Fafá de Belém contemporânea e ainda mais "Humana" em novo álbum
Novo trabalho traz composições de artistas do cenário independente brasileiro e sucessos oitentistas
“Eu sei quem eu fui. Quero agora que vocês saibam quem eu sou: humana”, é dessa forma que Fafá de Belém descreve seu novo álbum de estúdio, que chega ao mercado fonográfico nesta sexta-feira. Com 10 faixas, “Humana” apresenta uma face onde Fafá mostra referências que vão desde composições das décadas de 1970 e 1980, até trabalhos de nomes novíssimos como Ava Rocha e Letrux. Ouça abaixo o novo álbum de Fafá de Belém:
“Humana” foi gravado em São Paulo, com produção do cantor e compositor paraense Arthur Nogueira. Também participam do disco o DJ Zé Pedro, como diretor de gravação; e Paulo Borges, diretor do show que será apresentado de 12 e 14 de abril, em São Paulo.
Fafá conta que a vontade gravar um novo álbum surgiu em uma conversa com Zé Pedro e Paulo Borges, considerando que atualmente ela também está escrevendo uma biografia. “Uma série de coisas passaram pela minha cabeça, e inclusive porque as pessoas só me veem como essa explosão, que eu gosto. Mas para segurar a explosão, atrás tem que ter uma base, uma base sólida de olhar preciso, uma base que tenha os pés no chão”, diz a cantora.
Com mais de 40 anos de carreira, em “Humana” Fafá dá voz às composições de nomes que integram a nova cena da música alternativa no Brasil. Ava Rocha e Arthur Nogueira assinam a canção que abre o disco, “Ave do Amor”; e trazendo o tom político e elétrico está a música composta por Letícia Novaes (Letrux), “Alinhamento Energético”.
Nomes consagrados como Fátima Guedes e Adriana Calcanhotto também contribuem no novo trabalho. “O Resto do Resto” é assinada por Guedes, e em “O Terno e Perigoso Rosto do Amor”, Fafá interpreta a uma letra inédita de Adriana composta a partir de um poema de Jacques Prévert, em versão em português de Silviano Santiago.
Sobre a experiência de gravar composições de novos nomes, Fafá diz que tem sido um trabalho maravilhoso. “É um exercício de observação sobre um outro tempo, um tempo de comunicação, de uma forma completamente diferente de como a gente fazia quando fazia manifestos ou canções que falassem mais de realidade, e eu gosto muito do resultado, além do que os músicos são espetaculares”, destaca.
O álbum também traz regravações, seguindo a abordagem sensível da previamente lançada como single “Revelação” (Clésio e Clodo Ferreira), de 1978. “Humana” traz regravações de “Dona de Castelo” (1974), de Jards Macalé e Waly Salomão; “Toda Forma de Amor” (1988), de Lulu Santos; além de “Eu Sou Aquela”, parceria de Joyce Moreno com Paulo César Pinheiro lançada em 2012 por Liz Rosa; e "Não Queiras Saber de Mim", do português Rui Veloso.
Sobre a faixa conhecida na voz de Fagner com as guitarras de Robertinho do Recife, Fafá relembra que foram gravadas várias versões até chegar a uma final. “O Zé Pedro dizia: ‘ainda não está indo, ainda não está. É um clássico, e a gente vai quebrar com os clássicos’. Então o Arthur fez uma base com esses meninos[...]. Todo mundo amou, e soltamos o primeiro clipe e primeira faixa com uma sonoridade muito interessante que tem um tom de modernidade, de contemporâneo”, relembra Fafá.
Voltar para o estúdio e gravar um álbum inteiro foi um grande desafio para Fafá. Ela, que diz odiar o estúdio e preferir o palco, conta que o processo foi “heavy”. “Quando eu fiz o Show dos Famosos, no Faustão, eu tive aulas diariamente, durante três meses; de impostação, canto, fono, e isso me fez descobrir um universo imenso dentro da minha garganta, ou dentro das possibilidades da emissão de voz”, relembra.
Fafá diz ainda que o processo foi exaustivo e emocionante, e destaca ter se dedicado para achar sua forma de contar as histórias escritas por outras pessoas. “Tinha dias que eu terminava aos prantos de emoção, tinha outros que eu tremia toda, que eu não conseguia botar voz, de arremeter para mim a histórias, para minha vida, e enfim, a perda do meu pai. Mexeu muito com muita coisa, e temos um resultado muito forte e intenso”, diz.
Arthur Nogueira, que produziu o álbum e esteve junto a Fafá durante o processo, conta que se baseou em pensar de que forma a cantora se sentiria mais à vontade e tranquila para deixar a voz e as emoções fluírem. “Eu quis que fosse assim porque sempre que eu assisto a Fafá cantar, fico impressionado com a cantora, com a qualidade, com a profundidade do canto; com a cantora que ela é. Então que queria que esse disco realçasse isso: uma cantora com mais de 40 anos de carreira que tem a o mesmo vigor, a mesma emoção desde 1975”, conta Arthur.
Fafá, que representa a música do Pará no Brasil e no mundo há muito tempo, e viveu mudanças tanto na forma de fazer música quanto na indústria, diz que prefere a inquietação em vez da acomodação. “Eu podia estar fazendo dez mil releituras dos meus sucessos, mas eu gosto de pensá-los e colocar num novo espetáculo, num novo show, na nova roupagem[...]. Eu não gosto de ficar sentada, olhando para trás dizendo ‘oh vocês não sabem quem eu fui’”, diz.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA