Representante paraense da ONU afirma que Belém inicia fase de implementação climática
Marcos Athias Neto destaca que a COP 30 marca o início da execução global das metas de desenvolvimento sustentável e afirma que a Amazônia é peça-chave no futuro econômico verde do planeta
Sob o olhar do mundo, Belém se consolida como o epicentro de uma nova fase da política climática global. É o que afirma o secretário-geral-adjunto da ONU e diretor do Gabinete de Apoio às Políticas e Programas do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Marcos Athias Neto, em entrevista ao Grupo Liberal. Para ele, que é natural da capital paraense, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) consagra a cidade natal como o ponto de partida da implementação das metas de desenvolvimento sustentável acordadas no Acordo de Paris. Segundo ele, a conferência deixa de lado o caráter meramente ambiental e assume definitivamente o papel de uma agenda de desenvolvimento econômico e social.
“Belém será consagrada na história do movimento climático como o lugar de onde partimos para implementar as contribuições nacionais determinadas”, afirmou o diplomata, que nasceu e viveu na capital paraense até os 15 anos. “Depois de décadas fora do Brasil, é um orgulho voltar à minha cidade num momento tão simbólico, em que o mundo finalmente olha para a Amazônia, sente o calor, escuta a chuva e entende, na prática, a urgência da pauta climática”, completou.
Athias Neto avalia que trazer a COP para a Amazônia foi “um grande gol” do presidente Lula e do governador do Pará, Helder Barbalho, e que o evento consolida um novo paradigma: o de que a transição ecológica é também o caminho para a geração de empregos e para o combate à pobreza. “A agenda climática deixou de ser apenas ambiental. Ela é onde vamos gerar os empregos e as indústrias do futuro — as verdes — e, ao mesmo tempo, combater a pobreza. É desenvolvimento com sustentabilidade”, explicou.
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Segundo ele, esta edição da conferência marca o início de uma nova fase: a da execução. “Toda a parte legislativa do Acordo de Paris já foi feita. Agora é hora de implementar. E não há simbolismo maior do que começar essa etapa em Belém, no coração da Amazônia”, destacou.
O dirigente do Pnud enfatizou ainda a importância do recém-lançado Fundo Permanente de Florestas, que busca dar valor financeiro à floresta em pé. “A floresta em pé precisa valer mais do que a floresta cortada. Esse fundo é essencial e será o alicerce para um novo tipo de desenvolvimento econômico, que alia conservação, geração de renda e redução da desigualdade”, afirmou.
Athias Neto também ressaltou que o Pnud atua há seis décadas no Brasil, em parceria com governos estaduais e locais, e que a implementação dos compromissos climáticos brasileiros passa necessariamente pela Amazônia. “O Brasil não vai conseguir cumprir sua meta de redução de emissões se continuar tendo queimadas. A Amazônia é central nesse processo”, disse.
Ele lembrou que estudos do Pnud mostram o impacto econômico positivo da transição verde: “Se todos os países implementarem suas metas climáticas, o PIB mundial pode crescer o equivalente ao tamanho da economia da Suécia até 2040, além de tirar 175 milhões de pessoas da pobreza. Isso mostra que a agenda climática é também uma agenda de prosperidade.”
Sobre o papel do financiamento climático, o secretário afirmou que a execução das metas depende da entrada do capital privado. “Não existe dinheiro público suficiente. É preciso atrair o setor privado com garantias e mecanismos que reduzam o risco. Sem ele, essa agenda não sai do papel”, avaliou.
Ao falar sobre a Amazônia, o diplomata defendeu o fortalecimento da bioeconomia como motor de uma “reindustrialização verde” e mencionou o potencial de Belém como um polo global do setor. “A bioeconomia nasce aqui. Por que não fazer de Belém o Vale do Silício da bioeconomia?”, provocou.
Encerrando a entrevista, Athias Neto deixou uma mensagem à sociedade civil e à juventude paraense. “Cada pessoa pode contribuir, começando pelo consumo consciente. Escolher produtos sustentáveis, apoiar lideranças políticas comprometidas com a pauta ambiental e se engajar em causas coletivas são formas de agir”, disse.
E completou: “Eu nasci em Belém e hoje sou o segundo brasileiro mais graduado do sistema ONU. Quero dizer à juventude que sonhe. Sonhe grande, mas sem perder suas raízes. Porque agora o mundo vai se referir a Belém como o lugar onde começou a implementação do Acordo de Paris — o acordo de Belém.”
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