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Tradicionais vendedores de rua se formalizam para garantir benefícios e expandir negócio

Mingau do careca começou com seu Vanduil cozinhando sozinho e entregando as encomendas; hoje ele faz entregas em 22 bairros de Belém

Natália Mello

A formalização de pequenos empreendedores tem sido motivada, em muitos casos, pela preocupação com o futuro e a segurança em caso de acidentes ou imprevistos financeiros, provocados por uma pandemia como a da Covid-19, por exemplo. Mas, no caso de seu Vanduil de Jesus Fernandes, de 53 anos, os benefícios passaram a ser uma consequência da expansão do seu negócio, que começou com ele mesmo fazendo as compras, cozinhando e entregando, e passou a ser um dos empreendimentos de rua mais conhecidos da cidade: o Mingau do Careca.

Hoje com 18 funcionários e 10 carrinhos, a meta do empreendedor é, até o final do semestre, ter a carteira de todos os colaboradores assinada. As vendas, ao longo de 25 anos de muito trabalho, cresceram 500%. “Quando comecei, vendia 50 a 100 mingaus por dia. Comprava o material, fazia o mingau, saia para vender, lavava panela, consertava o carro. Casei e a minha esposa passou a me ajudar. Agora vendo bastante, dá para suprir a minha vida, da minha família, minhas três filhas, e a vida dos que trabalham comigo”, garante.

image Mingau do Carepa cresceu e hoje tem 18 funcionários e 10 carrinhos (Foto: Igor Mota / O Liberal)

Careca reforça que, para que o mingau saia para as ruas, é preciso de um suporte em diversas frentes e, por isso, conta com o trabalho de tantas pessoas. “Tenho mecânico de moto por conta dos motores das bicicletas. Precisamos de suporte por conta do som que colocamos no carro, que busca o cliente na casa dele. Não é só fazer o mingau, a gente precisa de toda uma estrutura por trás. A pessoa que lava a panela, a que compra material, a que rala o coco, a que engrossa o mingau”, destaca.

Com CNPJ e contador trabalhando rotineiramente ao lado de seu Vanduil, ele passou a investir no que chamou de “projeto de legalização” do Careca. Segundo ele, enquanto empreendedor, é importante que consiga fazer com que todos saiam da informalidade, já que com a chegada do coronavírus a Belém, foram muitas as dificuldades enfrentadas, inclusive por ele.

“Não quero que as pessoas passem dificuldades. Eu era microempreendedor individual (MEI). Quando cresci, vi que havia a possibilidade de eu sair do meio e ir para a microempresa, então mudei. Já entreguei toda a documentação de cada um dos meus colaboradores, porque fica bom para mim, para eles, para o município, para o Estado, gera renda, paga nossos encargos. Estou trabalhando assim para que as pessoas se encaixem e tenham acesso a todos os seus benefícios até o final do ano. Estou trabalhando muito para isso”, afirma.

A pandemia também trouxe uma espécie de revolução na forma de vender os mingaus. Com todo mundo dentro de casa, seu Vanduil diz que passou por muitas dificuldades, mas pensou em uma forma de reverter esse cenário: a ideia foi colocar um som e fazer o seu próprio delivery. E o que no início era um som pequeno deu lugar a uma estrutura de som com bateria e carregador próprio.

“Na pandemia, eu adoeci e fiquei muito mal. Não tinha quem gerenciasse e tomasse conta. Aí comecei a entregar, mas não poderíamos gritar. E é impressionante, sem o som, é uma venda, com o som, vendemos até cinco vezes mais. Hoje entregamos em 22 bairros, entre eles Marco, Canudos, Terra Firme, Guamá, Curió-Utinga, Marambaia. Sai todo mundo daqui, cada um vai para o seu bairro, cada um tem a sua rota”, diz Careca, que mora no Marco desde que nasceu. “Imagina, comecei em Castanhal, trabalhei depois na Ceasa, depois Terra Firme, aí saía para entregar no centro comercial de Belém e explodiu o negócio, já chegava lá sem mingau. Aí decidi contratar um sobrinho que fazia o caminho, para eu chegar no centro comercial com mingau ainda. Quando vi já tinha três bicicletas”, revela.

