Exploração de óleo na Margem Equatorial é debatida em seminário do Museu Goeldi

Pesquisadores apresentaram dados sobre a área de interesse científico, ecológico e socioambiental

Gabriel da Mota
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O Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e o Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP) realizaram, nesta quinta-feira (23/05), um seminário para apresentar pesquisas sobre os diferentes aspectos ecossistêmicos da Foz do Rio Amazonas. A região integra a Margem Equatorial Brasileira — que se estende pela costa marítima do Amapá até o Rio Grande do Norte —, onde a Petrobras pretende investir US$ 3,1 bilhões para exploração de petróleo no período de 2024 a 2028. Pesquisadores destacaram a importância da ciência para a realização de empreendimentos do tipo. 

O diretor do MPEG, Nilson Gabas, falou sobre a necessidade de se conhecer os recursos naturais da Amazônia que vão além da floresta, bem como discutir as mudanças climáticas em curso. “Hoje, foi falado aqui que existe uma influência das marés no volume oceânico e, no Brasil, os maiores impactos serão no Rio Grande do Sul e na Foz do Amazonas. Estamos vendo o que está acontecendo em termos de catástrofes por conta do índice pluviométrico no Sul”, ressaltou.

image Pesquisador Nilson Gabas, diretor do Museu Goeldi (Foto: Janine Valente | MPEG)

Gabas também disse que um dos objetivos do evento é suscitar uma parceria público-privada, com apoio do governo federal, para a criação de um instituto de pesquisas especificamente voltado para Foz do Amazonas. “É um ecossistema único no mundo, pela quantidade de despejo de água. Outros países já estão explorando petróleo ali nessa mesma bacia, então queremos mostrar que não se deve pensar políticas públicas em um viés mercadológico sem embasamento científico”, pontuou.

A representante do Centro de Pesquisas da Petrobrás, Talita Pereira, resumiu o que a empresa planeja para a região. “Estamos posicionados a 160 quilômetros da costa e a mais de 500 quilômetros a noroeste da Foz do Rio Amazonas. Estamos falando de águas profundas”, frisou. Por meio de uma carteira de projetos de responsabilidade socioambiental em execução e previstos, a estatal calcula um investimento de R$ 350 milhões, considerando o período entre 2021 e 2028.

‘Atraso para o país’, diz pesquisador sobre perfuração não iniciada

Um dos palestrantes do evento, o geólogo pesquisador da Universidade Federal do Pará (UFPA) Pedro Walfir Souza Filho apresentou as “Cartas de Sensibilidade Ambiental a Derramamentos de Óleo”, que indicam os níveis de sensibilidade costeira a uma possível exploração petrolífera nas bacias do Pará até Barreirinhas (MA). O estudo foi liderado por ele entre 2002 e 2012 e envolveu diversas instituições de pesquisa, incluindo as universidades Federal Rural da Amazônia (UFRA) e do Estado do Pará (UEPA).

image Pedro Walfir Souza Filho, geólogo e pesquisador da UFPA durante palestra "Cartas de Sensibilidade Ambiental a Derramamentos de Óleo" (Foto: Janine Valente | MPEG)

Segundo o pesquisador, desde 2017, os dados estão à disposição do Ministério do Meio Ambiente. Um dos principais resultados foi a descoberta de que os manguezais da Amazônia, de Belém até São Luís (MA), formam o maior cinturão contínuo de manguezais do mundo, com 7.600 quilômetros quadrados, e apresentam sensibilidade nível 10 à exploração de petróleo — a maior, numa escala de 1 a 10. Apesar da alta sensibilidade, o geólogo acredita no baixo risco de impactos ambientais: “A Petrobras quer explorar óleo há quase 200 quilômetros da costa, numa região em que a lâmina d'água — onde se faz o furo para tirar o óleo — está bem longe do fundo do oceano, a quase três mil metros. Então, particularmente, eu não vejo tantos riscos. A probabilidade de acontecer grandes vazamentos nessa região é muito baixa”, afirma. 

Além disso, Pedro Walfir Souza Filho criticou a morosidade na liberação de licença para perfuração de um poço da Petrobrás na Foz do Amazonas, cuja Avaliação Pré-Operacional (APO) está em análise pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). “A gente continua sem saber o volume de óleo que tem na margem equatorial e isso é um atraso para o país. A gente quer descobrir o tamanho da reserva para poder, caso seja viável do ponto de vista econômico, explorar para consumir e, quiçá, exportar também, para melhorar nossa balança comercial”, acrescentou.

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