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Exportações de pescado do Pará somam US$ 47 milhões até agosto

Peixes como pargo lideram exportações; Estados Unidos, Hong Kong e China são os principais destinos do pescado paraense.

Jéssica Nascimento
fonte

As exportações de pescado do estado do Pará atingiram US$ 47 milhões entre janeiro e agosto de 2025, com um volume total de 5,2 mil toneladas comercializadas para o mercado internacional. Os dados são da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), com elaboração do Setor de Estatística da Sedap (Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca). Conforme o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), a exportação de pescado “vivo, morto ou refrigerado” no estado registrou crescimento de 362,80% em valores no mês de agosto, em comparação com o mesmo mês do ano passado. No acumulado do ano, o aumento foi de 71,20%.

Peixes lideram exportações com destaque para o Pargo

O grupo dos peixes continua sendo o principal motor das exportações do setor, respondendo por US$ 45 milhões e 5,1 mil toneladas do total vendido ao exterior. Dentro dessa categoria, os chamados “demais peixes” — que englobam diversas espécies — representaram a maior fatia, com US$ 33,9 milhões e 4 mil toneladas.

O Pargo, espécie bastante valorizada nos mercados asiáticos e norte-americano, aparece em segundo lugar, com US$ 9,9 milhões exportados e 986 toneladas embarcadas. A exportação de filés de Pargo congelados, um produto com maior valor agregado, também teve presença relevante, somando US$ 210 mil e 13,7 toneladas.

Outras espécies de peixes também contribuíram para o resultado do período, como os peixes ornamentais vivos, com US$ 1,3 milhão e 13,39 toneladas, e a Tilápia, com US$ 68 mil e 25,7 toneladas.

Crustáceos e moluscos também ganham espaço

Embora ainda representem uma parcela menor do total exportado, os crustáceos e moluscos tiveram um desempenho expressivo, alcançando US$ 1,5 milhão e 90,5 toneladas exportadas no período.

Dentro desse grupo, os camarões lideraram, com US$ 1,3 milhão e 81,2 toneladas, seguidos pelas lagostas, que somaram US$ 226 mil em vendas e 8,86 toneladas embarcadas. Outros produtos, como caranguejos e moluscos diversos, tiveram participações mais modestas, mas indicam potencial de crescimento com maior estrutura e investimento.

Estados Unidos e Hong Kong são os principais destinos

No ranking dos principais destinos do pescado paraense, os Estados Unidos lideram com US$ 19,5 milhões em compras e 2.352 toneladas importadas. Em segundo lugar, Hong Kong aparece com US$ 18,2 milhões, apesar de um volume significativamente menor (432,4 toneladas), evidenciando o alto valor agregado das mercadorias destinadas ao território asiático.

A China ocupa a terceira posição, com US$ 5 milhões em exportações e 1.695 toneladas, enquanto o Japão fecha a lista dos quatro maiores compradores com US$ 1,3 milhão e 81,3 toneladas.

Os valores representam o FOB (Free on Board). Ou seja: correspondem ao custo das mercadorias até o momento em que são carregadas no meio de transporte no porto de origem, antes do início do transporte internacional e sem considerar o seguro.

Aumento da exportação traz novas oportunidades locais, segundo economista 

Para o economista Nélio Bordalo Filho, o crescimento de exportações de pescado paraense tem diversas repercussões positivas para a economia do estado. 

"Esse crescimento extraordinário é um reflexo de vários fatores, como a melhora nos preços externos e novos contratos. No entanto, o principal fator que impulsionou esse aumento foi a antecipação das exportações para evitar os impactos de tarifas mais altas impostas pelos EUA", afirma Bordalo, que também é consultor de empresas e conselheiro do Corecon PA/AP (Conselho Regional de Economia dos Estados do Pará e Amapá).

Ele destaca que o aumento das exportações gera um ciclo virtuoso para a economia paraense, com benefícios em diferentes setores. 

"Aumento de receita de exportação, maior arrecadação tributária, estímulo à pesca e à piscicultura, além da maior visibilidade internacional, são alguns dos efeitos positivos. Isso também pode melhorar a renda das comunidades envolvidas na pesca e fortalecer as empresas locais", acrescenta o economista.

Outro impacto positivo das exportações de pescado é a geração de empregos. Com o aumento da demanda, o setor tende a contratar mais trabalhadores para atividades como transporte, processamento e embalagem de pescado, além da cadeia de insumos, como ração e gelo. 

