Levantamento revela que mercado brasileiro segue estereótipos de raça e gênero
A boa notícia é que o número de protagonistas negras chegou a 25% nas peças publicitárias
Alton Mason fez história como o primeiro modelo negro a cruzar as passarelas de um desfile da Chanel. Apesar de Pharrell Williams também ter participado do mesmo desfile, Mason foi o primeiro modelo profissional homem a desfilar nos 109 anos de história da grife francesa.
"Abençoado por desfilar pela Chanel no Museu do MET. Isso é um momento que nunca esquecerei. Ter a oportunidade de ver toda a arte dentro do museu e trabalhar com esse time incrível foi surreal. Ser o primeiro modelo negro a desfilar pela Chanel. O que? Ainda não consigo acreditar", escreveu em seu Instagram.
Mason estreou pela Chanel em 4 de dezembro, em desfile inspirado na cultura egípcia e realizado dentro do Metropolitan Museum de Nova York, nos Estados Unidos. A coleção do desfile Métiers d’Art foi feita por artesãos de todos os ateliers do grupo. Se parece ainda espantoso que em pleno século XXI só agora uma grife internacional tenha rompido com este tipo de paradigma, quando se olha para a realidade brasileira o panorama é ainda mais ortodoxo.
As propagandas exibidas na TV brasileira e os posts de marcas nas redes sociais, apesar de estarem em um notório processo de evolução e mudanças, ainda reforçam estereótipos e continuam a não representar a real diversidade de raças e gêneros da sociedade.
O diagnóstico sobre as campanhas publicitárias brasileiras é resultado do estudo “TODXS – Uma análise da representatividade na publicidade brasileira” feito pela agência de propaganda Heads que, em parceria com a ONU Mulheres, mapeia a representatividade de gênero e raça na publicidade no país.
Nesta sétima etapa do projeto – que teve início em julho de 2015 -, a agência monitorou todos os comerciais veiculados nos canais de televisão (aberta e fechada) de maior audiência no País durante uma semana (de 23 a 29 de julho de 2018). Nas 2.149 inserções analisadas foi possível perceber que nesta sétima onda do estudo há de fato um impacto efetivo e perceptível das discussões sobre equidade de raças e gêneros na publicidade brasileira, apesar de ainda estarmos distantes do ideal de representatividade na propaganda.
Os dados que melhor sinalizam essa evolução é o número de protagonistas negras, que chegou a 25% de participação nas peças publicitárias – esse é o maior percentual da série. Até a onda anterior do estudo, as histórias que empoderavam mulheres negras estavam restritas a demonstrar autoestima e domínio sobre seu destino.
A onda recém lançada mostra as mulheres negras sendo protagonistas por novos e amplos aspectos, como liberdade de escolha, sendo reconhecida por seus talentos e empreendendo. Além disso, há uma ampla maioria de negras anônimas protagonistas em relação a celebridades - dado considerado pela agência como positivo pois normatiza a presença de negras em situações de consumo. Esses dois fatores em conjunto significam um salto qualitativo na representação das mulheres negras.
Já quando falamos sobre protagonistas homens e negros, os dados ainda são muito baixos. Quando olhamos os coadjuvantes, o percentual de negros é bem mais representativo, podendo ser maioria em alguns casos. Isso significa que a diversidade ainda fica em segundo plano e o protagonismo continua majoritariamente branco.
Para Isabel Aquino, diretora de planejamento da Heads e responsável pelo estudo, “recebemos, em média, 5 mil mensagens publicitárias por dia. Mesmo não memorizando todas essas mensagens, inevitavelmente acumulamos conteúdos e informações que impactam a nossa maneira de enxergar e entender o mundo. A realidade social em que vivemos e os dados do estudo mostram que estamos ainda distantes de um ideal de equidade”.
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