Número de microempreendedores formalizados no Pará cresce 27% na pandemia

Atualmente, existem cerca de 230 mil MEIs ativos registrados em território paraense

Keila Ferreira

Os pequenos negócios que conseguiram atravessar o período de maior restrição às atividades econômicas, estabelecido em razão da pandemia do novo coronavírus, têm demonstrado sua força e poder de reação e dão sinais de recuperação – mesmo que lentamente. Somente de março a junho, cerca de vinte mil microempreendedores individuais se formalizaram no Pará, de acordo com levantamento da Junta Comercial do Estado (Jucepa), 27% a mais do que o mesmo período de 2019. Atualmente, existem cerca de 230 mil MEIs ativos registrados em território paraense, ainda de acordo com a Jucepa, com destaque para setores como comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios; comércio varejista de cosmético; perfumaria e higiene pessoal; comércio varejista de artigos de armarinho e comércio varejista de bebidas.

Dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), com base nas estatísticas do Portal do Empreendedor, apontam que, em toda a região Norte, cresceu em 40 mil o número de microempreendedores individuais desde o início da pandemia até o final do último mês – ou seja, o Pará foi responsável por metade desse crescimento. Nos estados do Norte, o número de MEIs ultrapassa os 500 mil. Os números do Sebrae consideram os registros feitos de 14 de março a 31 de julho e estão próximos do resultado obtido pela  Jucepa (que considerou de março a junho), também apontando aumento de mais de 19 mil no número de MEIs formalizados, durante a Pandemia, 9,37% a mais que o mesmo período do ano passado, resultado superior à média da região Norte (8,78%) e do Brasil (6,99%).  Isso também deu uma média de 137 registros de MEIs por dia no Estado, de acordo com a entidade.

Além do aumento no número de pessoas que resolveram formalizar seus negócios nesse período, chama a atenção a reação que elas tiveram para manter o empreendimento em meio às adversidades econômicas enfrentadas por grande parte dos setores. Pesquisa Nacional feita pelo Sebrae ouvindo quem está à frente dos pequenos negócios - Microempreendedores Individuais e donos de Microempresas (ME) e Empresas de Pequeno Porte (EPP) - mostra que no Pará, 61% desses empresários implantaram mudanças em seus estabelecimentos, em relação ao funcionamento, por causa da crise. Em outra pergunta, em relação ao funcionamento em meio às restrições de circulação de pessoas, 38% dos ouvidos no Pará informaram que estão usando ferramentas digitais e 19% outras formas de funcionamento, para conseguir manter os clientes.

São pessoas como Luana Barbosa, de 23 anos. Ela trabalha com a venda de cosméticos e maquiagem e resolveu se formalizar durante a pandemia. “Eu já trabalhava há mais tempo com isso, meu empreendimento começou a crescer nessa pandemia. Muitas mulheres vieram compra makes pra bater foto e fazer vídeos, aprender a se maquiar. Nessa pandemia foi um bom negócio, muitas mulheres se valorizaram cada vez mais”, afirma.

Ela conta que a formalização foi uma maneira encontrada para sair do desemprego. “Eu posso ter CNPJ, posso emitir notas fiscais, posso ter acesso aos cursos no Sebrae, vou ter meus direitos, benefícios, tudo que eu precisava”. Durante a pandemia, Luana resolveu se dedicar mais ao trabalho e encontrar meios para motivar as mulheres a se sentirem bem com elas mesmas, através das maquiagens. Montou, então, um pequeno espaço improvisado dentro de casa e passou a divulgar vídeos chamados "Evoluiu Challenge", que mostram transformações feitas com maquiagens.  “As mudanças foram feitas quando veio a pandemia, porque muitas mulheres não estavam saindo, nem se maquiando, e começaram a se maquiar mais, se embelezar mais, tirar fotos, fazer selfie para postar nas redes sociais”.

Luana Barbosa também vendia pela internet e fazia entrega. Agora, com o espaço improvisado, ela aumentou as opções de produtos e possibilita a ida de clientes ao local, para olhar e escolher os materiais que querem. As mudanças deram tão certo que o faturamento aumentou consideravelmente durante a pandemia. “Eu ganhei em 15 dias o que eu ganhava em um mês, e isso foi ótimo pra mim”, argumentou.