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Pandemia também incentivou a formalização

Há 28 anos na esquina da avenida Marquês de Herval com a travessa Barão do Triunfo, no bairro da Pedreira, em Belém, Ieda Santos, de 58 anos, trabalha com a venda de coxinhas. Junto com o esposo, a empreendedora fica no ponto de segunda a sexta-feira, e comercializa salgados fritos de queijo, queijo e presunto, caranguejo, camarão e carne – os preços variam entre R$ 3 e R$ 5, sendo o mais caro a unha de caranguejo.

Moradora do bairro da Pedreira, Ieda conta que vende uma média de 50 salgados por dia, 150% a mais do que vendia quando iniciou o negócio. “Na verdade começou com a minha sogra, meu esposo também agora toma conta comigo. E conseguimos nos sustentar e sustentar o nosso casal de filhos, a mais velha tem 33, e o segundo tem 32, Camila e Alex, e ainda ajudamos a netinha, de quatro anos, a nossa Giovana”, pontua. “O sustento da minha família foi da venda de coxinhas, o estudo dos meus filhos foi da venda de coxinhas. Minha filha é formada em turismo, o meu filho vai se formar em teologia”, conta, orgulhosa.

Com página no instagram, para funcionar, o @salgadodaieda tem o certificado de MEI desde 2021. “Comecei a pagar para conseguir uma aposentadoria, para ter os benefícios, em caso de adoecer, de acidente. Até porque a rotina é puxada. Às vezes pegamos encomenda de salgadinho para festa. Tem dia que a gente não vai porque é cansativo, porque utilizamos um turno inteiro de produção, temos que acordar cedo. O meu marido vai para o supermercado, volta e fazemos tudo, em torno de 100 unidades por dia. Às 20h vamos para o ponto e ficamos até 22h, às vezes até 23h, conforme o movimento. Às vezes às 21h30 já terminou”, finaliza.

Dicas para crescer com o empreendimento

A gerente da Unidade de Relacionamento Empresarial do Sebrae no Pará, Leda Magno, reforça que todo empreendedor que deseja ter um empreendimento de sucesso e que consiga se posicionar no mercado precisa desenvolver uma gestão financeira eficiente. Para isso acontecer, ela diz que o primeiro passo é ter em mãos os controles financeiros, para, com essa régua, elaborar o plano de contas.

“Esse plano é importante, porque ajuda o empreendedor a estruturar os custos fixos, variáveis e inserir todas as tributações necessárias para que seu empreendimento seja regular. Na mesma linha, já com o controle financeiro implantado, ele consegue ter uma demonstração de resultados, e consegue o ponto de equilíbrio fundamental para o seu negócio. Tudo isso é importante, porque, quando o empreendedor tem todas essas ferramentas, esse controle, ele consegue exercer o monitoramento e consegue tomar decisões baseadas em custos e decisões muitas vezes difíceis, mas necessárias para a manutenção de um negócio no mercado”, ressalta.

Leda também lembra que a formalização é um dos aspectos importantes para o empreendedor poder se posicionar, e traz uma série de benefícios que vão desde a legalidade do processo, para que esse pequeno empresário possa contratar funcionários e agir de forma regulamentada e adequada. A formalização também permite que o empreendedor faça cadastramento juntos a fornecedores, possibilitando uma compra com custo muito mais acessível, além de possibilitar competitividade e participação em processos de compras.

“A formalização amplia as oportunidades, ou seja, traz benefícios além dos citados, que são a questão da previdência, importante para o empreendedor planejar o seu futuro. Todos esses benefícios fazem com que o empreendedor possa integrar essa legalidade, esse reconhecimento jurídico do seu negócio, ao custo que vai gerar potencialidades para ele dentro do mercado”, explicou.

Para quem trabalha no segmento de alimentação, Leda comenta a importância de estar atento às regulamentações sanitárias dispostas pelo Serviço Nacional de Vigilância, pelo Serviço Local ou Municipal de Vigilância Sanitária. “São normas de boas práticas que precisam ser padronizadas, estruturadas, para que esse empreendimento que vai atuar com a alimentação possa se adequar às normas higiênicas e sanitárias. É importante deixar claro que quem atua com alimentação também trabalha com saúde pública. Caso o empreendedor deseje algum suporte do Sebrae, basta buscar um dos nossos canais de atendimento ou as nossas agências físicas, no site www.sebrae.com.br”, concluiu.

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