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O aquilomabamento fez de Jeff Moraes um artista

Neste dia da Consciência Negra, o artista paraense exalta que o processo de aquilombamento (retorno à ancestralidade) lhe faz um artista diferente e que sabe do seu poder de pertencimento

Bruna Lima
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Os encontros nas batucadas de rua foram de fundamental importância para a mudança de mentalidade e para a carreira do artista Jeff Moraes, que vem trilhando uma carreira independente e levantando a bandeira do povo afro e indígena. Neste dia da Consciência Negra, o artista paraense exalta que o processo de aquilombamento (retorno à ancestralidade) lhe faz um artista diferente e que sabe do seu poder de pertencimento.

Além de cantor, Jeff também é ator. Ele conta que sua trajetória na arte começa na beira do rio, às margens do rio Guamá, no Curro Velho. Lá o artista descobriu que tinha potencialidades artísticas. "Eu sempre gostei de cantar, atuar, meu sonho era ser ator, mas não tinha perspectiva nenhuma de ter ingresso à arte", declara o músico.

Jeff diz que vem da periferia e diz que nunca passou por nenhum tipo de projeto que lhe ajudasse com possibilidades para se tornar um artista. "O Curro Velho veio potencializar os meus fazeres artísticos e a partir disso comecei a buscar meus objetivos", destacou o cantor e compositor.

Depois desta fase de encontro com a arte, Jeff começou a cantar nos bares de Belém, mas ele faz questão de ressaltar que foi na rua, nas batucadas e nas ocupações culturais da cidade que descobriu que não era apenas um cantor. "Eu como um homem preto nascido no contexto amazônico percebi que precisava falar, cantar e se conectar com a minha própria ancestralidade. E é na rua que começo a entender que sou um afro-amazônico, sou uma pessoa preta nascida no território amazônico", pontua.

Ele diz que essa percepção foi importante para ele perceber e entender essa noção de território. Entender onde está inserido e que os traços e a cor da pele contam uma história. "Isso tudo foi possível entender após tocar na rua", reforça o artista.

O envolvimento do artista com o carimbó lhe faz entender que a manifestação não é apenas um ritmo folclórico e popular da cidade. É um ritmo afro e indígena. "E foi assim que comecei a perceber e entender a minha potencialidade e entender o contexto que estava inserido e que começa quando estou na rua. Esse processo de aquilombamento, que significa o retorno à minha ancestralidade, começa a se fortalecer nesses espaços", pontua.

Para o artista, o Espaço Cultural Coisas de Negro, localizado em Icoaraci, é um quilombo urbano, pois é um local de encontro e de inspiração para suas composições. Ele destaca também que o mestre Nego Ray, o Mundé Cultural e entre outros espaços e artistas são peças importantes para o pertencimento da cultura afro e indígena.

Mesmo hoje vivendo da própria arte, Jeff diz que ainda encontra dificuldades e passa por situações de racismo, uma vez que o Brasil é um país racista estruturalmente e extermina milhares de jovens negros diariamente. "O meu corpo vive em um palco contrariando estatísticas de um país que extermina a juventude negra. Eu não canto apenas para ser entretenimento. Eu canto para dizer que nós pretos somos potência", exalta Moraes.

O mais recente álbum de Jeff, "Tambor e beat" faz uma síntese da história do artista. São oito faixas que contam vários momentos da vida de Jeff, fala de momentos que sentiu o racismo, mas também trata de como vem sendo revolucionário. "Se hoje ocupo os espaços é porque muita gente preta bateu nesse chão para que eu andasse", reconhece Jeff.

 

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