Kitesurf: esporte que 'salga o corpo e adoça a alma' tem embaixador no Pará, o chef Thiago Castanho

Modalidade colore os céus das praias do nordeste paraense durante o mês de julho

Alan Bordallo / Especial para O Liberal

Julho não traz só o calor – o mais forte, no caso – para a Amazônia, como também abre a temporada dos ventos, que se tornam mais intensos no decorrer do segundo semestre. E, para além de equilibrar um pouco a temperatura, estes ventos são muito esperados pelos riders, como se intitulam os apaixonados pela modalidade que colore os céus das praias: o kitesurf. Na terceira parte da nossa série de esportes ao ar livre vamos decolar no esporte que, segundo os praticantes, salga o corpo e adoça a alma.

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Empinar pipa sempre esteve entre os programas mais populares do veraneio paraense. Mas as proporções deste objeto começaram a mudar no céu desde 2004, quando pela primeira vez houve um curso de kitesurf no Estado. Na época, o evento foi promovido por um waterman, “título” conferido aos esportistas que demonstram desenvoltura em múltiplos esportes náuticos. Seu nome é bem conhecido por quem frequenta as praias paraense, como Alex Cavalcante, que acumula experiência de 40 anos de surf.

“O pessoal diz que eu só saio da água para comer e dormir”, brinca Alex.

image Praias do Pará ganham cada vez mais praticantes (Filipe Bispo/Especial para O Liberal)

Porém, apesar de ter tudo para se consolidar como um pioneiro da modalidade, Alex não foi laçado pelo kite de primeira. “Na época eu estava na canoagem oceânica, já remava de canoa havaiana e surfava muito”, lembra ele. Ainda assim, ali a semente foi plantada e os adeptos começaram a se multiplicar.

Hoje não há dados oficiais do número de praticantes no Estado, mas a comunidade só cresce. Alguns estimam que haja mais de mil riders espalhados pelos vários “picos” disponíveis no Pará (Salinópolis, Ajuruteua, Crispim, Outeiro, Icoaraci, Santarém, Marajó e até Belém, quando tem o vento adequado, são alguns deles).

É justo dizer que grande parte do público que hoje pratica o esporte é composto de surfistas que, ao verem a temporada de surf no Pará acabar (o surf de água salgada é praticado no primeiro semestre) procuraram outra maneira de estar nas ondas. E encontram algo que os surpreende. “O kite é o surf com superpoderes”, resume Alex.

Kitesurf especial verão

E não é fácil entender a metáfora: basta lembrar que, com velocidade e habilidade, o praticante consegue decolar, saindo do mar para o ar. “Quando as condições de surf não são ideais, com muito vento deixando a onda ‘balançada’, vamos para o kite. Com ele consigo surfar de maneira muito mais potente e divertida. No fim das contas o que a gente busca é a diversão”, completa.

Outra fatia significativa dos praticantes também está ligada ao surf: é composta por aqueles que, por um motivo ou outro, não surfam mas buscam a experiência. Esse é o caso do chef de cozinha, apresentador e youtuber Thiago Castanho, que encontrou no kitesurf o estilo de vida que perseguia. “Eu sempre quis fazer um esporte de água e na época que tinha o restaurante não dava para surfar. O surf exige que você esteja muitas horas na água, vários dias seguidos, e isso para pegar só uma onda. No kite a curva do aprendizado é mais rápida. Com uma semana você já está velejando”, explica ele.

image Thiago Castanho se tornou uma espécie de 'embaixador' do kite no Pará (Filipe Bispo/Especial para O Liberal)

Além dessa facilidade, em comparação com o surf, o kitesurf abre um leque de possibilidades grande para os praticantes. “Você pode fazer kiteturismo, fazer downwind de uma cidade a outra, como fizemos no ano passado, chamado de Amazônia Atlântica.

E dentro do próprio esporte há variações nas pranchas, podendo usar a bidirecional, a própria prancha de surf, o foil. Não é só uma pipa e uma prancha”, garante Castanho, que se converteu em uma espécie de embaixador do esporte, usando sua visibilidade para divulgar a paixão. “São tantas variações dentro do mesmo esporte que não dá para enjoar”, assegura.

Mais que um passatempo

Mas há também quem tenha descoberto essa paixão por mero acaso – e transformado o que era um hobby em uma fonte alternativa de renda. Aconteceu assim para a administradora Alvelina Fontes: um dia ela estava na praia e se encantou com a quantidade de pipas coloridas no céu. “Pensei: ‘nossa, que legal, mas deve ser preciso um caminhão para carregar isso’. Mas não vi nenhum caminhão. Quando descobri que o equipamento se guardava em uma mochila resolvi que ia fazer”, conta ela.

