Mulher que teve intestino perfurado durante o parto continua em estado gravíssimo
Secretaria de Saúde cita números e afirma que o Hospital Materno Infantil de Marabá trabalha no limite

Ainda é considerado gravíssimo o estado de saúde da jovem Tereza Nunes de Castro, de 23 anos. Ela teve o intestino perfurado durante o parto do segundo filho, em outubro do ano passado, no Hospital Materno Infantil (HMI), em Marabá, sudeste do Estado. De acordo com a família da moça, os médicos estão pessimistas. “A pressão foi normalizada, mas ela teve febre de ontem para hoje (26). Os médicos também descobriram que os rins dela estão comprometidos. O abdômen também ainda está muito infeccionado e continua sangrando”, relatou a mãe da paciente, Regiane de Castro. Também durante o parto, o bebê teve o braço fraturado e se recupera em casa, aos cuidados da família. “Ele está bem. Essa semana, ele foi diagnosticado com uma anemia, mas que já estamos tratando”, contou a avó.
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Embora tenha vindo à tona somente nesta semana, o caso de Tereza tem repercutido na cidade, principalmente nas redes sociais. A reportagem de O Liberal teve acesso a detalhes do quadro de saúde de Tereza desde o dia em que ela chegou ao HMI para dar a luz ao pequeno Abraão, informações que ajudam a traçar uma cronologia dos fatos que levaram a jovem a lutar pela vida.
Tereza deu entrada na maternidade já em trabalho de parto, sem acompanhante, sem registro de pré-natal ou qualquer acompanhamento médico, apresentando fala desconexa, desnutrição grave, pesando apenas 39 kg. De acordo com o que foi apurado no hospital, logo no primeiro atendimento, foi verificado que o bebê estava atravessado no útero, o que motivou a escolha pelo parto cesáreo e, 48 horas após o parto, mãe e bebê foram considerados estáveis e tiveram alta médica. No dia 30 de outubro, a paciente retornou ao HMI novamente, com histórico de dor abdominal, vômitos e evacuações, ferida operatória com odor fétido e desnutrição grave, quando foi diagnosticada com infecção abdominal.
No terceiro dia de internação, Tereza deixou o hospital, contrariando as recomendações médicas, e só retornou dois dias depois. Essa informação é confirmada pela mãe da paciente, que acusa o HMI de não ter comunicado à família a evasão da moça. No retorno ao hospital, já no dia 4 de novembro, Tereza recebeu tratamento medicamentoso para o quadro de infecção e, após a avaliação de um cirurgião, foi solicitada a transferência da paciente para o Hospital Municipal de Marabá (HMM), o que ocorreu no dia seguinte.
No HMM, foi identificado um abscesso (uma espécie de cisto com pus), que foi drenado na unidade. E, no dia 19 de dezembro, Tereza foi transferida para o Hospital Regional do Sudeste do Pará (HRSP), onde segue sendo mantida em coma induzido e entubada. Por lá, ninguém comenta oficialmente o quadro da jovem, mas familiares afirmam que ela já recebeu todos os cuidados recomendados para o caso. “Ela só tem 23 anos. Estamos tristes, orando para que ela fique boa e esse pesadelo acabe. Mas o caso dela está muito grave. Tem que ter fé em Deus para que ela fique bem logo”, disse Regiane.
A reportagem procurou o Conselho Municipal de Saúde para entender quais as próximas providências a serem tomadas pela entidade, mas não teve resposta até a conclusão desta reportagem.
O que diz a Secretaria de Saúde
Os detalhes chocam e nossa reportagem procurou a Secretaria Municipal de Saúde para entender qual é a real situação da única maternidade pública do sul e sudeste do Pará. Em entrevista exclusiva, a secretária de Saúde de Marabá, Mônica Borchart, forneceu dados que ajudam a compreender as dificuldades do HMI.
Perguntada sobre qual a capacidade de realização de partos na casa de saúde, a secretária ressalta que o Hospital Materno Infantil menciona dados que preocupam. “Em um cenário ideal, nossa maternidade faria com tranquilidade 400 partos mensais. Mas a nossa realidade hoje é de cerca de 620 partos por mês”, afirma a secretária. “O HMI foi pensado para atender a demanda doméstica de Marabá, mas a falta de hospitais desse perfil na região faz com que gestantes de vários municípios venham procurar atendimento aqui. Atualmente, mais de 50%, 60% dos atendimentos que nós realizamos é de parturientes de outras cidades. Isto satura o hospital."
Ao analisar a estrutura da maternidade, Mônica ressalta que o Hospital Materno Infantil é o único com leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e UCE (Unidade de Cuidados Especiais) do interior do Pará. A secretária de Saúde também afirma que o HMI possui taxa de mortalidade de 1,83%, uma das menores do Estado, quando o índice considerado aceitável pelo Ministério da Saúde é de 2,6%. Mas ela reconhece que essa taxa poderia ser menor se as pacientes que chegam ao hospital tivessem um pré-natal completo. “A grande maioria vem até nós porque não conseguiu atendimento no município de origem, sem regulação ou exames básicos, como hemograma”, conclui Mônica, destacando que uma auditoria interna foi aberta para apurar o caso. Ainda de acordo com a secretária, Ministério Público Estadual e Conselho Regional de Medicina do Estado do Pará também acompanham a situação, para os quais serão encaminhadas as conclusões da auditoria assim que esta for finalizada.
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