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Isolamento requer cuidados com saúde física e emocional dos idosos

No lar, atividades e interações sociais são importantes para manter pessoas mais velhas longe do vírus e da tristeza

Cleide Magalhães
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Os idosos são considerados como o grupo mais vulnerável para a infecção do novo coronavírus (Covid-19) pela Organização Mundial de Saúde e pelo Ministério da Saúde. As pesquisas apontam ainda que a pandemia conta com taxa de letalidade entre 15% a 20% no mundo em relação a eles. Por isso, é importante o isolamento social não somente dos idosos, mas também das pessoas que moram com os idosos. Elas devem, ao máximo, também evitar sair de casa.

Por isso, os cuidados de distanciamento, mesmo dentro casa, são fundamentais. E o que é hoje uma ameaça pode ser também uma oportunidade para descobrir novos significados no isolamento. No lar, alternativas de atividades físicas, de lazer e entretenimento podem ser realizadas com os idosos. Inclusive demonstrações de afetos, como oferecê-los mais amor e carinho. 

Para a doutora em Psicologia Hilma Khoury, mesmo no isolamento social, as atividades e as interações sociais são muito importantes para manter a saúde física e mental dos idosos. "No caso dos idosos mais velhos, um período de média duração sem estimulação física e cognitiva pode ocasionar um rápido e irreversível declínio."    

De acordo com o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010, 61% dos idosos brasileiros são responsáveis por seus domicílios. "Do ponto de vista sociocultural e afetivo, os idosos são a referência do grupo familiar. Sejam nossos pais, avós ou tios, são aquelas pessoas que carregam a nossa história, que nos deram os valores que prezamos, que congregam o grupo familiar", diz Khoury, que é membro da Diretoria da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e presidente do Departamento de Gerontologia da SBGG no Pará.

Medidas de isolamento social envolvem idosos e familiares

Durante o isolamento social a doutora esclarece que as medidas de proteção envolvem tanto o idoso como os familiares. "Em primeiro lugar, o idoso deve ficar em casa. As pessoas que moram com o idoso também devem evitar sair de casa. Porém, em caso de extrema necessidade, tal como ir à farmácia ou supermercado, ou mesmo ao trabalho, pois algumas pessoas não puderam deixar de trabalhar, adotar todas as medidas de higienização recomendadas pelos órgãos de saúde", alerta a representante da SBGG.

Ainda segundo ela, os cuidados são muito importantes para preservar a saúde de todos na casa, em especial dos idosos, evitando a contaminação pelo coronavírus. As medidas incluem manter distanciamento de dois metros das outras pessoas, usar máscara, evitar tocar em corrimões, maçanetas etc. Além de usar álcool em gel nas mãos, caso toque em algo que tenha sido tocado por outras pessoas. Quando chegar da rua, deixar os sapatos do lado de fora da porta de entrada, trocar de roupa e tomar banho e higienizar todos os objetos que vierem da rua como roupas, bolsas, óculos, compras, etc. 

A psicóloga frisa que, em casa, isso é válido principalmente para os cuidadores dos idosos, os quais precisam manter a distância de dois metros do idoso. "E quando precisar realizar algum procedimento que tenha que ficar próximo ao idoso, como banho, troca de roupa, alimentação ou ministrar medicação, higienizar as mãos, antebraços e rosto com água e sabão, usar máscara e luva. É importante também, se possível, evitar o uso de transporte público, pois as pessoas ficam muito próximas umas das outras, favorecendo a contaminação", orienta Hilma Khoury.

ANSIEDADE

Nesse momento, a doutora em Psicologia reitera que o isolamento social é uma medida necessária, tanto para a preservação da saúde e da vida humana como para evitar rápida propagação do vírus. 

"As medidas de proteção são importantes principalmente para não ocasionar um colapso do sistema de saúde. Isso porque, se as pessoas não ficarem em casa, muitos irão adoecer ao mesmo tempo e não haverá como socorrer a todos. Infelizmente,  o nosso sistema de saúde já é precário em condições normais, imagina se muitos recorrerem a ele ao mesmo tempo. Não haverá nem leitos nem respiradores para todos. Aí vamos ter que adotar medidas tristes como ocorreu na Itália  de ter que escolher quem vai morrer", alerta. 

