Bailarina com nanismo vence barreiras e preconceitos na dança

Jessica Diana Muniz, 25 anos, revela que já sofreu preconceito em escolas de dança, mas hoje sua trajetória é inspiração para outras pessoas

Fabyo Cruz
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A bailarina com nanismo Jessica Diana Muniz, 25 anos, conhecida no meio artístico como “Jeeh Diana”, é exemplo de superação. A paraense, que reside em Ananindeua, começou a dançar com apenas 5 anos de idade, por meio de um projeto social de balé clássico e dança moderna, em Belém. Em 2020, foi convidada pelo Instituto Nacional de Nanismo para fazer uma apresentação da dança clássica Cisne Negro, no Theatro da Paz, na capital paraense, e, no ano de 2022, dançou Girassol, em Santa Catarina. Mesmo enfrentando preconceitos e a perda de um ente querido, Jeeh não desistiu dos seus sonhos. Atualmente, a artista compartilha conteúdos sobre diversidade na dança nas redes sociais e possui um dá aulas de balé para crianças e adultos.    
      
“O balé é a minha vida! Não posso generalizar, mas 95% das escolas onde passei, sofri preconceito. Infelizmente, tinha várias coisas não adaptáveis, várias palavras de bullying, mas eu digo que o balé serve para todos os corpos! No balé clássico, durante muito tempo, convivemos com aquele padrão de beleza, de que as bailarinas tinham de ser magras, lindas, com as pernas altas e perfeitas. Mas hoje conseguimos ver que no mundo existem milhares de corpos e todos são diferentes, todos podem dançar. E no balé, eu quero quebrar esse padrão da bailarina perfeita, porque não existe perfeição nesta vida”, afirmou Jeeh Diana.

image Jeeh Diana: “em 2018, passei na prova do curso técnico de dança clássica da Escola de Teatro e Dança da UFPA" (Arquivo pessoal)

Na infância, após se destacar nas aulas balé do projeto social em Belém, Jessica recebeu um convite para participar de uma escola de dança renomada da cidade, porém, no quarta ano de aulas, quando precisou subir na sapatilha de pontas, sua professora disse que ela não tinha capacidade que realizar a técnica por não ter sustentação. Jeeh lembra que ficou bastante abalada emocionalmente com a rejeição, entretanto, ela não desistiu e procurou um especialista para entender se deveria ou não parar por ali.

“Fiquei muito mal, fui ao médico, porque sempre gosto de provar para mim que sou capaz. E ele disse que eu poderia fazer o que eu quisesse com o meu pé, pois não haveria problema. Foi quando, em 2017, depois que entrei para o ministério de dança da minha igreja, a nossa líder me deu a oportunidade de fazer uma apresentação nas pontas. Primeiro achei que não ia conseguir, mas na igreja fiz minha primeira apresentação nas pontas. E, em 2018, passei na prova do curso técnico de dança clássica da Escola de Teatro e Dança da UFPA, e foi um período surpreendente da minha vida, pois nunca imaginei que estaria dançando profissionalmente um dia. Tiveram episódios de preconceito, crises de ansiedades, alguns exercícios eram difíceis, mas nada que muita determinação me fizesse não desistir”, relembrou.       

Escola de dança é um sonho realizado

 

    

Em 2023, a bailarina realizou outro sonho: abrir a sua própria escola de dança. A paraense conta que naquele momento especial foi impossível não lembrar da sua avó, já falecida, que foi uma das suas maiores incentivadoras: “A minha avó sempre me apoiou na dança, por isso eu sempre dizia que ela era a minha primeira mãe. Enquanto a minha mãe via o balé como hobbie e não profissão, a minha avó me incentivava a seguir em frente. Depois que ela faleceu, me aproximei da mãe, que passou a me ajudar, e no dia 29 de abril de 2023, no Dia Internacional da Dança, quando também comemorei meu aniversário e inaugurei o meu estúdio de dança. Naquele dia, senti a presença da minha avó muito forte perto de mim”.

Inspiração para outras pessoas


A artista também encontrou nas redes sociais, uma oportunidade de inspirar e motivar outras pessoas a não desistirem da dança. “Sou mais assídua no TikTok, quando passei a gravar conteúdos, em 2020, por causa da pandemia. E foi lá que me encontrei para mostrar um pouco dessa diversidade da dança. Inclusive, na rede social tenho dois bordões que são: ‘relatos de uma garota com nanismo’ ou ‘relatos de uma bailarina com nanismo’. Depende do conteúdo que posto no feed”, comentou. No Instagram (@peqnabailarina), Jeeh Dias possui mais de 6 mil seguidores. Já no TikTok (@peqnabailarina) ela tem mais 17 mil. 

image Jeeh Diana: “... no mundo existem milhares de corpos e todos são diferentes, todos podem dançar.” (Arquivo pessoal)

No dia 16 de junho, a escola de dança de Jeeh Dias fará uma apresentação no Teatro Waldemar Henrique, às 19h, em Belém. O espetáculo será um remake de Uma Noite de Magia na Disney. “Sou apaixonada por aquele lugar (Disney), e pensei: por que não trazer a magia da Disney para a nossa regionalidade daqui de Belém? Por que não trazer todo aquele encanto das princesas, das fadas, das danças, para o encanto do balé clássico? Vamos ter apresentações como A Bela e a Fera; Ariel; Frozen; Moana; Jasmine, entre outras”.

Conscientização e direitos

O nanismo é uma alteração genética que afeta o processo de crescimento de uma pessoa. Um dos efeitos dessa condição é a baixa estatura em relação à média da população da mesma faixa etária. No ano de 2017, houve a aprovação da Lei 13.472 que estabelece o dia 25 de outubro como o “Dia Nacional de Combate ao Preconceito contra as Pessoas com Nanismo". No Brasil, o nanismo recebeu o status de deficiência física em 2004. As pessoas com nanismo têm direitos semelhantes aos de qualquer outra pessoa, incluindo direitos humanos básicos, acesso à educação, emprego, cuidados de saúde e proteção contra discriminação com base em sua condição.

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