"A formalização do setor e as certificações exigidas para garantir os padrões de qualidade dos mercados externos podem também melhorar a qualidade do emprego no estado", observa Bordalo.

Além disso, segundo Bordalo, o impacto nas finanças estaduais não é pequeno. O aumento das exportações contribui positivamente para a balança comercial do Pará, ajudando a reduzir a dependência de importações e diversificando a base de exportação do estado. Esse crescimento, conforme o economista, também pode beneficiar outros setores, estimulando o consumo local e demandando mais serviços e produtos auxiliares.

Logística, competitividade e sustentabilidade são desafios para sustentar crescimento

Embora o crescimento seja promissor, existem desafios importantes que precisam ser enfrentados para garantir a continuidade desse sucesso. O principal deles é a logística. "É essencial garantir a refrigeração durante toda a cadeia de produção, do pescado à exportação, o que inclui a infraestrutura de transporte, estradas adequadas e eficiência no processo portuário", afirma Nélio Bordalo Filho.

image Nélio Bordalo. (Foto: Cláudio Pinheiro)

Além disso, a competitividade internacional é um fator determinante para manter o crescimento. O acesso aos mercados externos exige padrões rigorosos de qualidade, sanidade e rastreabilidade.

"Os mercados exigem certificações e adaptação contínua para manter a competitividade. Além disso, barreiras tarifárias e regulatórias, como as tarifas impostas pelos EUA, podem afetar a sustentabilidade das exportações", destaca o economista.

A preservação ambiental também é um desafio crucial. Para evitar a sobrepesca e garantir a conservação dos ecossistemas, é necessário adotar práticas sustentáveis de manejo pesqueiro. Bordalo alerta que práticas não sustentáveis podem gerar rejeição nos mercados internacionais, que estão cada vez mais exigentes quanto aos critérios ambientais.

"É necessário garantir a estabilidade das políticas públicas, investimentos em infraestrutura e a qualificação da mão de obra. Só assim o estado poderá continuar a prosperar neste setor promissor", conclui Nélio Bordalo Filho.

Aumento da exportação é novo vetor para economia paraense, conforme pesquisador

Segundo André Cutrim Carvalho, professor e pesquisador da UFPA e membro do Conselho Regional de Economia do Pará e Amapá (Corecon-PA/AP), o desempenho expressivo das exportações de pescado em agosto de 2025 comparado com agosto do ano passado — com mais de 360% de crescimento — deve ser analisado como resultado de fatores conjunturais e estruturais. 

“De um lado, reflete a ampliação de canais de inserção do Estado do Pará no comércio internacional e, de outro, evidencia ganhos de competitividade associados ao setor pesqueiro”, explica.

O economista destaca que a expansão acumulada de mais de 70% ao longo do ano indica que o movimento não é isolado. “É uma tendência que reforça a capacidade do estado em diversificar sua pauta exportadora, historicamente marcada pela concentração em commodities minerais e agrícolas”, afirma.

image André Cutrim. (Foto: Carmem Helena)

Com isso, o pescado se consolida como um vetor adicional de dinamização econômica, contribuindo para a geração de emprego e renda e atraindo investimentos em infraestrutura, processamento e beneficiamento industrial. “Ao ampliar o peso relativo do setor pesqueiro nas exportações, o Pará reduz parcialmente sua vulnerabilidade externa, ainda muito dependente de produtos primários”, ressalta.

Ambiente institucional precisa acompanhar crescimento

Apesar dos bons números, André Cutrim alerta que é preciso garantir a sustentação dessa trajetória. “Para que este avanço recente se converta em uma trajetória consistente de desenvolvimento, é essencial consolidar um ambiente institucional que assegure previsibilidade regulatória, reduza custos de transação e fortaleça a competitividade do pescado paraense nos mercados internacionais”, analisou.

Ele aponta caminhos estratégicos para isso: “Avançar na infraestrutura logística, como portos e rodovias; aprimorar a certificação sanitária com mais laboratórios e rastreabilidade; e buscar novos mercados compradores por meio de acordos comerciais e participação em feiras internacionais.”

O crescimento das exportações também impõe desafios que, segundo o economista, não podem ser ignorados. O primeiro é a logística: “A infraestrutura de transporte e armazenamento do Estado ainda é insuficiente, o que encarece a produção e reduz nossa margem de competitividade frente a outros mercados exportadores.”

