Da dança ao esporte: gerações do breaking do Pará falam sobre a evolução do movimento no estado

Paulo e Lívia Gadelha – tio e sobrinha – avaliam a inclusão do breaking no programa olímpico. 

Caio Maia
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Em 1984, a cidade de Los Angeles, nos Estados Unidos, foi o centro do esporte no mundo. Mais precisamente no dia 28 de julho, bilhões de pessoas acompanharam pela TV os passos de dança do cantor Lionel Ritchie na festa de abertura da 23ª edição dos Jogos Olímpicos. O que poucas pessoas sabiam é que, naquele dia, o artista trouxe para o para as Olimpíadas um novo esporte, que só seria reconhecido pelo Comitê Internacional quase 40 anos depois: o breaking.

Os giros de ponta-cabeça que os bailarinos fizeram na parte final do show de abertura, que durou cerca de nove minutos, fez brilhar os olhos do então garoto Paulo Gadelha. Na época, Paulo não era tão próximo à cultura hip-hop, movimento que deu origem ao breaking nos Estados Unidos, ainda na década de 60. No entanto, os movimentos rápidos, sincronizados e que, até o momento, rompiam com os padrões de dança, foram o suficiente para que o rapaz entrasse de cabeça na arte urbana e se transformasse em um dos pioneiros do breaking no estado.

Para o grande público, a relação entre o breaking e esporte - que até então não eram sinônimos - havia terminado com o fim da apresentação de Ritchie em Los Angeles. No entanto, para Paulo esse vínculo estava apenas começando. Segundo ele, o que era apenas uma forma de se divertir e expressar a arte no ambiente urbano foi se tornando algo sério. A rotina dos B-Boys e das B-Girls - como são chamados os praticantes do breaking - passaram a ser recheadas de treinos, dedicação e competições, assim como qualquer atleta.

"Tudo começou no bairro da Pedreira. Na época, fomos muito influenciados também pelo Michael Jackson, que também dançava o breaking. Na época, costumávamos nos encontrar na Praça da República, na esquina onde havia uma lanchonete chamada La Creme. Íamos também para a Praça do CAN, bem em frente a concha acústica. Dali surgiram pessoas que assumiram um compromisso com o hip-hop, com ênfase no breaking, e que deram continuidade à prática por gerações. Eles se articularam com o Brasil e o mundo para trazer eventos de seletivas para a cidade, fazendo de Belém um ponto da rota turística da cena do breaking mundial", explica.

Chancela necessária

image Lívia começou a se apaixonar pelo breaking vendo o pai, Luís Gadelha, e o tio, Paulo Gadelha (Sidney Oliveira/O Liberal)

Em 2021, durante os Jogos de Tóquio, o Comitê Olímpico Internacional (COI) anunciou o breaking como novidade para as Olimpíadas de Paris, em 2024. A partir disso, a dança originada no movimento hip-hop se tornaria, de fato, um esporte. A chancela, dada pela entidade que controla o maior evento do esporte mundial, foi necessária, de acordo com Paulo. Segundo ele, a apresentação de Lionel Ritchie em 1984 antecipava o que ocorreria anos depois.

"Os caminhos não são diferentes da apresentação de 1984. Para o mundo ver mais o breaking, era preciso que ele estivesse nos Jogos Olímpicos. No entanto, a partir disso, é importante que a gente faça a nossa parte. É importante que tenha uma nova instituição de breaking no Pará, que consiga trazer ranqueamentos oficiais e formar atletas. Precisamos, também, ter os avais COI e do COB, para que a gente possa conseguir mais vagas na Seleção Brasileira de breaking, onde já tem alguns paraenses", disse.

Nova geração

image Lívia Gadelha conquistou medalha de prata na Gymnasiade (Divulgação)

A tradição da cultura hip-hop e, consequentemente, do breaking, é passada por gerações. Hoje, um dos principais nomes do esporte no estado é Livia Gadelha, de 18 anos, sobrinha de Paulo. Ano passado, ela conquistou a medalha de prata na Gymnasiade, no Mundial Escolar.

Ao contrário do tio, Lívia vem de uma geração que encontrou um breaking mais "profissionalizado". Mesmo antes da chancela esportiva, a dança já era motivo de competições entre praticantes de todo o mundo, assim como esforço e dedicação pros, até meses atrás, somente dançarinos.

De acordo com Lívia, o breaking é uma dança, mas que também pode ser considerada esporte. De acordo com ela, movimentos corporais como breaking podem ser considerados uma prática esportiva, já que requer esforço físico e mental, assim como qualquer outra modalidade.

"Pessoas que transmitem o que sente através de movimentos corporais devem ser consideradas atletas. Acho a inclusão do breaking no programa olímpico como algo muito diferente de games ou jogos eletrônicos, que provavelmente vão virar modalidade olímpica um dia. Isso é muito diferente de algo artístico como a dança", explicou.

Lívia também falou da necessidade de preparação física para participar de competições. Segundo ela, no caso do breaking, é necessário equilibrar os treinamentos entre os movimentos da dança e a manutenção de condicionamento físico.

"De manhã eu treino, de tarde vou para a escola e de noite faço outro treino, mas de um modo diferente, mais com relação a dança. A saúde de um atleta tem que estar sempre equilibrada, eu já estou acostumada com meu peso então sempre preciso manter. Meu pai fazia parte de uma companhia de dança então ele sempre nos acostumou a ter uma alimentação saudável. A dica é evitar coisas industrializadas e focar nos alimentos naturais", finaliza.

Como será o breaking nas Olimpíadas?

A disputa do breaking em Paris 2024 consistirá em confrontos individuais. Os 16 B-Boys e as 16 B-Girls vão participar de disputas solo para definir os primeiros medalhistas do esporte nas Olimpíadas. Serão dois eventos: masculino e feminino. Os atletas serão classificados por meio dos desempenhos no campeonato mundial da modalidade, que acontece neste ano, e nos torneios continentais.

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