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O Norte de Elza Lima: fotógrafa paraense expõe em galeria na Avenida Paulista

Com curadoria de Eder Chiodetto, "O Norte sem norte" ocupa a Galeria de fotos do Centro Cultural Fiesp, em São Paulo

Lucas Costa
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Expandindo mais uma vez a fronteira das artes produzidas na Amazônia, obras da fotógrafa paraense Elza Lima ocupam atualmente a Galeria de fotos do Centro Cultural Fiesp, em São Paulo. A mostra “O Norte sem norte” tem curadoria de Eder Chiodetto, e está aberta para visitação até 1º de agosto. 

“O Norte sem norte propõe uma viagem ao mundo cifrado, poético e imensamente humanista de Elza Lima. Sem norte, pois a ordem é a desorientação dada pela justaposição inesperada de planos que se sucedem, de composições que aludem ao extracampo e criam a curiosa percepção de que fotografias não cabem em fotografias. Como se Elza nos levasse a seguir construindo um mundo onírico transpondo os limites de suas imagens-margens, imagens-fábulas”, explica Eder Chiodetto, curador da exposição. A entrada é gratuita, mas é necessário realizar agendamento prévio de ingressos para o tour cultural no sistema Meu Sesi (www.sesisp.org.br/eventos).

A curadoria optou por mostrar várias facetas da produção da premiada fotógrafa paraense, que completará 70 anos em 2022, e segue em plena atividade. Imagens em preto-e-branco, dípticos e trípticos em cor, um vídeo e um oratório, formam o conjunto de obras expostas realizadas entre 1987 e 2020. 

Numa das visitas ao ateliê da artista, em Belém do Pará, Chiodetto conheceu o caderno de artista de Elza Lima, no qual descobriu a nova série “Corpos d’água” ainda em gestação. Foi quando ambos tiveram a ideia de juntar essa série, realizada nos anos 2000 nos rios Arapiuns e Tapajós, no baixo Amazonas, com a produção da artista realizada nas décadas de 1980 e 1990. As imagens de Corpos d’água organizadas em dípticos e trípticos, uma nova vertente expressiva da artista, exibem mulheres pescadoras de ascendência indígena que tecem redes e, ao mesmo tempo, a vida de suas famílias e comunidades.

Esta não é a primeira vez que Elza Lima e Eder Chiodetto tem seus caminhos cruzados. O curador da mostra é também o editor do primeiro livro solo de Elza Lima, lançado em 2016 como parte da coleção “Fotografia Brasileira”, da editora Ipsis.

Elza acompanhou a curadoria e montagem da exposição de longe, e se atém a dizer que o resultado a agradou em alto nível. “Gostei tanto que não mexi em nada, troquei apenas uma imagem na edição que ele [Chiodetto] fez. É uma exposição meio retrospectiva, um pedaço do que é meu trabalho até o ano de 2000, e tem um trabalho novo que ainda estou desenvolvendo”, conta a artista.

Por conta da pandemia, Elza ainda não teve a oportunidade de visitar sua exposição em São Paulo, e atualmente aguarda a vacina para realizar a viagem. A artista, no entanto, tem recebido elogios do público que já visitou a mostra.

Elza, que já teve mais exposições fora do Pará que dentro do Estado, teve na pandemia o adiamento de duas mostras, processo em que ambas também ganharam significados diferentes.

“O Norte sem norte” estava programada para antes da pandemia, assim como outra exposição da fotógrafa que ocuparia o Sesc Ver-o-Peso, em Belém. “A mostra estava toda montada, iria abrir no dia 17 de março, e no dia 15 o Sesc fechou. Vai fazer quase um ano que ela está montada. A mostra da Fiesp iria abrir em maio”, relembra Elza.

Conhecida pelo trabalho atravessado pela Amazônia, uma das regiões mais castigadas pela pandemia de coronavírus, Elza diz que a abertura da mostra traz um sentido de dualidade. “Estamos atravessando um tempo muito duro, muito desumano. O percurso do meu trabalho é no Baixo Amazonas, até o estado do Amazonas, e essa espacialidade em que navego está passando por um problema muito sério com a covid-19, que entrou pelo Amazonas”, reconhece.

“Fico imaginando as pessoas que estão aparecendo na Paulista agora, não sei como elas estão hoje. É essa aflição de saber que as pessoas que documentei ainda crianças, que devem estar homens e mulheres hoje em dia, deve estar sendo difícil para elas. É uma dualidade que me alegra de mostrar uma Amazônia de um tempo bonito e poético, mas entristece ver o que elas estão enfrentando nesse momento. Tem um sentido de tempo que ficou numa bolha, porque essa Amazônia que fotografei nos anos 80 mudou muito, está passando por um processo de degradação, com a derrubada das florestas”, reflete Elza.

Um passeio pelo rio

A montagem de Chiodetto também foi algo que impressionou Elza, mesmo de longe. Ela destaca a cor escolhida como plano de fundo para as fotografias, um tom ocre que lembra a coloração barrenta dos rios amazônicos. 

“Uma amiga minha paraense, que visitou a exposição, disse que se sentiu percorrendo um rio da Amazônia. Foi uma montagem não muito usual, e ela comparou a navegar em um rio, achei a colocação muito interessante, pois de início eu nem tinha me ligado que a cor era de um rio da Amazônia. Acho que esse retorno tem sido interessante”, diz ela.

Elza também elogia a equipe de montagem, que acompanhou de longe, e não esconde a ansiedade em viajar para ver a exposição de perto. “Os amigos que já foram, e mesmo o público que tem me mandado e-mails, tem gostado muito, mas eu realmente ainda não vi. Estou doida para ver, ansiosa para olhar tudo”, conta.

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