Povos tradicionais protestam por financiamento direto para comunidades: 'Viemos cobrar 50% do TFFF'
Representantes da Aliança dos Povos pelo Clima pedem repasse sem burocracia para comunidades da Amazônia
O quarto dia da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), realizado nesta quinta-feira (13) em Belém, foi novamente marcado por manifestações. Um dos protestos reuniu integrantes da Aliança dos Povos pelo Clima, grupo formado por lideranças indígenas, quilombolas, extrativistas e representantes de comunidades periféricas da Amazônia. O principal pedido foi por financiamento direto e sem burocracia para essas populações, com a destinação de 50% dos recursos do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês) aos territórios tradicionais.
De acordo com os manifestantes, o objetivo é garantir que os fundos climáticos cheguem efetivamente às populações que atuam na preservação da floresta. “Essa luta foi iniciada lá atrás com Chico Mendes e os povos indígenas, e hoje continua com a juventude da Amazônia”, afirmou Valter Kumaruara Kumaruara, liderança indígena do Baixo Tapajós e integrante do grupo.
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Ele destacou que a cobrança por um financiamento direto não se trata apenas de reivindicação, mas de reconhecimento pelo papel dessas comunidades na manutenção da floresta em pé.
“A gente veio com o intuito de cobrar porque é a gente que cuida, nós que cuidamos da floresta. Queremos que 50% do TFFF seja destinado às comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas, pescadores, extrativistas e à periferia”, explicou.
Durante o ato, Kumaruara criticou a postura de países desenvolvidos e lembrou das dívidas históricas com o meio ambiente e os povos da floresta. “A gente veio cobrar esse boleto vencido desses países. Eles sabem que têm dívidas históricas com o clima e com o mundo, mas não têm a responsabilidade de pagar essa conta. Esses países estão aqui e a gente precisa cobrar ações concretas”, disse.
O líder indígena também questionou o comprometimento internacional com o Acordo de Paris e a representatividade dos povos tradicionais nas negociações climáticas. Segundo ele, embora o Brasil tenha se tornado símbolo da Amazônia nesta COP, as comunidades que vivem na região seguem fora das discussões centrais. “O Brasil vende uma imagem do que é a Amazônia. A COP em Belém estampa nossos rostos indígenas por todo canto, mas esses povos não estão aqui dentro discutindo. Estão só nos outdoors”, afirmou.
Para Kumaruara, é fundamental que os recursos destinados à proteção da floresta cheguem às comunidades sem burocracia, evitando a intermediação de grandes instituições financeiras. Ele citou o BNDES e outros fundos como exemplos de barreiras que dificultam o acesso direto aos valores. “Quando o dinheiro chega nas comunidades, precisamos brigar por nossos territórios por um recurso de mil reais para continuar protegendo. É preciso que 50% desses recursos vá direto para as comunidades, seja qual for o fundo”, defendeu.
*Thaline Silva, estagiária de jornalismo, sob supervisão de Keila Ferreira, coordenadora do núcleo de Política e Economia
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