Aumento de turismo em Belém impulsiona economia local e prepara cidade para a COP 30
Economista e agente de voos destacam crescimento no número de visitantes, diversificação do perfil dos turistas e desafios para infraestrutura e capacitação profissional em Belém; turistas elogiam gastronomia paraense
Com o crescimento no número de turistas em Belém, impulsionado pela aproximação da 30ª Conferência das Nações Unidas Sobre Mudanças Climáticas (COP 30) e por maior visibilidade da gastronomia local, a cidade já percebe reflexos positivos na economia, incluindo aumento de investimentos e geração de empregos. De acordo com a Secretaria de Estado de Turismo (Setur), Belém recebeu 918 mil turistas em 2024. Para o evento global, a capital se prepara para uma nova etapa no turismo, que inclui o fortalecimento da cultura local, gastronomia e experiências autênticas, além da necessidade urgente de adaptar seus serviços para turistas internacionais.
De acordo com Genardo Oliveira, economista paraense, os impactos econômicos têm sido positivos, especialmente em termos de investimentos, geração de empregos e arrecadação fiscal. A projeção é de que o turismo, um dos setores mais beneficiados, continue em expansão, trazendo mudanças significativas para a cidade e o estado.
Crescimento do turismo: impactos no PIB e arrecadação local
O aumento do fluxo de turistas tem gerado resultados concretos. Segundo Oliveira, o turismo no Pará cresceu 15,4% em 2024, com 1,2 milhões de turistas visitando o estado, gerando uma receita de R$ 870 milhões.
"A tendência é de que esse número suba para 1,5 milhão de visitantes em 2025, com um crescimento de 20% em relação ao ano anterior", afirma o economista.
Segundo Genardo, o aeroporto de Belém também tem registrado um aumento significativo, com 4 milhões de passageiros em 2024, o que representa um aumento de 50% no número de turistas internacionais. O impacto econômico no PIB local é estimado em R$ 91 milhões.
Pequenos negócios e políticas públicas de apoio
A COP 30 trouxe uma nova dinâmica para os pequenos negócios em Belém, que estão sendo diretamente beneficiados pelo aumento do turismo. Genardo Oliveira destaca que programas como o Sebrae COP 30 e o crédito facilitado do Banpará são fundamentais para apoiar os empreendedores locais. Esses programas auxiliam na formalização dos negócios e na preparação para atender à nova demanda, que inclui desde hospedagem e gastronomia até artesanato local e serviços turísticos.
"A presença de pequenos negócios é crucial para o sucesso do turismo em Belém. O que precisamos agora é criar mais políticas públicas para capacitar esses empreendedores e garantir que eles se beneficiem de forma justa e sustentável desse crescimento", afirma Oliveira. Acredita-se que, com o suporte certo, os pequenos empresários terão uma chance única de se consolidar no mercado global de turismo.
Diversificação no perfil dos turistas
O Grupo Liberal conversou com Gregori Ferreira, agente de voos comerciais em uma empresa de viagens de Belém, que compartilhou a visão sobre o atual cenário do turismo na cidade e as expectativas para o evento global.
Segundo ele, o perfil do turista que está chegando a Belém está se tornando mais diversificado. Embora o fluxo de turistas nacionais ainda seja majoritário, ele observa um crescimento gradual de visitantes internacionais, especialmente da América do Sul e da Europa.
"Os turistas estão vindo atraídos principalmente pela natureza, cultura e gastronomia de Belém, o que torna a cidade um destino muito atrativo para quem busca experiências autênticas", afirma.
Entretanto, ele ressalta que ainda existem desafios para a cidade em termos de infraestrutura para o público internacional. "Falta uma estrutura mais robusta de serviços multilíngues, como guias bilíngues e comunicação adaptada, que tornaria a experiência mais agradável para os turistas de fora", explica Gregori.
