.

9. Visão embaçada indica diabetes
DEPENDE
. Pode ser sinal de diabetes descompensado. É importante investigar e avaliar diagnósticos alternativos.

10. Diabético não deve ingerir açúcar
VERDADE
. Adicionar açúcar aos alimentos deve ser evitado sim, pois ele gera uma rápida subida nos níveis de glicose no sangue e essa velocidade está relacionada a maior risco de lesões nos vasos de vários órgãos a longo prazo. O paciente pode consumir "açúcar" na forma de carboidratos complexos, que são mais saudáveis e ricos em nutrientes. O nutricionista define essa quantidade de carboidratos, de acordo com as peculiaridades do paciente.

FONTE: ENDOCRINOLOGISTA CARLLIANE LIMA E LINS PINTO MARTIN

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