Para ela, o isolamento pode fazer com que muitas pessoas, especialmente aquelas que moram sozinhas, se sintam tristes e ansiosas por não poder sair de casa, mas isso não significa que terão depressão. "Algumas pessoas costumam pensar que toda tristeza é depressão, porém, nem toda tristeza é depressão. Em algumas situações, a tristeza é normal. Por exemplo, se você perde alguém querido, se você ficou desempregado, é normal ficar triste", afirma a doutora. 

Mas Hilma Khoury, que é também especialista em Gerontologia, considera que algumas situações ambientais e sociais, como o isolamento social pela Covid-19, podem funcionar como desencadeantes para os sintomas depressivos. Porém, naquelas pessoas que já têm predisposição orgânica à depressão.

Contudo, o sinal de alerta à depressão é quando a tristeza se prolonga por semanas, a maior parte do dia. E ela é acompanhada de outros sintomas como a perda do interesse pelas coisas que antes a pessoa se interessava, alterações do sono e do apetite, fadiga, sentimentos de inutilidade, entre outros.

Se perceber esses sinais, a família pode procurar um médico psiquiatra ou geriatra ou psicólogo para uma avaliação e indicação de tratamento. "A depressão necessita de tratamento médico e psicológico. É necessário a medicação, para a redução dos sintomas, e a psicoterapia, para trabalhar as formas desadaptativas ou disfuncionais de lidar com os acontecimentos e que trazem sofrimento", enfatiza a estudiosa no assunto.  

 

ALTERNATIVAS

Para enfrentar o necessário período de isolamento social, existem alternativas de atividades físicas e de lazer e entretenimento que podem ser feitas com eles. Inclusive emotivas, como oferecê-los mais amor e carinho. A psicóloga detalha que existem pelo menos dois níveis de idosos. E as sugestões valem tanto para aqueles que ainda são independentes e autônomos, como para os idosos dependentes e também aqueles que estão com algum tipo de demência.  

"Ficar em casa não precisa ser necessariamente ruim. E ficar só não significa necessariamente solidão. Existem aqueles ativos, independentes e autônomos e aqueles idosos dependentes, geralmente, com sequelas de fraturas ou Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou com algum tipo de demência como, por exemplo, a doença de Alzheimer, que prejudica sua funcionalidade. As condições físicas e psicológicas, as necessidades e possibilidades, podem ser bem diferentes nesses dois níveis", compara a psicóloga.

Para os que ainda são independentes e autônomos, Khoury considera que ficar em casa pode ser uma oportunidade para descobrir novos significados no isolamento. "Há muitas coisas interessantes que podemos fazer em casa: ler um bom livro, ouvir música, assistir bons programas na TV, assistir a filmes ou shows em DVD". 

Para quem tem internet em casa, pode ver filmes ou séries nos canais que os disponibilizam. Pode também arrumar armários e gavetas, que há tempos aguardam uma organização, consertar algo em casa que esteja precisando de reparos, cuidar de plantas (caso as tenha dentro de casa ou no quintal), fazer alguma comida diferente, consertar ou reformar roupas, procurar aprender algo novo usando os recursos que tem disponíveis em casa ou utilizando a internet.

Além disso, a representante da SBGG sugere que oportunidade vale para interagir mais com as pessoas e a tecnologia pode ajudar. "Se o idoso mora com mais alguém, é uma oportunidade para conversar mais com aqueles que dividem a casa com ele. Se mora só (ou mesmo com outras pessoas), pode telefonar ou comunicar-se por mensagens com amigos e parentes".

Uma das idosas que tem a rotina meio agitada é a Oneide Lemos, 83 anos. Ela mora há 52 anos no bairro da Cremação, em Belém. Tem três filhos, quatro netos e uma bisneta e diz que não tem medo do coronavírus, mas segue todos os conselhos dos familiares nos cuidados com a higiene e saúde. 

"Faço tudo que meus filhos pedem e orientam, e me sinto bem. Agora, não estou fazendo as coisas do jeito que sempre faço, pois não paro, gosto de ir à feira, ao supermercado, visitar meus parentes, apanhar ônibus. Minha rotina é andar. Mas sei que ficar em casa é só por um tempo e depois tudo vai acabar bem. Não me sinto incomodada, me sinto cuidada e amada. Nesse tempo, assisto mais televisão", conta a idosa, que diz estar bem de saúde.  