Isso aconteceu há mais de 12 anos. E logo no início ela foi mordida pelo bichinho do kitesurf. Cada vez mais empolgada, ela decidiu levar a prática ao próximo nível e se tornou a primeira mulher certificada pela Organização Internacional de Kitesurf para se tornar instrutora no Pará (e até hoje é a única medalhista do Estado em uma competição.

“Na época que comecei, éramos duas ou três mulheres. Hoje no nosso grupo são mais de 60, fora as que vêm, fazem o curso e vão embora”, diz ela, sem esconder o orgulho do feito. O mês de julho ela passa todo em Salinas, ajudando a formar novos riders. “Já formei mais de cem alunos”, diz.

image Avelina Fontes é referência no estado (Filipe Bispo/Especial para O Liberal)

A popularização do esporte se deu através de um “círculo virtuoso”. Conforme mais pessoas entraram, o “mercado” se aqueceu; praticantes antigos começaram a renovar seus equipamentos e vender os antigos, o que oportunizou que mais pessoas encontrassem facilidade para entrar na modalidade. Em uma dessas voltas, Anderson dos Santos, natural de Salinas, entrou no esporte – e não saiu mais.

Ele conta que aprendeu a velejar com um primo e viu que levava jeito. Hoje, com 27, é instrutor e tem no esporte eu ganha pão. “Trabalho há 10 anos como instrutor, já tive muitos alunos e vejo 80% deles ainda no esporte. É gratificante poder ajudar pessoas a desenvolver esse sonho. E também trabalhar com o que gosto”, diz ele, que entra na água em média cinco vezes por dia. “Todos os dias. Tenho muito amor por isso”, diz.

Se para Anderson o esporte foi a abertura de uma perspectiva no início da vida profissional, para Edelzio Geraldo, o Paulista, o kitesurf foi um refúgio para sua aposentadoria. Ele conta que está no esporte há 13 anos e escolheu o kite por ter aversão aos paradigmas associados à aposentadoria.

“Trabalhava com dois celulares e quando me aposentei meu maior problema era ter o que fazer. Via o pessoal jogando dominó e pensava: ‘não quero fazer isso’. Nunca gostei de sentar para fazer nada”, diz ele, que se deparou com as pipas em uma viagem pelo Nordeste. “Comecei a aprender em Natal-RN e terminei aqui, com um instrutor de Recife. Fiz três dias com ele e depois terminei sozinho. Sempre nadei bem, então me adaptei rápido”, conta ele.

image "Paulista" comprova que, para o kite, não há idade (Filipe Bispo/Especial para O Liberal)

O Paulista diz se espantar em ver pessoas mais novas que ele ainda resistentes à ideia de se lançar a um esporte de aventura. “Vejo pais de 40, 50 anos trazendo os filhos para aprender e pergunto se não vão ficar também. Eles me dizem que estão velhos. Bom, para mim funciona”, brinca ele, enumerando a qualidade de vida que o esporte o empresta. “Meu medo era ficar senil. Aqui eu tenho que saber andar na prancha, me equilibrar, controlar o vento, potência. Para a cabeça isso é uma delícia”, finaliza.

Componentes do kite:

♦ Prancha, bomba, barra, trapézio e pipa.

É preciso entre 12 e 15 nós de vento para decolar a pipa do kite.

Escolas e instrutores de Kite:

@adc_kite_surf_school

@alvelinafontes

@hotelsalinopoliskitepoint

@kitepointsalinopolispara

@piratas_do_kite

Glossário:

♦ Prancha direcional: tem um lado de proa e um de popa, como a de surf.
♦ Prancha bidirecional: tem os dois lados iguais.
♦ Rider: o velejador, praticante de kitesurf.
♦ Downwind: significa “a favor do vento”, é uma modalidade do kite que se começa a velejar em um ponto e termina em outro.
♦ Flat: quando o mar está liso, sem ondas.
♦ Chop: quando mar está agitado, com ondas e “carneirinhos”
♦ “Torando”: vento muito forte.
♦ Knots ou nós: métrica de vento.
♦ Haole: pessoa que não respeita muito as regras do velejo ou não veleja bem.
♦ Crowdeado: quando o lugar está cheio.
♦ Orçar: “subir” contra o vento.
♦ Pico: uma praia ou local bom para velejar

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