Afrofuturismo valoriza negros por meio de elementos e conceitos da tecnologia

Movimento cultural utiliza arte com foco em conexões para o futuro

Ize Sena | Especial para O Liberal
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O que dois jovens paraenses, nascidos no bairro do Jurunas, periferia de Belém, têm em comum? Nas mãos, o talento nato da criação artística. No coração e na mente, a vontade de tornar a população negra protagonista da sua própria história.

Eles são dois representantes do Afrofuturismo no Pará. O movimento cultural consiste em usar elementos e conceitos da tecnologia para inserir o negro em um novo futuro. Nesse cenário, a população de homens e mulheres pretas assume o papel de personagem principal. Toda essa potencialidade pode ser vista em obras literárias e ilustrações, entre outras formas de fazer cultura.

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Aos 28 anos, Gabriel Cardoso, o GC, como gosta de ser chamado, logo se define: “Eu sou um artista autodidata e sou ‘Cobra Criada’ do Curro Velho”. Foi nesse espaço da Fundação Cultural do Pará (FCP) que começou a carreira artística, aos 16 anos. Lá conheceu o Cyberpunk, gênero da ficção que é uma das principais linguagens dentro da arte feita por GC.

image Personagens retratados possuem conexão no ciberespaço através de visores coloridos (Gustavo Alves)

Hoje, ele utiliza um smartphone e um aplicativo para criar as ilustrações que dão vida aos personagens. Com uma estética própria, explora padrões, grafismos, linhas e pontos com uma paleta de cores vivas e as contrasta com diversos tons de pele de pessoas negras.

“Eu retrato heróis e personagens que têm como característica a conexão no ciberespaço através de visores coloridos, interligados com seus cérebros - metade orgânico, metade positrônico. Todos possuem um objetivo em comum, falar de personagens periféricos, afro e indígenas que usam de tecnologia para sobreviver em um mundo distópico, não muito longe do que acontece nos dias atuais”, conta.

Segundo o artista, a principal ideia desses heróis é a luta contra um poder opressor, uma metáfora contra o fascismo, machismo, homofobia, transfobia e racismo.

Se para alguns, o futuro é uma coisa distante da realidade, para outros trata-se do momento vivido agora, cujos questionamentos encontram respostas na ancestralidade.

É nisso que acredita o ilustrador e designer gráfico, Alan Furtado, conhecido como “O Afrontoso”, nas redes sociais. “Esse nome acaba brincando com uma coisa de se colocar à frente, de afrontar, e inicia com ‘afro’. Eu queria muito ter esse recorte de negritude no nome”, explica.

image O ilustrador e designer gráfico Alan Furtado acredita que é possível ser afrofuturista na Amazônia (André Oliveira / O Liberal)

Nessa conexão com o futuro, os personagens estão envoltos numa atmosfera mística, em que os corpos negros são os elementos principais. “Como a ideia do meu trabalho é sempre projetar pessoas pretas no centro, o Afrofuturismo veio com essa luz para pensar realmente no futuro, a partir do corpo negro, dessa África esquecida”.

Inspirado na potencialidade dos rios, na estética regional e na cultura pop, Alan também cria obras que confirmam: é possível ser afrofuturista na Amazônia. Um dos trabalhos mais recentes é a TecnoBarca, feito especialmente para a capa do EP Guajará Sound. Na obra, o colorido das aparelhagens ilumina o céu da Baía do Guajará, enquanto o barco leva a cultura tipicamente paraense.

“Esse trabalho ilustra as músicas feitas por pessoas jovens da Amazônia, explorando o tecnobrega, que por si só é amazônida futurista e tem pessoas negras pensando e recriando essa musicalidade”, explica. Para o artista, mesmo com todo o aparato tecnológico, o futuro encontra respostas no passado. “Acredito muito que o futuro é ancestral. Nossos corpos de pessoas negras são as pessoas que estão aqui. Todo esse conhecimento já está com a gente. Então, é olhar o passado para tentar projetar o futuro”, acredita.

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