Pará se consolida como referência da economia da floresta e voz dos Estados no clima global
Lançamento do Vale Bioamazônico, avanços no mercado de carbono e carta dos 27 governadores entregue a Lula sintetizam as principais ações do governo paraense na conferência em Belém
Durante os onze dias da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), realizada entre 10 e 21 de novembro em Belém, o governador Helder Barbalho usou a condição de anfitrião para ir além da organização da conferência. A partir da Amazônia, o Pará se apresentou como laboratório de uma economia de floresta viva, com políticas já em curso, mecanismos de financiamento e novas parcerias internacionais, ao tempo em que o governador assumiu o papel de porta-voz dos Estados e municípios na agenda climática global.
De um lado, o governo estadual lançou o Vale Bioamazônico, estruturou instrumentos para o mercado de carbono e ampliou programas de bioeconomia comunitária. De outro, liderou a elaboração e a entrega ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, de uma carta assinada pelos 27 governadores brasileiros, pedindo reconhecimento explícito, no texto final da conferência, do papel dos governos subnacionais na implementação das metas climáticas.
Na abertura da conferência, Helder reforçou que o Pará chegou à COP 30 com uma agenda estruturada de transição para uma economia de baixo carbono, sustentada em três pilares: o Plano Amazônia Agora, o Plano Estadual de Bioeconomia (PlanBio) e a construção do Sistema Jurisdicional de REDD+. Juntos, esses instrumentos orientam a redução do desmatamento, a criação de empregos verdes e a diversificação da economia em torno de cadeias produtivas sustentáveis.
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O principal anúncio do Pará na COP 30 foi o Vale Bioamazônico, apresentado por Helder Barbalho na Blue Zone como a nova marca da economia de base florestal do Estado. Segundo o governo, mais do que um projeto isolado, o Vale se organiza como um grande ecossistema de inovação que integra estruturas já em funcionamento e políticas em curso.
Estão nesse conjunto o Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia, o Museu das Amazônias, o Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá e programas de incentivo à pesquisa, à educação profissional, à qualificação de mão de obra e ao empreendedorismo sustentável. A prioridade é clara: transformar a sociobiodiversidade em oportunidades em biotecnologia, produtos florestais não madeireiros, serviços ambientais e soluções baseadas na natureza, gerando renda com a floresta viva e fortalecendo comunidades amazônicas.
O alcance internacional do Vale Bioamazônico ganhou força com a assinatura de um memorando de entendimento com o Estado da Califórnia, com presença do governador Gavin Newsom, conectando o ecossistema de inovação paraense ao Vale do Silício. O acordo prevê cooperação em prevenção e combate a incêndios florestais, monitoramento da saúde das florestas e desenvolvimento de soluções tecnológicas para uma economia de baixo carbono.
A presença do ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, no Parque de Bioeconomia, visitando laboratórios, startups e iniciativas de povos indígenas e comunidades tradicionais, consolidou a imagem do Pará como vitrine da nova economia da floresta e destino estratégico para investimentos de impacto.
Carbono, financiamento climático e bioeconomia comunitária
Em um momento no qual a discussão global sobre clima passa, cada vez mais, pela capacidade de financiar a transição energética e remunerar a conservação das florestas tropicais, o Pará buscou mostrar resultados concretos. Na COP30, o Estado avançou na consolidação do seu Sistema Jurisdicional de REDD+, ao entregar ao padrão internacional ART TREES a documentação que comprova a redução de 38 milhões de toneladas de CO₂ em 2023. A certificação abre caminho para emissão de créditos de carbono em escala estadual, com potencial de gerar receitas para investimentos em conservação, inclusão produtiva e infraestrutura verde.
Outro passo importante foi a assinatura, com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), da primeira garantia multilateral do País voltada à restauração florestal. O instrumento aumenta a segurança para investidores privados e ajuda a estruturar projetos de recuperação de áreas degradadas, conectando o Pará aos debates internacionais sobre financiamento climático e mercado de carbono.
Na agenda de prevenção a queimadas, Helder Barbalho firmou parceria com a Hydro para ampliar a capacidade operacional do Programa Estadual de Prevenção e Combate às Queimadas e Incêndios Florestais (PEPIF). O acordo, com duração de 36 meses, prevê doação de equipamentos, apoio logístico às equipes de campo, capacitação de brigadas e atuação integrada com a Política Estadual sobre Mudanças Climáticas.
Ao mesmo tempo, o governo reforçou a dimensão social da bioeconomia. Com a segunda edição do Programa Inova Sociobio, foram assinados contratos que garantem R$ 3,4 milhões para apoiar 20 novos empreendimentos de base comunitária, beneficiando milhares de famílias em diferentes regiões. Na mesma cerimônia, o governador anunciou um novo aporte de R$ 3,5 milhões, direcionado para iniciativas em comunidades indígenas, quilombolas, extrativistas e de pequenos produtores rurais, conectando geração de renda, conservação da floresta e justiça social.
