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Micro e pequenos empreendedores questionam a dificuldade de acesso ao crédito em bancos

As Lojas Americanas, por exemplo, obtiveram empréstimo de R$ 103 milhões junto ao Banco da Amazônia e agora correm o risco de decretar falência

O Liberal
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Os bancos públicos e instituições estatais de fomento figuram como alguns dos maiores credores das Lojas Americanas, na lista de dívidas da empresa. Entre esses credores está o Banco da Amazônia (Basa), para quem a marca deve mais de R$ 103 milhões. Micro e pequenos empresários da região, muitas vezes, não conseguem entender por que é tão difícil, para o segmento, conseguir crédito junto a instituições financeiras, especialmente públicas, como é o caso do Basa, quando grandes conglomerados que, em alguns casos, sequer conseguirão saldar essas dívidas, obtém esses recursos com muito mais tranquilidade. 

O presidente da Federação das Micro e Pequenas Empresas do Estado do Pará (Femicro-Pará), Valber Cordeiro, diz que, hoje, em todo o Estado, há mais de 640 mil micro e pequenas empresas, responsáveis por mais de 60% dos empregos formais de que o Pará dispõe. Mesmo assim, é muito difícil, segundo ele, o segmento conseguir acesso a crédito por meio das instituições bancárias. 

“Nós queremos facilidade de acesso ao crédito e juros subsidiados. Não tem por que os bancos cobrarem de uma micro e pequena empresa uma taxa compatível a de uma empresa grande. É necessário que esses juros sejam bem pequenos para facilitar o acesso e, principalmente, o pagamento das dívidas, pois, caso contrário, o micro e pequeno empreendedor vai acumular dívidas, pegar empréstimo e não conseguir pagar, aumentando ainda mais a inadimplência que existe no País. Então, nós somos favoráveis a que seja feita uma política de acesso ao crédito e uma política de juros subsidiados e talvez até com carência para iniciar o pagamento, para que o pequeno negócio possa sobreviver”, destacou. 

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O economista e professor da Faculdade de Economia da Universidade Federal do Pará (UFPA), Douglas Alencar, explica que bancos regionais, como o Banco da Amazônia, por exemplo, devem, de fato, ampliar e diversificar a sua carteira de clientes, inclusive para o varejo, como tem sido feito ultimamente. No entanto, é preciso ter certos cuidados, para evitar situações parecidas com o que ocorreu com as Lojas Americanas, que tomaram mais de R$ 103 milhões em empréstimo do banco, que agora corre o risco de levar um calote

“Uma empresa como as Lojas Americanas, sem dúvida, acabou gerando um erro de avaliação para  todos os bancos que emprestaram dinheiro para ela. Até por ser uma empresa, aparentemente, com balanços confiáveis, que passa por processos de auditoria e consolidada no mercado. Então, de fato, era natural que se concedesse o crédito, na minha avaliação. E, no caso do Basa, como eu acredito que eles estão colocando em prática essa estratégia de diversificação da carteira, é compreensível essa operação com as Lojas Americanas”, destacou. 

Para ele, micro e pequenas empresas têm muito mais dificuldade em conseguir acessar os recursos ofertados por meio dos bancos, sejam públicos ou privados, justamente porque, na maioria das vezes, não contam com um histórico de créditos, trajetória empresarial, patrimônio, entre outros critérios que são analisados pela instituição na hora de conceder o crédito, ao passo que grandes empresas, como é o caso das Lojas Americanas, contam com tudo isso bastante organizado.

“No caso do Basa, vejo que o forte da atuação deles sempre foi o setor agrícola e agropecuário. Agora, me parece que o banco está tentando expandir essa carteira, concedendo financiamento e fazendo operações com grandes indústrias e empresas comerciais, o que eu considero saudável. Espero que esse episódio com as Lojas Americanas sirva para o banco aprender e buscar, também, investir em outros setores, como a economia do baixo carbono, ou seja, para indústrias, empresas e negócios que estão interessados em diminuir a emissão de gás carbônico, o que é fundamental na nossa região, além, é claro, dos micro e pequenos também”, pontuou. 

Presidente do Basa diz que instituição contemplou, em 2022, mais de 90 mil projetos de micro e pequenos empreendedores

Por meio de nota, o presidente do Basa, Valdecir Tose, informou que “além da carteira de financiamento tem uma carteira comercial como qualquer outro Banco que auxilia no processo de resultado e equilíbrio com a carteira de fomento, de forma que o empréstimo a Americanas foi realizado como as demais IF’s (instituições financeiras), observando risco, rating e histórico”, destacou. 

Segundo o presidente do Basa, em 2022, o Banco realizou a maior quantidade de financiamentos a micro e pequenos empreendedores de toda a sua história de 80 anos. “Em 2022, o Banco financiou mais de 90 mil projetos para este segmento, totalizando um valor superior a R$ 2 bilhões (microempreendedor individual - MEI, micro e pequenas empresas - MPE, microcrédito produtivo e orientado - MPO e Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - Pronaf)”, citou.  

De acordo com o gestor, em 2022, 81% do crédito do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO) foi para pequenos portes, somando R$ 8 bilhões. “Portanto, o BASA vem cumprindo seu papel com os pequenos e reduzindo a burocracia, implantou tecnologias como o BASA Digital para facilitar o acesso aos micros e pequenos, fortaleceu a parceria com as empresas de Assistência Técnica para chegar a todos os municípios da região Norte”, concluiu.

Empreendedor acredita que negócio não deu certo por falta de uma política de créditos efetiva para micro e pequenas empresas 

O empreendedor Allan Rezende, 48 anos, decidiu, há cerca de oito anos, abrir uma loja de bicicletas. Ele conta que, de início, embora tenha tentado em várias instituições, não conseguiu empréstimo nem financiamento para dar o pontapé inicial na empresa. Mesmo assim, seguiu com o negócio. Depois de algum tempo,  obteve um empréstimo, mas precisou dar como garantia ao banco a casa do pai. A empresa enfrentou uma série de dificuldades e, em maio do ano passado, precisou ser fechada. Até hoje, as dívidas ainda estão sendo pagas por ele e pela família.

“Olha que eu tinha plano de negócios, tudo direitinho, e, mesmo assim, não consegui o crédito no momento em que fui abrir a empresa. Só depois, para obter um capital de giro e adquirir produtos foi que consegui os recursos, embora menos do que eu precisava. Eu penso que se houvesse linhas de financiamento para micro e pequenas empresas de fato diferenciadas, talvez o destino da minha empresa e de outras tivesse sido diferente”, lamentou ele, que agora atua como consultor. “Não tenho mais intenção de voltar a empreender, pelo menos não enquanto os bancos não forem de fato transparentes com os micro e pequenos, e não indico ninguém a empreender se não tiver um planejamento muito bem definido”, orientou. 

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