Alunos de Mãe do Rio transformam casca de mandioca e ovos em painel sustentável
Projeto transforma materiais descartados em placas sustentáveis para uso decorativo e acústico
Estudantes da Escola Estadual Padre Marino Contti, em Mãe do Rio, no nordeste paraense, desenvolveram um painel ecológico produzido a partir de cascas de mandioca e ovos. A ideia surgiu no Clube de Iniciação Científica da escola e busca transformar resíduos abundantes na região em um material funcional para uso interno e com baixo impacto ambiental.
O trabalho é orientado pelo professor Antonio Denilson Leandro da Silva e reúne os estudantes Caíke Pinheiro, Kaio Vinícius e Paulo Kleber. O grupo decidiu investigar maneiras de aproveitar resíduos orgânicos que, embora biodegradáveis, podem causar problemas ambientais quando acumulados em grande volume. No caso da mandioca, a produção intensa no Pará gera grandes quantidades de cascas que normalmente são descartadas.
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Sustentabilidade como ponto de partida
A equipe iniciou testes combinando cascas de mandioca e de ovos até chegar a uma mistura adequada para formar placas estáveis. A primeira proposta era criar objetos biodegradáveis, mas, à medida que os estudos avançaram, os alunos perceberam potencial maior no desenvolvimento de painéis que também pudessem cumprir função decorativa.
“O Pará é um dos maiores produtores de mandioca do Brasil, e o processamento gera grande quantidade de resíduo. Apesar de orgânico, se esse material fica acumulado, pode gerar danos ambientais. Então, o que podemos fazer com isso?”, questionou o professor.
O professor lembra que o estímulo veio da observação da realidade local. Para ele, a mandioca, tão presente na economia e na culinária paraense, também carrega desafios ambientais que podem ser enfrentados com soluções simples e acessíveis. A casca de ovo, igualmente descartada em grande volume, completou a composição utilizada pelos estudantes.
Material ganha função acústica
O projeto evoluiu quando o grupo passou a investigar a possibilidade de o material atuar como isolante acústico. A ideia surgiu a partir da convivência escolar: estudantes com transtorno do espectro autista (TEA) apresentam maior sensibilidade a ruídos e poderiam ser beneficiados por espaços mais silenciosos.
Segundo o estudante Paulo Kleber, os primeiros testes mostraram que o compósito orgânico tinha capacidade para reduzir sons. A partir daí, os alunos aprimoraram a mistura e incorporaram resina vegetal, componente natural que funciona como agente de ligação e aumenta a resistência do painel.
O resultado é uma placa mais firme, estável e com potencial de aplicação em salas de aula, ambientes domésticos e pequenos espaços que precisem de conforto acústico.
Processo simples e de baixo custo
O método de produção criado pelos estudantes utiliza materiais reaproveitados e um único agente natural de ligação. As etapas incluem higienização, secagem ao ar livre, trituração das cascas e mistura com a resina vegetal. Depois da modelagem, as placas passam por um período de cura até atingir firmeza suficiente para uso.
Cada painel pode ser fabricado por cerca de R$ 23, valor considerado acessível. O grupo destaca que todos os insumos seriam descartados, reforçando o caráter ambiental da proposta.
Diálogo com debates da COP 30
A iniciativa ganhou visibilidade entre estudantes e professores da região e abriu novas perspectivas para o grupo. A COP 30, que foi realizada em Belém, reforçou o interesse por soluções ambientais criadas na Amazônia e voltadas ao uso comunitário.
Para Kaio Vinícius, o projeto ampliou a visão do grupo sobre inovação. “A COP é um momento em que muitas ideias ganham forma. O futuro é moldado a partir dessas ideias e a gente acredita que o nosso projeto pode não só inspirar, mas também abrir novas perspectivas e mostrar que a população pode inovar, pode trazer um futuro mais ecológico e verde para o mundo”, afirmou.
O professor Denilson afirma que a relevância do painel ecológico vai além do produto final. “É também inspirar jovens para serem agentes de transformação… Entender que seu bairro, sua rua, sua cidade têm problemas, e que a ciência oferece caminhos para propor soluções reais”, completou.
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