Outro ponto de atenção está nas exigências sanitárias internacionais.

“O pescado paraense precisa atender a padrões rigorosos e evitar barreiras não tarifárias. Para isso, é necessário investir fortemente em certificações e sistemas de rastreabilidade.”

A preservação ambiental também entra no radar. “A pressão sobre os estoques pesqueiros e ecossistemas pode comprometer a sustentabilidade do setor. É essencial um monitoramento efetivo e práticas de manejo adequadas”, avaliou.

Dono de restaurante alerta para escassez e instabilidade de preços com crescimento das exportações de pescado

Maurício Façanha, proprietário de restaurantes que combinam a culinária e cultura amazônica em Belém, destaca que, com o aumento nas exportações, os preços dos pescados no mercado local têm se tornado instáveis.

image Maurício Façanha. (Foto: Thiago Gomes)

"A gente está tentando fechar as propostas de reserva pra novembro pra COP 30 (30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas). Tá um problema porque a gente não sabe o que fechar. Primeiro, porque por um lado a gente tem a vigilância sanitária, a gente tem um tempo hábil para guardar e armazenar o pescado, e, por outro lado, a gente tem a instabilidade total do valor do preço, porque tá oscilando demais e o mercado local acaba ficando escasso", explica Façanha.

Com o aumento da exportação e a possível escassez de peixes tradicionais, como o filhote, Façanha relata que está buscando alternativas para garantir a oferta de pescados a preços mais acessíveis.

"Eu não sei te falar assim. Eu não tenho números sobre o impacto do consumo de peixe. A gente tá pensando em alternativas, em introduzir peixes desconhecidos, que não são do consumo direto do paraense. Para quê? Para que a gente tenha uma outra alternativa que consiga manter os preços. Por exemplo: o filhote é um deles que provavelmente a gente não consiga manter no cardápio se continuar nessa subida de preço", afirma o empreendedor.

Façanha projeta que, com o aumento das exportações, a escassez de pescado local será uma realidade no futuro próximo. Ele faz uma analogia com o que aconteceu há cerca de 30 anos, quando o filhote desapareceu temporariamente do mercado local.

"Eu acredito que vai ter escassez, e muita, como já teve há uns 30 anos com o filhote. Ninguém conseguia achar filhote aqui em Belém. Imagina que hoje em São Paulo você consegue tomar açaí mais barato do que em Belém. Só imagina isso. Então isso vai acontecer com o peixe também", alerta.

Exportações de Pescado do Pará (Jan–Ago/2025)

Fonte: Secretaria de Comércio Exterior (Secex/MDIC) | Elaboração: Nuplan/SEDAP

Total Exportado

  • Valor: US$ 47 milhões
  • Volume: 5,2 mil toneladas

1. Exportações de Peixes

  • Total: US$ 45 milhões | 5,1 mil toneladas

Principais categorias:

Demais Peixes:

  • Valor: US$ 33,9 milhões
  • Volume: 4 mil toneladas

Pargos:

  • Valor: US$ 9,9 milhões
  • Volume: 986 toneladas

Peixes ornamentais vivos:

  • Valor: US$ 1,3 milhão
  • Volume: 13,39 toneladas

Filés de Pargo congelados:

  • Valor: US$ 210 mil
  • Volume: 13,7 toneladas

Tilápia:

  • Valor: US$ 68 mil
  • Volume: 25,7 toneladas

2. Exportações de Crustáceos e Moluscos

  • Total: US$ 1,5 milhão | 90,54 toneladas

Camarões:

  • Valor: US$ 1,3 milhão
  • Volume: 81,19 toneladas

Lagostas:

  • Valor: US$ 226 mil
  • Volume: 8,86 toneladas

Demais crustáceos e moluscos:

  • Valor: US$ 4.978
  • Volume: 0,45 toneladas

Caranguejos:

  • Valor: US$ 524
  • Volume: 0,04 toneladas

Principais Destinos do Pescado Paraense (FOB)

FOB: Valor até o embarque no porto de origem, sem transporte e seguro internacional incluídos.

Estados Unidos:

  • Valor: US$ 19,5 milhões
  • Volume: 2.352 toneladas

Hong Kong:

  • Valor: US$ 18,2 milhões
  • Volume: 432,4 toneladas

China:

  • Valor: US$ 5 milhões
  • Volume: 1.695 toneladas

Japão:

  • Valor: US$ 1,3 milhão
  • Volume: 81,3 toneladas
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