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Visto de trabalho para nômades digitais já é realidade em vários países, incluindo o Brasil

Confira as regras em alguns países e as experiências de quem trabalha remotamente

Enize Vidigal
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A expansão da possibilidade de trabalho remoto, especialmente após a pandemia, vem estimulando muita gente a trabalhar de qualquer lugar do planeta. O profissional com esse estilo de vida ganhou um nome: nômade digital. O regime de trabalho em home office soma mais de 35 milhões de adeptos pelo mundo, segundo o Relatório Global de Tendências Migratórias 2022. A estimativa é que até 2035 existam cerca de 1 bilhão de nômades digitais.

O paraense Marcelo Campos, de 30 anos, trabalha como gerente de comunidades na área de marketing de uma empresa de software e, há três anos, virou profissional nômade quando a empresa adotou o trabalho remoto. “Eu morava em São Paulo e pagava aluguel caro. Decidi usar o dinheiro em plataformas de aluguel por temporada em várias cidades. Assim consigo viajar e trabalhar’”, conta. Viajando, ele conheceu outro nômade na Argentina, Samuel, 27, que se tornou o companheiro dele há um ano e meio. “A gente tinha o mesmo estilo de vida, decidimos nos juntar nessa grande aventura”. O casal já percorreu oito países e mais de 30 cidades e, atualmente, está em Almería, na Espanha. 

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Atualmente, países da Europa, Oceania, países árabes e até mesmo o Brasil possuem o visto para nômades digitais. Em muitos casos, os países exigem a comprovação de trabalho realizado fora do país para uma permanência mais estendida, além do tempo médio de três meses fixado para turistas. 

O nômade pode permanecer até um ano ou mais, dependendo do país.  Essa modalidade de visto é menos burocrática e pode ser conseguida, no geral, com a passagem aérea e documentação que comprove a estabilidade financeira, seguro de saúde, hospedagem e viagem de volta marcada. Em janeiro de 2022, o Conselho Nacional de Imigração, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, aprovou a regulamentação do visto temporário para nômades digitais que estão no Brasil, com validade de um ano. 

image Samuel e Marcelo em Barcelona, Espanha. (Arquivo pessoal)

Confira os países que possuem vistos específicos para os nômades digitais:

  • Brasil
  • Argentina
  • Austrália
  • Alemanha
  • Albânia
  • Anguila
  • Antígua
  • Barbuda
  • Bahamas
  • Barbados
  • Bermudas
  • Costa Rica
  • Curaçao
  • Croácia
  • Dubai
  • Dominica
  • Espanha
  • Estônia
  • Emirados Árabes
  • Finlândia
  • Grécia
  • Geórgia
  • Hungria
  • Itália
  • Islândia
  • Indonésia
  • Ilhas Cayman
  • Ilhas Maurício
  • México
  • Malta
  • Noruega
  • Portugal
  • República Tcheca
  • Tailândia
  • Romênia.

Regras para o visto de nômade digital em alguns países:

Espanha

Pode trabalhar no país por até um ano, depois é possível aplicar para um visto de residência de três anos, que pode ser renovado por mais dois anos. Os requisitos são ter graduação ou pelo menos três anos de experiência profissional na área, seguro saúde privado, certificação de trabalho por pelo menos três meses para empresa estrangeira e ter recursos financeiros de pelo menos o dobro do salário mínimo espanhol mensal (cerca de R$ 13,381).

Canadá

Com validade do visto de até seis meses, os trabalhadores também podem tentar um visto de trabalho temporário e ficar no país por mais três anos se forem contratados por um empregador canadense.

Uruguai

Visto válido até seis meses, pode ser renovado por mais seis meses ou pode solicitar a residência temporária ou permanente. Ao entrar no país como turista, o interessado preenche um formulário online com informações pessoais e assina uma declaração juramentada confirmando que têm meios financeiros para se sustentar durante o período.

Caribe (Antígua e Barbuda, Aruba, Bahamas, Bermudas, Barbados, Costa Rica, Curaçao, Dominica, Ilhas Cayman, Montserrat, Panamá e Santa Lúcia)

As regras são semelhantes, sendo necessário não ter antecedentes criminais, possuir seguro de viagem, emprego fixo e renda anual de pelo menos $50.000 (exceto nas Ilhas Cayman, onde a receita anual deve ser $150.000). A duração do visto varia de acordo com o destino.

Austrália

Esse visto permite que morar no país por um ano.

Dubai

Esse visto permite a permanência por até um ano. A taxa de inscrição é de US$ 287 e é necessário comprovar ganhos de pelo menos US$ 5 mil por mês.

Indonésia

Os candidatos devem fazer um depósito de US$ 142.300 por pessoa ou US$ 178.000 por família.

México

Esse visto permite estender a estadia – para brasileiros sem visto é de até seis meses – para um ano. A autorização pode ser ainda prorrogada por até mais três anos.

Alemanha

Pode se registrar no escritório fiscal alemão e enviar documentos como portfólio, extratos bancários e até prova de especialização. Os freelancers devem ter clientes com sede na Alemanha.

Dubai

O visto permite aos trabalhadores remotos e suas famílias a permanência na cidade por até um ano. A taxa de inscrição é de US$ 287 e é necessário comprovar ganhos de pelo menos US$ 5.000 por mês.

Indonésia

Os candidatos devem fazer um depósito de US$ 142.300 por pessoa ou US$ 178.000 por família.

