Desemprego de longo prazo: veja dicas de como se recolocar no mercado de trabalho
Profissionais qualificados e com experiência enfrentam dificuldades para retornar ao mercado
Mesmo em um cenário de recuperação do mercado de trabalho, o desemprego de longo prazo segue como um dos principais desafios para milhões de brasileiros. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) do segundo trimestre de 2025 mostram que mais de 1,2 milhão de pessoas estão há dois anos ou mais sem conseguir uma recolocação, enquanto 1,9 milhão permanecem fora do mercado há mais de um ano. Os números contrastam com a taxa de desocupação de 5,6%, a menor da série histórica iniciada em 2012, segundo o IBGE.
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O fenômeno é conhecido como desemprego de longo prazo e se caracteriza por trabalhadores que continuam procurando uma vaga, mas não conseguem se reinserir por um período prolongado. Diferentemente do desalento, esses profissionais seguem ativos na busca, apesar das sucessivas negativas. A situação chama atenção justamente por ocorrer em um momento de aquecimento do mercado, o que revela desequilíbrios estruturais e critérios cada vez mais restritivos nos processos seletivos.
No centro desse dilema estão profissionais qualificados, muitos com formação superior, domínio de idiomas e histórico de experiência, que ainda assim enfrentam dificuldades para retornar ao mercado. De um lado, há quem tente resistir e permanecer atuando na própria área. De outro, a pressão econômica, o desgaste emocional e o estigma social empurram parte desses trabalhadores a aceitar vagas abaixo da qualificação, com salários menores e pouca perspectiva de crescimento.
Contexto econômico
Mesmo com a melhora nos indicadores e a retomada de setores importantes da economia, a recolocação não ocorre de forma homogênea. O mercado exige hoje múltiplas competências, experiência prática comprovada, domínio de tecnologias atualizadas e alto grau de flexibilidade. Para quem ficou afastado por longos períodos, acompanhar esse ritmo se torna mais difícil, ampliando a sensação de exclusão.
Além do impacto financeiro, o desemprego prolongado afeta diretamente a autoestima e a saúde mental dos trabalhadores. A ausência de renda estável, aliada à repetição de processos seletivos sem retorno, reforça inseguranças e aumenta a pressão para aceitar qualquer oportunidade disponível, ainda que distante da trajetória profissional construída ao longo dos anos.
Como se destacar e buscar a recolocação
Para enfrentar esse cenário, estratégias bem definidas podem fazer diferença. A psicóloga empresarial e psicoterapeuta Renata Leal explica que a primeira triagem de currículos é decisiva. Segundo ela, “na primeira triagem, estamos em busca de rapidez e assertividade. Um currículo que demonstra aderência real à vaga, com informações claras, bem organizadas e focadas em resultados concretos, se destaca. Experiências descritas de forma objetiva, com entregas e impactos, facilitam a leitura e a tomada de decisão. Currículos genéricos, extensos ou confusos tendem a ser eliminados rapidamente por não evidenciarem habilidades e competências para a posição.”
Para profissionais que estão há muito tempo fora do mercado, a transparência pode ser um diferencial. “Quando o profissional consegue explicar esse período com maturidade, destacando aprendizados, desenvolvimento de competências, cursos, projetos pessoais ou experiências relevantes, isso se transforma em ponto positivo. Além disso, postura segura, comunicação clara e coerente transmitem autoconfiança e preparo emocional, fatores cada vez mais valorizados em processos que realizamos”, afirma.
Renata ressalta ainda que comportamento e habilidades socioemocionais têm peso crescente nas decisões de contratação. “Experiência e conhecimento técnico são importantes, mas as soft skills, como por exemplo: comunicação, responsabilidade, adaptabilidade, inteligência emocional e trabalho em equipe. Visualizamos como imprescindíveis tanto para a contratação quanto para a retenção de talentos. Pela nossa experiência entendemos que empresas buscam profissionais que saibam se relacionar, aprender continuamente e lidar com desafios de forma emocionante madura”.
Erros de postura durante entrevistas também podem comprometer o desempenho do candidato. “Falar mal de experiências anteriores, adotar postura defensiva, demonstrar despreparo emocional ou desinteresse são sinais de alerta. Outro erro comum é a dificuldade de comunicar suas próprias competências, não sabendo traduzir experiências em valor para a empresa. Esses comportamentos comprometem a imagem profissional, independentemente do currículo técnico”, avalia.
Ao final, a especialista destaca que a recolocação exige planejamento e consistência. Atualizar e personalizar o currículo de acordo com cada vaga, investir em qualificação contínua, desenvolvimento emocional e networking estratégico são passos fundamentais. O preparo para entrevistas, incluindo o conhecimento sobre a cultura, os valores e o momento da empresa, também é determinante. “Isso demonstra que o candidato possui interesse genuíno e alinhamento, fatores altamente valorizados no processo seletivo que realizamos”, conclui.
Em um mercado cada vez mais competitivo, a recolocação profissional depende não apenas de currículo, mas de estratégia, atualização constante e capacidade de adaptação às novas exigências do mundo do trabalho.
*Thaline Silva, estagiária de jornalismo, sob supervisão de Keila Ferreira, coordenadora do núcleo de Política e Economia
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