Democracia e cultura: advogado José Antônio Pinto Ribeiro fala sobre relação entre Portugal e Brasil

O ex-ministro da Cultura de Portugal, esteve em Belém esta semana para participar de um colóquio em alusão aos 50 anos da Revolução dos Cravos

O Liberal

O fundador e presidente do Fórum Justiça e Liberdades, José Antônio Pinto Ribeiro, ex-ministro da Cultura de Portugal, esteve em Belém esta semana para participar de um colóquio em alusão aos 50 anos da Revolução dos Cravos em Portugal, celebrado em 25 de abril. Em entrevista ao O Liberal, o advogado e professor discorreu sobre questões democráticas relacionadas a Portugal e o Brasil, a importância da valorização da cultura e também sobre a colaboração entre países como maneira de estímulo à valorização da língua.

Qual a importância do Evento sobre os 50 anos da Revolução dos Cravos em Portugal realizado na Universidade Federal do Pará, que tratou sobre a democracia?

O evento ocorreu maravilhosamente bem e ele foi muito importante, pois tratou sobre discussões que também tratam de temáticas atuais. Acho que este evento foi muito importante porque trouxe pessoas que falaram sobre o grande Eduardo Lourenço, em função de que este evento também é feito como uma homenagem a ele. Além disso, porque tem a participação de Pilar Del Rio, a mulher do Saramago, que é também a presidente da Fundação do Saramago. Ela conheceu muito bem o Eduardo Lourenço e fez uma conversa ótima, muito correta, linda sobre o ideal aquareso e tudo justo, uma grande intervenção.

Também durante à tarde ocorreram outras intervenções muito importantes, não sobre os aspectos formais, digamos, do 25 de abril, data da Revolução dos Cravos, mas sobre as consequências do 25 de abril no desenvolvimento do país e desenvolvimento da saúde, educação, rendimento, habitação, entre outros. Tudo isso, é muito relevante perceber, estava bloqueado até o 25 de abril e após essa data foi conquistado. Começou-se a fazer coisas diferentes. Depois, com a entrada do mercado comum, nós tivemos acesso a capital, a fundos e outras coisas que nos permitiram mudar o país bastante.

image José Antônio Pinto Ribeiro (Imagem: Thiago Gomes | O Liberal)

Qual a importância de tratar sobre a conquista democrática e também as possíveis ameaças autoritaristas que ainda existem atualmente?

Falar sobre democracia é necessário e muito importante. Também é relevante fazer uma defesa intransigente e exigente quando se trata da democracia. Quero dizer que, por exemplo, acho que normalmente a democracia não sabe lidar com as redes e as mídias sociais. Portanto, julga que continuar a fazer declarações para os jornalistas resolve o problema, mas não resolve. É preciso saber lidar, saber trabalhar com as redes sociais e há umas redes sociais tóxicas para as pessoas. E o Estado, não regulando isso, deixa que essa questão seja cada vez mais utilizada e se torne, em certos casos, um problema.

Nós vimos isso na América, vimos no Brasil, e acho que é preciso fazer as coisas para que as redes sociais sejam minimamente controladas. Elas podem ser completamente falsas, podem aparecer pessoas que são avatares e que não existem, mas estão a fazer comentários na web. Podem criar redes que de repente têm milhares de pessoas e nenhuma delas é verdadeira. Tudo é uma questão de construir. É preciso assegurar que haja um certo controle disso, no que diz respeito à informação, que é muitas vezes completamente falsa. É ‘fake information’. E agora, por exemplo, com a inteligência artificial, isso vai ser dramático.

Quais os ganhos por meio da colaboração entre países para a troca de conhecimento e partilha de culturas, como ocorre nesta ocasião entre o Brasil, por meio do Pará, e Portugal?

Essa dinâmica é indispensável. Eu vou dizer aquilo que penso sobre essas comunidades internacionais que se estabelecem, pois elas são, sobretudo, muito importantes como comunidades de língua. Se nós não trabalharmos a nossa língua comum, se não transformarmos a nossa língua comum numa língua da internet, de investigação nas redes sociais, de contacto e de conversa franca, fácil, todos os brasileiros que não falem outra língua ficam automaticamente excluídos. Atualmente ainda não é possível fazer essa alteração para ocorrer a comunicação. Portanto, a primeira coisa a fazer é desenvolver o uso da língua também cientificamente e tecnologicamente. Depois, essa língua deveria ser qualificada junto de toda a gente.

É preciso ensinar a todos a ler e escrever bem. Também deve haver um esforço nisso. Para ver se fazemos uma comunidade de centenas de milhões de falantes da língua portuguesa que possam ter um peso. Daqui a 50 anos, Angola e Moçambique vão ter mais habitantes do que o Brasil a falar português. Portanto, significa que no futuro, uns 15 ou 20 anos, nós vamos ter, provavelmente, 500 milhões de falantes do português nesses países. Quando se obtiver esse número de 500 milhões de falantes do português, essa língua pode ser a mais falada no hemisfério sul, a quarta ou quinta língua mais usada do mundo. Portanto, ela tem que passar a estar na ONU, nas organizações internacionais, porque há muita gente que fala essa língua. É preciso ressaltar que falar bem essa língua também é muito importante, porque nós temos uma maneira específica de sentir o que sentimos, de trabalhar o que sentimos e expressamos isso por meio da fala.

Qual a importância de promover a valorização da história e cultura de um país, como ocorreu no evento sobre a Revolução dos Cravos?

Uma das coisas que se deve fazer é editar todos os livros dos autores brasileiros. Termos todos eles de maneira acessível. É preciso facilitar a edição da obra em brasileiro, ou em português do Brasil, ou em português de Portugal. Também apoiar os jornais, apoiar o bom jornalismo. É necessário fazer com que, mediante boas coisas bem escritas, toda a gente aprenda a falar português bem e possa ir estudar para onde quiser. E assim, tornar-se um cientista de grande qualidade, uma pessoa extraordinária em qualquer parte do mundo.

Quando não fizermos essa comunidade e conexão, os brasileiros querem sair para aprender e não têm para onde ir porque ninguém fala português. Se nós (portugueses) quisermos sair, também não podemos ir para onde ninguém fala o que não entendemos porque não dá. É preciso formar essa comunidade de língua portuguesa mundialmente, com Macau, Timor, Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde, São Tomé e com as diásporas brasileiras e portuguesas que há pelo mundo. E pensar sempre que há milhões de pessoas pelo mundo que são portugueses e brasileiros que falam essa língua.

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