Croácia

Os requisitos incluem comprovantes de trabalho, renda anual, seguro de saúde, verificações de antecedentes e contrato de aluguel. Necessário comprovar ter pelo menos $4,544.81 dólares na conta.

Islândia

O país dá permissão de até 6 meses com possibilidade de levar a família. Para obter o visto, deve pagar a taxa de US$ 60 e outra de US$ 43, apresentar o comprovante de emprego e renda anual de pelo menos US$ 88 mil, além de seguro com cobertura de saúde.

Itália

Os freelancers que estabelecem residência legal na Itália, podem ter redução de impostos de 70% nos ganhos gerados no país. O visto de autônomo é válido por 2 anos, sendo exigidos documentos de apoio, como comprovantes de acomodação e de renda.

Noruega

O visto exclusivo para nômades digitais permanece válido por toda a vida do viajante.

Portugal

O visto de residente temporário para freelancers e empresários pode ser usado para viabilizar a residência permanente.

Experiências no exterior

“A experiência é muito enriquecedora, principalmente quando se trata de conhecimento cultural, adaptação, descobertas, liberdade, superação, networking… O bacana é ampliar o conhecimento e trazer essas experiências para o dia a dia. A mente se amplia e isso acaba refletindo na tua vida e no teu trabalho”, conta Marcelo.

A vida de nômade exige planejamento e pouca bagagem. “Não é um estilo de vida fácil, pois exige muito planejamento, cálculos, organização financeira, desprendimento e preparo emocional. Eu sinto que minha vida virou um ‘não sei onde vou estar daqui a duas semanas, preciso ter um planejamento a médio prazo’”, diz o paraense. O casal ainda não deu entrada no pedido de visto de nômade digital na Espanha porque não decidiu quanto tempo ficará no país.

“Hoje, a minha vida cabe dentro de uma mochila. Tenho poucas roupas e objetos que carrego comigo. O restante doei ao longo dessa jornada. Não importa se eu vou repetir a peça, mas sim o que posso viver de experiências pelo mundo. Gasto com viagens, sem me importar com coisas irrelevantes”. 

image Rennato Testa e Soraya Aggege, no Palácio de Cristal, em Madri. (Acervo pessoal)

Já o casal de jornalistas de Campinas, em São Paulo, Soraya Aggege, 58, e Rennato Testa, 70, já percorreu países como Amsterdã, Bruxelas, Espanha, Itália, Grécia, Turquia, deserto do Saara na Tunísia e Marrocos. Ela presta serviço a duas empresas de comunicação e de arqueologia, de forma remota, enquanto ele faz fotografia profissional como freelancer. “Toda vez que eu viajo, eu levo o trabalho”, conta ela, que costuma passar meses fora do Brasil com o marido. 

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A pesquisa apontou também que 95 mil pessoas trabalharam por meio de aplicativos e de plataformas digitais, no péríodo.

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Eles acabam de chegar a Madri, de onde seguirão para Granada, na Espanha. “Não me considero nômade porque não estou podendo viajar muito, mas é viável. Na Europa, você pode ficar até três meses com visto de turista e também pode pegar visto para outros países. Eu posso estar em qualquer lugar para fazer o que eu faço, que é relacionamento com a imprensa, relacionamento e conteúdo para cliente, é super tranquilo”, recomenda a jornalista. 

Com a diferença de 5 horas de fuso-horário, ela consegue ter as manhãs livres e trabalhar somente à tarde. “A gente costuma viajar bastante e o trabalho segue sempre”. Ela aponta que ser nômade funciona bastante para o jornalista, especialmente se o profissional possui credencial da Federação Internacional de Jornalista (FIJ) para utilizar na Europa, onde não paga ingresso em atividades culturais, o que ajuda nas despesas e na possibilidade de ampliação do leque cultural. “É uma maravilha poder sair pelo mundo e fotografar”, comemora Rennato.

Nômades no Brasil

O casal de paraenses César Modesto, 37, jornalista e redator, e Daniela Walendorff, 38, mentora de posicionamento digital, começou a viajar de carro pelo Brasil há dois anos. “A nossa ideia não era ser nômade digital, mas se estabelecer em Florianópolis. A gente planejou a viagem e foi parando na estrada em Imperatriz (MA), Palmas (TO), Goiânia (GO), Campinas (SP), Curitiba e Florianópolis (PR). Quando a gente chegou, ainda tinha uma grana para se manter. A Dani já trabalhava com mentoria online, o que dava flexibilidade para ela, e comecei a focar nos trabalhos freelancers. A gente percebeu que dava para manter esse estilo de vida”, conta ele. 

image Cesar Modesto e Daniela Walendorff, no litoral brasileiro. (Acervo pessoal)

O casal percorreu 16 cidades, principalmente da região Sul do país, levando dois cães e dois gatos e, em novembro, deu uma pausa mais longa em São José dos Pinhais, Paraná, pois a Daniela engravidou e o pequeno Heitor, que agora já está com dois meses.

“Ser nômade digital não é ser turista. A gente vive como se fosse nativo do lugar, tem que se adaptar ao estilo de vida da população, conhecer os lugares mais baratos para comprar comida, abastecer o carro, planejar com cuidado o lugar da estadia. Viajar em curtos espaços de tempo é muito cansativo e pode atrapalhar o planejamento. O ideal era passar três meses em cada lugar. A gente percebe que não precisa de muito para viver. Quanto menos coisa você tem, mais longe você vai.  A nossa casa cabe dentro de um carro”, descreve César.

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