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Antídoto contra os pesadelos de um escritor no livro 'Aranhas'

Obra reúne trinta e dois textos, cada um batizado com o nome de uma espécie do artrópode

Agência Estado
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A arte, por mais prosaica que possa parecer, é capaz de despertar sentimentos distintos no espectador. O escritor catarinense Carlos Henrique Schroeder foi surpreendido por dois desenhos do mestre simbolista Odilon Redon, que retratou aranhas em duas criações em carvão vegetal.

Uma delas batizada ‘A aranha sorrindo’ está no Louvre, em Paris. A outra, ‘A aranha chorando’, pertence a uma coleção particular. Os aracnídeos pavorosos de Redon visitam Schroeder constantemente em pesadelos que ele imaginava poderiam cessar, caso ele desse vazão à imaginação e escrevesse textos dedicados a tão repugnante ser.

Se os contos, que deveriam servir de antídoto não surtiram efeito algum - Schroeder segue tendo pesadelos -  ao menos deram origem a esta preciosa coletânea. 'Aranhas' (Ed. Record) reúne trinta e dois textos, cada um batizado com o nome de uma espécie do artrópode.

Em Golias-comedora-de-pássaros (Theraphosa blondi), o autor demonstra toda a perspicácia para homenagear ‘A metamorfose’, de Kafka. De Viúva-negra (Latrodectus mactans) a Da-casca-de-Darwin (Caerostris darwini), há aranhas tanto para principiantes quanto para os iniciados neste universo traiçoeiro. Carlos Henrique Schroeder é autor do romance best seller ‘As fantasias eletivas’, também lançado pela Record.

Cheio de possibilidades interpretativas, este livro é a prova contundente de que a literatura é um jogo. No filme Através de um espelho, de Ingmar Bergman, Deus aparece para a personagem Karin na forma de um aracnídeo. Diversas religiões, por todo o planeta, creem nas aranhas como divindades. Na contramão disso, pesquisadores afirmam que o cérebro humano incorporou nosso medo delas, e o transmite hereditariamente. Estamos conectados a elas através de nossos genes.

Com erudição sarcástica e imaginação tão extraordinária quanto rigorosa, Aranhas reúne dezenas de contos que giram em torno desses artrópodes de oito patas. Eles surgem como personagens ou inspiram, através de sua aparência ou nome, comportamentos e destinos, criando uma espécie de teia narrativa – onde afinal se entrelaçam e nos enredam.

Mesmo que alguns contos sejam brevíssimos, alguns de apenas um parágrafo, ainda assim causam grande impacto com imagens e argumentos envolventes. Para Schroeder a “literatura é atrito, é uma atitude contrária ao mundo”. Aranhas é uma obra que corrobora com essa posição.

O conto inspirado em A metamorfose é dedicado ao escritor argentino Pablo Katchadjian, que em 2015 foi acusado de plagiar ‘O aleph’, de Jorge Luís Borges. “Quando, certa manhã, Gregor Samsa acordou de sonhos inquietos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num aracnídeo monstruoso. Suas oito pernas, lastimavelmente finas em comparação com o volume do resto do corpo, tremulavam desamparadas diante dos seus olhos. “O que aconteceu comigo?”, pensou.”

Autor do best-seller As fantasias eletivas, Carlos Henrique Schroeder mais uma vez prova ser um dos mais inventivos escritores brasileiros, e faz uma espécie de tour de force social para tratar de temas como preconceito, amor, morte, inveja e a nossa absoluta falta de compreensão do que é ser humano.  

Carlos Henrique Schroeder é autor da coletânea de contos As certezas e as palavras, vencedora do Prêmio Clarice Lispector, da Fundação Biblioteca Nacional, em 2010; e, também pela Editora Record, dos romances As fantasias eletivas e História da chuva, contemplado pela bolsa Petrobras Cultural. Tem contos publicados em alemão, espanhol, inglês e islandês.

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