DEPENDENTES

No caso dos idosos dependentes e também daqueles que estão com algum tipo de demência, a psicóloga Khoury afirma que é importante o carinho e a solidariedade de parentes e amigos. "O carinho não precisa ser necessariamente o toque físico. Pode-se jogar um beijo de longe e olhar para ele colocando a mão no coração para indicar que ele é querido por você. Pode-se também realizar alguma atividade com ele, tomando-se os devidos cuidados, como jogar dominó, dama, jogo de memória, quebra-cabeças", sugere a doutora Khoury. 

"Pode-se também, simplesmente, estimular a memória pedindo, por exemplo, que diga o nome de todos os pássaros que lembrar ou de todos as frutas ou flores que lembrar, ou solicitando que diga aqueles que começam com determinada letra do alfabeto. A tecnologia, mais uma vez, também ajuda bastante nisso.Por exemplo, pode-se fazer uma chamada com vídeo e falar com o idoso, interagir com ele, expressar carinho", continua.

Existem ainda atividades para todos os níveis de idosos, como fazer exercícios físicos em casa e atividades religiosas. "Há exercícios simples que se pode fazer sentado ou deitado. Há vídeos disponibilizados na internet mostrando como fazer alguns exercícios. Têm links disponibilizados por algumas organizações que permitem que se acesse para fazer exercícios com um instrutor. Pode-se também orar com as pessoas em casa ou acompanhar orações pelos canais religiosos na TV".

ALGUMAS ATIVIDADES PARA IDOSOS EM TEMPOS DE ISOLAMENTO SOCIAL

PARA IDOSOS AINDA INDEPENDENTES E AUTÔNOMOS:

- Ler um bom livro, ouvir música, assistir bons programas na TV e assistir a filmes ou shows em DVD;

- Para aqueles que têm internet em casa, ver filmes ou séries nos canais que os disponibilizam;

- Arrumar armários e gavetas que há tempos aguardam uma organização; 

- Consertar algo em casa que esteja precisando de reparos; 

- Cuidar de plantas (caso as tenha dentro de casa ou no quintal); 

- Fazer alguma comida diferente; 

- Consertar ou reformar roupas; 

- Procurar aprender algo novo usando os recursos que tem disponíveis em casa ou utilizando a internet;

- Além disso, a oportunidade vale para interagir mais com as pessoas e a tecnologia pode ajudar, como conversar mais com aqueles que dividem a casa com o idoso;

- Se mora só (ou mesmo com outras pessoas), pode telefonar ou comunicar-se por mensagens com amigos e parentes

PARA IDOSOS DEPENDENTES:  

- É importante o carinho e a solidariedade de parentes e amigos;

- O carinho não precisa ser necessariamente o toque físico; 

- Pode-se jogar um beijo de longe e olhar para ele colocando a mão no coração para indicar que ele é querido por você;

- Pode-se também realizar alguma atividade com ele, tomando-se os devidos cuidados, como jogar dominó, dama, jogo de memória, quebra-cabeças; 

- Pode-se também, simplesmente, estimular a memória pedindo, por exemplo, que diga o nome de todos os pássaros que lembrar ou de todos as frutas ou flores que lembrar; 

- Ou solicitando que diga aqueles que começam com determinada letra do alfabeto;

- A tecnologia, mais uma vez, também ajuda bastante nisso. Por exemplo, pode-se fazer uma chamada com vídeo e falar com o idoso, interagir com ele, expressar carinho. 

PARA IDOSOS DEPENDENTES E INDEPENDENTES

- Fazer exercícios físicos em casa;

- Realizar atividades religiosas em casa. 

DADOS

. OMS e MS consideram os idosos como o grupo mais vulnerável para a infecção do novo coronavírus (Covid-19). 

.Pesquisas apontam ainda que a pandemia conta com taxa de letalidade entre 15% a 20% no mundo em relação aos idosos.  

.Segundo Censo do IBGE, em 2010, 61% dos idosos brasileiros são responsáveis por seus domicílios. Isto quer dizer que eles sustentam suas famílias.

 

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