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Estudo revela problemas que podem ocorrer com pacientes após cirurgia bariátrica

A pesquisa sobre hipoglicemia pós-prandial, conduzida pelo cientista brasileiro Rafael Ferraz-Bannitz, foi publicada no periódico Journal of Clinical Investigation. A condição é conhecida, também, como hipoglicemia reativa.

Lívia Ximenes
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Em estudo conduzido pelo pesquisador brasileiro Rafael Ferraz-Bannitz, cientistas da Universidade Harvard (Estados Unidos - EUA) explicam porque pacientes que passaram por cirurgia bariátrica são afetados pela hipoglicemia pós-prandial. A complicação afeta cerca de 20% a 30% das pessoas operadas, conforme o levantamento e, em casos severos, pode ser associada a neuroglicopenia (escassez de glicose no cérebro), redução de sensibilidade e prejuízo à segurança. A causa da hipoglicemia pós-prandial está associada à serotonina, conhecida como hormônio da felicidade.

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Diferente da hipoglicemia comum, a pós-prandial (também chamada de hipoglicemia reativa) se caracteriza pela redução dos níveis de glicose (açúcar) no sangue em até cinco horas após a alimentação. Entre os sintomas, está suor frio, mal-estar, sensação de desmaio e dor abdominal. Normalmente, a hipoglicemia reativa é relacionada ao estresse e à ingestão de bebidas alcoólicas.

Em casos de pacientes que fizeram cirurgia bariátrica, a hipoglicemia pós-prandial está ligada à desregulação da serotonina. Esse hormônio atua como neurotransmissor, ou seja, é responsável pela passagem se sinais entre neurônios. A serotonina regula níveis cardíacos, sono, apetite, memória, temperatura corporal e humor.

“Identificamos que esse tipo de hipoglicemia está associado à desregulação dos níveis de serotonina no sangue, hormônio que, além de controlar o humor, também é capaz de estimular a secreção dos hormônios insulina [no pâncreas] e GLP-1 [sigla para glucagon-like peptide-1, produzido no intestino delgado em resposta à ingestão de alimentos] no organismo”, disse Rafael à Agência da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp), órgão responsável pelo apoio da pesquisa juntamente ao National Institutes of Health (NIH), dos EUA.

Rafael explicou que os níveis de serotonina ficam baixos em pessoas com hipoglicemia pós-bariátrica e, quando há ingestão de alimentos, os graus sobem de maneira significativa. “Ao contrário de pacientes sem sintomas ou de pessoas que não fizeram bariátrica, cujos níveis de serotonina diminuem após uma refeição”, falou. A mudança provoca episódios de mal-estar nos pacientes, levando-os a fazer poucas refeições por dia, segundo o pesquisador.

Para o estudo, foram analisados 31 pacientes: 13 com hipoglicemia pós-bariátrica, 10 que fizeram a cirurgia e não tiveram sintomas, e oito que não passaram pela operação e não manifestaram hipoglicemia. A coleta de sangue ocorreu em três etapas, sendo uma em jejum, outra após 30 minutos da ingestão de um shake com proteínas, carboidratos e lipídios e outra duas horas depois do consumo. “A diferença no padrão de serotonina foi o que mais nos chamou a atenção. Indivíduos com hipoglicemia pós-bariátrica apresentavam níveis de serotonina muito diminuídos no jejum. Curiosamente, em resposta à refeição, houve um aumento de cinco vezes nos níveis desse hormônio nesses indivíduos”, afirmou Rafael.

Buscando formas de entender o papel da serotonina nesses casos, o projeto utilizou camundongos. Nos animais, o hormônio foi injetado e observou-se a queda de glicemia (hipoglicecmia) em quadro semelhante aos pacientes. “Ao avaliar o plasma dos camundongos, observamos que a injeção de serotonina aumentava a secreção de insulina e GLP-1, que são os mesmos hormônios aumentados nos indivíduos que desenvolveram hipoglicemia pós-prandial”, declarou.

No tratamento, os cientistas usaram katenserina, uma substância que bloqueia os receptores 2 da serotonina. A tentativa mostrou ser eficaz e foi caracterizada por Rafael como “um resultado promissor, que indica um potencial alvo terapêutico para indivíduos com hipoglicemia pós-bariátrica.” Apesar de entenderem que a queda da serotonina desencadeia a hipoglicemia, os cientistas ainda não conseguem explicar o que provoca a diferença no padrão hormonal.

Para conferir a pesquisa completa em inglês, clique aqui.

(*Lívia Ximenes, estagiária sob supervisão de Enderson Oliveira, editor de OLiberal.com)

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