Outro que apostou em mudanças foi Renan Omni de Moraes Pinheiro, de 25 anos. Ele montou um mercadinho para trabalhar com o comércio varejista de mercadorias em geral, com predominância em produtos alimentícios. No dia 19 de junho, resolveu se formalizar. O estabelecimento ainda não está funcionando, pois ele está concluindo a fase de compras das mercadorias para a venda. "Minha meta é dar início às vendas no finalzinho deste mês", conta. Enquanto isso, Renan já vem adotando estratégias para captar e manter os clientes. "Duas das estratégias que tenho, e que considero forte, é oferecer premiações aos clientes por certa quantidade de valor de compras, ou sorteios. A outra estratégia é atender de modo delivery. Eu sempre tive o sonho de me tornar um grande empresário brasileiro, mas para isso, é necessário dar início a algo, mesmo que pequeno, para ir expandindo ao passar do tempo. Até que eu então tomei a decisão de iniciar neste negócio este ano. A ideia foi amadurecida bem antes da pandemia", relata. Antes de ingressar nesse ramo, Renan teve vários empregos, o último como gerente de vendas e, quando ficou desempregado, há um ano e meio, trabalhou como motorista de aplicativo. 

Marajó

Gerente de relacionamento empresarial do Sebrae no Pará, Keyla Reis de Oliveira avalia que a perda de empregos provocada em razão da crise, fez com que muitas pessoas empreendessem e montassem um negócio. “O processo é muito simples de se formalizar, tem facilidade e até acesso aos benefícios que o formal conta hoje, como acesso ao crédito, relacionamento com os bancos com taxas diferenciadas. São fatores que influenciaram nessa formalização. Benefícios previdenciários, enfim, tem uma série de benefícios que eles podem ter. Isso é um ponto importante, porque o MEI, a cada ano, tem aumentado”.

No Pará, os dados levantados pelo Sebrae mostram que o Marajó, com alguns municípios que estão entre os piores Índices de Desenvolvimento Humano do País (IDHs), foi a região onde mais cresceu o número de MEIs nesse período. Foram 599 registros feitos entre 14 de março a 31 de junho deste ano, 11,83% a mais que no mesmo período do ano passado, com destaque para Melgaço, onde esse aumento foi de 27,53%.  “Isso movimenta a economia, é bom para o município. As informações estão chegando nesses municípios, o quanto é fácil, a quantidade de benefício que você consegue ter como MEI”, diz Keyla Reis. Na região de Carajás II, com sede em Parauapebas, o crescimento foi de 11,59%, segundo melhor resultado. A região Metropolitana, com sede em Belém, teve o terceiro melhor resultado, com aumento de 10,69%.

Segundo a gerente do Sebrae, o crescimento foi observado, especialmente, em segmentos com retorno a curto prazo, como empresa de varejo de moda. “Porque é muito fácil você comprar e revender, faz com que tenha a curto prazo um resultado mais efetivo, não tem que buscar uma ideia mais complexa de negócios’’. Ela também acredita que a desburocratização facilitou a formalização de MEIs no Estado.

Desafios

Ainda pelos dados do Sebrae, a partir da pesquisa em relação aos pequenos negócios, no Pará, 2% dos MEIs, ME ou EPP tiveram que fechar a empresa definitivamente em razão da pandemia; 7% estão funcionamento da mesma forma que antes da crise e outros 29% estão com o funcionamento interrompido temporariamente – fora os 61% que implantaram mudanças no funcionamento por causa da crise. Quanto às medidas tomadas por causa das restrições envolvendo circulação de pessoas, além dos que apontaram uso de ferramentas digitais ou outras formas de funcionamento, 22% disseram não ter estrutura para uso de ferramentas digitais e 20% precisaram parar de funcionar durante as restrições, porque o negócio só operava presencialmente.

“Essa questão da pandemia despertou muito para o digital. Quem não se inseriu, está com dificuldade até hoje para tocar o negócio. No digital você consegue uma facilidade de alcance no consumidor. O esforço operacional até diminui. Fica mais fácil de você se relacionar com o cliente, o baixo investimento. O digital traz alguns benefícios que foram muito bem aproveitados pelos empreendedores paraenses”, avalia.

Recuperação

Outro levantamento feito pelo Sebrae, em parceria com a FGV, mostra que, enquanto na primeira semana de abril, a perda média do faturamento chegou a 70%, entre os Microempreendedores Individuais (MEI), Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, em todo o país, no último levantamento, realizado final de junho, esse percentual caiu para 51%, indicando reação, mesmo que lenta, dessa categorial empresarial. A proporção de pequenos negócios com redução no faturamento caiu de 89% para 84%, em todo o País, desde março, quando foi feita a primeira edição da pesquisa.

“A gente viveu todos os impactos de uma pandemia, passou por um lockdown, medidas restritivas severas e agora retorna com algumas atividades econômicas, mas ainda é bandeira laranja e precisa retornar com algumas medidas que, por decreto, devem ser implantadas nesse empreendimento. A recomendação é não fechar as portas da conexão com os clientes. Alguns conseguiram se reinventar, implantando o delivery. O digital é uma realidade, não tem como fugir disso. Até hoje, os empreendimentos se modernizaram com relação a atendimento”. Ela observa que o Sebrae tem acompanhado essas mudanças e ajuda na profissionalização desses negócios. Mais informações podem ser obtidas pelo site da instituição.

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