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A conquista do voto feminino completa 92 anos e atravessa gerações

Mulheres de diferentes gerações provam do seu direito e manifestam sobre a importância do poder de escolha, de voz e representatividade

Bruna Lima

O voto feminino no Brasil completa 92 anos como aquisição de direito, neste sábado (24). Uma conquista que desde o início foi cerceada e que já passou por diversas mudanças ao longo do tempo. Mulheres de diferentes gerações provam do seu direito e manifestam sobre a importância do poder de escolha, de voz e representatividade.

A enfermeira aposentada Cremildes Mesquita Santos, 81, tirou o título de eleitor na década de 50, aos 18 anos. Ela recorda com alegria o poder de exercer a cidadania. “Na minha visão, o poder de exercer o voto é uma forma de ter voz. Eu tinha acabado de iniciar os estudos de enfermagem quando adquiri o título de eleitor. Eu fiquei muito feliz”, recorda dona Cremildes.

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Cremildes consegue visualizar por meio de sua vivência as mudanças e a importância da mulher escolher seus representantes no poder. “Eu olho para trás e vejo quanta coisa mudou. A minha avó, por exemplo, não teve o direito de votar e a vida que ele teve foi bem diferente da minha. Por meio dessa comparação consigo enxergar com clareza a importância de nós mulheres termos o poder de decisão”, acrescenta Cremildes.

Ela destaca que a realidade já mudou, mas tem consciência de que a luta das mulheres deve seguir e todas devem estar atentas aos processos de mudanças. “A nossa história de luta é permanente, pois para nós mulheres tudo é mais difícil. Eu lembro muito bem que quando escolhi estudar enfermagem a minha própria família criticou, já pensou o que é isso”, reflete.

Leny May da Silva Campêlo, Cientista Social, Mestranda em Ciência Política PPGCP/UFPA, 61 anos , avalia como positivo os 92 anos da conquista do voto feminino. “Considero que podemos fazer uma avaliação positiva. A luta dessas mulheres pioneiras deu, e continua dando, muitos frutos. O direito ao voto para as mulheres está universalizado. 92 anos depois, somos 52,65% do eleitorado. Obtivemos conquistas importantes na legislação eleitoral, que contribuem para incrementar nossa participação política e nossa representação nos executivos e legislativos. A cota de gênero, na lista de candidaturas; a destinação de recursos do Fundo Partidário para promover a participação política das mulheres; a cota de gênero na propaganda partidária e eleitoral; a cota de gênero, na destinação dos recursos do Fundo Eleitoral, são exemplos dos avanços na legislação.

Ela acrescenta ainda que a participação no Parlamento, especialmente o Federal, tem ocorrido de forma articulada com a criação de Secretarias e Procuradorias da Mulher. O que era impensável no início do século XX, hoje é um fato.” As mulheres são as mais escolarizadas e exercem profissões que, antes, eram restritas aos homens. Na Ciência, no mundo dos negócios, nos serviços de transporte, na produção agrícola, nas forças de segurança, para todo lado que se observe, lá estão as mulheres. É suficiente? não. Considerando nossa participação no eleitorado, estamos sub-representadas nos espaços políticos e de poder. Além de sermos alvos de violência política de gênero. Uma manifestação misógina dos que não aceitam que as mulheres ocupem, e vão ocupar, cada vez mais, espaços na sociedade”, destaca a cientista política.

Leny Campêlo diz que não se apega à conquista ser tardia ou não. Ela defende que não é suficiente assegurar o direito ao voto, para que ocorra um impacto concreto à uma cidadania plena. A pesquisadora destaca que é necessário mudanças na legislação e, ao lado disso, é necessário criar condições que propiciem a participação social e política das mulheres. “O que implica em investimentos em equipamentos sociais: creches, escolas de tempo integral, serviço de saúde, restaurantes populares, lavanderias públicas, ou seja, políticas públicas de cuidados que liberem as mulheres do aprisionamento dos estafantes e tediosos serviços domésticos. E, isso precisa ser visto como algo de interesse e responsabilidade de toda a sociedade, e não uma questão de interesse privado das mulheres. E, sem dúvida, superar a cultura machista na sociedade”, acrescenta.

Mesmo com conquistas com relação aos direitos das mulheres, a mulher ainda faz parte do grupo de vulnerabilidade. E a pesquisadora diz que a luta não segue uma trajetória linear. “Conquistamos leis de proteção às mulheres contra a violência de gênero, mas, em 2022, o país é considerado inseguro para nós. Crescemos nossa participação nos espaços de poder, e em 2021, foi necessário aprovar uma lei que criminaliza a violência política de gênero. Porque é perigoso para as mulheres estarem na política. Ao lado disso, temos enfrentado um período muito duro de crise econômica. O impacto deste cenário sobre as mulheres é devastador. Apesar de compormos 44% da força de trabalho, o nível de desemprego e de subutilização é maior entre as mulheres, e a nossa renda é 22% menor que a dos homens, segundo o IBGE”, esclarece a pesquisadora.

Maria Rita Barboza Rocha, 17 anos, é acadêmica de medicina. Este ano ela vai estrear o direito de votar. A jovem diz que encara a responsabilidade do primeiro voto como o ponto de partida primordial para a consolidação dos ideais que os jovens e adolescentes vêm construindo ao longo do tempo. “Vejo como uma forma de exercer a criticidade e a cidadania e de lutar pelo nosso país não só pensando no individual, mas no coletivo”, diz a jovem.

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Sobre a importância da participação da mulher no direito ao voto, ela diz que é uma grande vitória, pois durante muito tempo as mulheres foram ocultadas das questões políticas e sociais do país, residindo em uma realidade hostil e sem perspectiva de mudança. “Mas agora, podendo votar, temos a oportunidade de alterar a nossa realidade em prol de questões femininas que durante muito tempo foram desvalorizadas e esquecidas”, reflete a estudante de medicina.

Sobre o feminismo no meio político, a jovem enxerga como primordial, pois ainda é muito subjugado e estereotipado na sociedade. “Com essa grande era da desinformação, as pessoas, infelizmente, julgam uma corrente de suma importância para os direitos femininos sem ao menos conhecer seus princípios de perto.Mesmo com muita luta e dedicação, ainda ocupamos menos de 10% no cenário político do país, e isso é preocupante. Por isso acredito que o feminismo seja crucial ,com projetos de afirmação e interação, que busquem mostrar para a sociedade que nós mulheres temos ampla capacidade de exercer grandes cargos políticos e representativos, melhorar a nossa nação e garantir direitos que permaneceram violados durante tanto tempo”, avalia Maria Rita.

A conquista

Em 24 de fevereiro de 1932, o voto feminino passou a ser assegurado pela legislação brasileira. A vitória foi conquistada depois de mais de 50 anos de mobilização e luta dos movimentos feministas, que reivindicavam o direito no final do século XIX, antes mesmo da proclamação da República.

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