Carta dos 27 governadores e a força dos governos locais
Se, de um lado, o Pará mostrou que já implementa políticas de economia verde, de outro, Helder Barbalho se projetou como uma das principais vozes em defesa do protagonismo de Estados e municípios na governança climática. Na quarta-feira (19), o governador se reuniu com o presidente Lula e com o ministro das Cidades, Jader Filho, para entregar uma carta assinada pelas 27 unidades federativas brasileiras. O documento pede que o texto final da COP30, em Belém, traga referências explícitas ao papel dos governos subnacionais na implementação das metas climáticas.
“É muito importante poder manifestar a necessidade de incluir no texto final da COP30 efetivas mensagens que apontem a participação dos Estados subnacionais e dos poderes locais, partindo do princípio de que a implementação das agendas ambientais passa por onde as pessoas vivem, ou seja, pelos municípios e Estados, e que as estratégias precisam respeitar essa relação jurisdicional”, afirmou Helder Barbalho.
Ao citar o case paraense, ele lembrou que 30% do território do Pará está sob jurisdição estadual e 70% sob jurisdição federal. “Essa conexão entre o que é de responsabilidade do Estado e o que é da União precisa estar concatenada, sob pena de não haver aderência das estratégias em todo o território”, completou.
O governador destacou ainda a força política do documento entregue a Lula. “É importante registrar que a carta está assinada pelos 27 governadores do Brasil. Houve convergência integral de todos, o que demonstra a grandeza deste documento, que não é assinado por governadores de direita, de esquerda ou de centro", enfatizou.
Na condição de governador do Estado sede da COP30, Helder Barbalho reforçou que a mensagem dos governadores brasileiros ecoa uma demanda que vem de diferentes regiões do planeta. “Os 27 Estados estão me autorizando, na condição de anfitrião, para que esta mensagem represente efetivamente todos os Estados do Brasil. E, quando falamos dos estados do Brasil, estamos representando os estados do mundo”, frisou.
Governança amazônica e cidades
A atuação de Helder Barbalho na COP30 também se deu em escala regional, com o Pará na presidência do Consórcio Interestadual da Amazônia Legal. Na Blue Zone, o governador entregou o Hub Amazônia, espaço oficial dos nove estados amazônicos, que se consolidou como ponto estratégico de articulação política e técnica.
Foi ali que os governos trataram de temas como desenvolvimento sustentável, educação ambiental, comunicação, segurança climática, rastreabilidade de cadeias produtivas e valorização das populações amazônidas. Em paralelo, o Consórcio lançou a Estratégia Amazônia 2050 e a plataforma CAL 2050, uma base de dados ambientais e territoriais para orientar políticas públicas de longo prazo na região.
Nas agendas voltadas às cidades, Helder reforçou, em encontros com governadores, prefeitos e lideranças internacionais, a necessidade de incluir a escala urbana no cumprimento das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), tema que marcou sua participação em debates como a SB COP – Diálogo Empresarial para uma Economia de Baixo Carbono, promovida pela CNI.
A “COP do povo” e a imagem internacional do Pará
A dimensão humana da conferência esteve presente em diferentes momentos. Para Mavi Brilhante, 12 anos, paraibana, ativista e embaixadora do Instituto Limpa Brasil, viver a COP na Amazônia reforçou a pluralidade de vozes que moldam o futuro do clima. “Vivenciar a COP na Amazônia foi especial. Ver pessoas do mundo todo vindo para ouvir nossa gente foi inspirador. Esta foi realmente a ‘COP do povo’, reunindo indígenas, diferentes culturas e a riqueza brasileira que ajudou a construir uma conferência histórica em Belém”, afirmou.
A percepção internacional sobre Belém e o Pará foi sintetizada pelo embaixador de São Tomé e Príncipe em Portugal e no Brasil, Esterline Género, ao comentar a organização do evento. “Queria dar também os parabéns ao Brasil, ao governo do Pará e a todos os brasileiros em particular, por esta organização tão exemplar, bonita e que nos enche de orgulho. Achei Belém fantástica, me senti em casa: o clima, as pessoas, as iguarias, o comer, tudo muito bom e muita boa gente”, relatou.
Ao final da COP30, o balanço das entregas de Helder Barbalho na conferência aponta para um duplo movimento: construir, a partir da Amazônia, um modelo concreto de economia de floresta em pé, com políticas, programas e investimentos já em implementação; e disputar, no cenário internacional, um lugar de protagonismo para estados e cidades na governança do clima.
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