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Adesão do Pará: evento marca o início da construção de uma identidade regional

Embora a comemoração oficial seja no dia 15, a adesão ocorreu, de fato, no dia 16 de agosto de 1823, como registrado em ata assinada por autoridades da época. Documento foi encontrado

Laís Santana

A Adesão do Pará, feriado estadual comemorado nesta segunda-feira (15), marca o momento em que a Província do Grão-Pará, última província a aderir à Independência do Brasil, se constitui como Estado do Pará e deixa de fazer parte da coroa portuguesa. Apesar da data instituída em 1996 como Data Magna do calendário paraense, a adesão ocorreu, de fato, em 16 de agosto de 1823, de acordo com a ata que faz parte do acervo do Arquivo Público do Estado. De todo modo, o evento histórico representa o início da construção da identidade popular paraense. 

Contexto

O historiador e diretor do Arquivo Público, Leonardo Torii, explica que na época a influência portuguesa na região do Grão-Pará era grande, por isso, para compreender como se deu a Adesão do Pará é importante olhar para os motivos que levaram a província a não aderir à Independência do Brasil em 1822. "Existe uma tradição muito forte portuguesa aqui na região. A Amazônia ficou duzentos anos separadas do Brasil, Belém recebia ordem direto que Lisboa não recebia do Rio de Janeiro e nem de Salvador. Então é essa separação a longo prazo, diz muito sobre as nossas identidades. Era muito mais fácil as pessoas daqui se reconhecerem como portuguesas do que como brasileiros. A maior parte dos cargos de alta patente eram de portugueses, as famílias mais ricas daquela região eram portuguesas, os negócios eram diretos de Portugal, então não havia quase essa ligação com o Brasil", afirma. 

A província do Grão-Pará não foi a única a não aceitar fazer parte do território nacional. Diante disso, Dom Pedro I contrata o almirante escocês Lord Thomas Cochrane com a intensão de forçar essas províncias a aceitar a independência e, finalmente, fazer parte do império brasileiro. Cochrane enviou para a região do Grão-Pará o almirante John Pascoe Grenfell, que ao chegar na região, encontrou uma província dividida entre as autoridades que eram a favor da adesão e aqueles que eram contra, foi então que ele "jogou o grande blefe". 

"Ele se aproveita disso para espalhar as notícias falsas de que todos os navios da esquadra estariam posicionados na baia apontados para Belém e que deveriam aceitar a independência ou a cidade seria bombardeada. O maior medo de Dom Pedro I era que cada província se tornasse um país, por isso a pressa de querer forçar essas províncias, contratar os mercenários, organizar uma frente de batalha para forçar as províncias a aderir ao Império do Brasil. Foi um período muito delicado e de muitos conflitos", detalha o historiador. 

Adesão

Após a chegada do almirante, os políticos e autoridades se reuniram e decidiram aderir ao território do império brasileiro. Foi então realizado uma cerimônia de adesão onde cada um dos participantes jurou fidelidade ao imperador diante da Igreja, além da assinatura da ata.

"Juro aos Santos Evangelhos que em que ponham as minhas mãos obediência e que a sua majestade imperial senhor Dom Pedro I, aos seus seculares observar e fazer observar todos os seus decretos e leis existentes, manter e defender a independência do Reino do Brasil até derramar o todo meu sangue", diz a ata de adesão. 

Além das autoridades, toda a população também efetuou o juramento, assim como as vilas que enviavam seus documentos para Belém, que enviava para o Rio de Janeiro, sede do império.  

"O Estado do Pará nasce a partir desta ata, o que tínhamos antes era um território que fazia parte de Portugal. Com a assinatura da ata a gente pode dizer que era um espécie de certidão de nascimento do Estado, representando a separação com Portugal e a anexação com o Império do Brasil", pontua Leonardo Torii. 

Pós-adesão

A assinatura da adesão pela autoridade parecia solucionar o problema em questão, mas segundo os historiadores, o período posterior a Adesão do Pará foi um período bastante conturbado, com muitas turbulências políticas que vão desencadear na Cabanagem. A situação revoltou parte da população paraense, especialmente os funcionários públicos e militares.

"Isso tudo aconteceu em uma esfera de elite, branca, bem nascida, mas as populações ribeirinha, escrava, indígena, ficaram totalmente marginalizados, não participaram dos debates. Eles vão ter uma ideia de liberdade, mas é uma ideia totalmente excluída do processo. Apesar de alguns partidários de D Pedro I até defenderem a abolição, isso não entra em discussão, pelo contrário, acaba repercutindo mais na frente", afirma o historiador André Lima. 

Três meses após a adesão, uma revolta das tropas paraenses em Belém foi duramente reprimida. Exatos 256 paraenses que lutavam por direitos iguais aos dos portugueses que aqui viviam foram confinados no porão do navio São José Diligente (vulgo Palhaço) e morreram asfixiados, sufocados ou até mesmo fuzilados. Esse episódio marcou um momento de consciência política e de identidade local que mais tarde explodiu em outros movimentos, como na Cabanagem, em janeiro de 1835, em Belém.

"A Cabanagem foi um reflexo de todos esses acontecimentos pós Adesão do Pará à independência, retrato de um período marcado por levantes, de grupos que não aceitavam essa adesão ou grupos que se frustraram com a independência", acrescenta Lima. 

Exposição

Nesta terça-feira (16), o Arquivo Público do Pará abrirá ao público uma exposição com documentos históricos da Adesão do Pará. O evento será realizado no salão principal do prédio localizado na travessa Campos Sales, 273, no bairro da Campina, de 9h às 15h. Entrada franca. 

 

 

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