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Busca por experiências autênticas e sustentáveis
A demanda por experiências autênticas e sustentáveis tem sido uma das principais características do perfil atual dos turistas. Gregori observa que os visitantes estão cada vez mais interessados em passeios fluviais, gastronomia paraense, visitas a mercados locais como o Ver-o-Peso, além de trilhas ecológicas e visitas a comunidades ribeirinhas.
Ele também aponta que o público mais jovem busca algo além dos passeios tradicionais:
"Estão interessados em vivências reais, não em pacotes engessados. Muitos procuram lugares badalados, com música ao vivo que mistura ritmos regionais e internacionais", revela Gregori, apontando que até as baladas e a vida noturna de Belém estão se preparando para esse público diversificado.
Mapeamento de demandas e capacitação profissional para COP
Com a COP 30 se aproximando, Gregori destaca que tanto o setor público quanto o privado já iniciaram esforços para mapear as demandas e necessidades que surgirão com o grande aumento do número de turistas na cidade. "Estamos fazendo um mapeamento das áreas críticas, como atendimento bilíngue, sustentabilidade, hospitalidade e transporte", explica.
No entanto, ele também observa que o ritmo de implementação das mudanças ainda é lento, especialmente em relação à capacitação profissional.
"A capacitação precisa ser ampliada e descentralizada, atingindo não apenas grandes hotéis, mas também pequenas pousadas, guias autônomos e empreendedores locais que estarão diretamente em contato com os turistas", enfatiza.
Infraestrutura de hospedagem e transporte
Embora Belém já possua uma boa base de hospedagem, com hotéis executivos e tradicionais, Gregori acredita que a cidade precisará ampliar significativamente a oferta de leitos para atender à demanda esperada com a COP 30.
"A rede hoteleira de Belém é sólida, mas ainda muito limitada. Para o evento, será necessário ampliar a quantidade de leitos e treinar melhor os prestadores de serviço, além de modernizar o transporte urbano e de acesso aos principais polos turísticos", alerta.
Além disso, ele aponta que alguns bairros da cidade ainda carecem de infraestrutura para lidar com o fluxo intenso de turistas, uma situação que deverá ser ajustada antes do evento. "Estamos prestes a lançar programas de city tour pela cidade durante o período da COP 30, e também após o evento, já que muitos turistas estarão ficando mais tempo na cidade e no estado para conhecer a região e suas culturas locais", adianta Gregori.
A imersão na cultura local
Doreedson Pereira, conhecido como Dorinho, 52 anos, natural de Ribeirão Preto presidente do projeto Voluntário do Sertão, fala sobre a experiência em Belém e as parcerias que têm trazido novos visitantes para a cidade.
"Estamos muito felizes em poder conhecer Belém, a capital, que é linda e cheia de encantos. A natureza, os rios e a gastronomia, com tantos peixes e frutos exóticos, são um verdadeiro espetáculo. Já estamos trabalhando em projetos na região, e Belém está sendo uma grande surpresa", diz Dorinho, que, junto a um grupo de voluntários de diversos estados brasileiros, está em Belém como parte de um projeto que já passou por Santarém e Monte Alegre.
Ele também destaca o papel da COP 30 como uma atração futura, tanto para o turismo quanto para o trabalho de conscientização e preservação ambiental. "Com a COP 30, com certeza voltaremos para entender melhor o que podemos contribuir para esse evento global", comenta.
Atração cultural e gastronômica
Para Francisco José Holanda Fernandes, um ilustrador de São Paulo de 26 anos, Belém é sinônimo de cultura vibrante e culinária irresistível.
"Eu sempre quis conhecer a cultura daqui, e estou adorando cada momento. A gastronomia é incrível! Já experimentei tacacá, maniçoba e vatapá, e tudo é delicioso. Além disso, o Ver-O-Peso é um lugar fascinante. A cidade é muito acolhedora e a gente sente que é possível fazer várias descobertas aqui", conta Francisco, que se encantou com as iguarias locais e já levou para casa cachaça de jambu, esculturas marajoaras e outros souvenirs típicos.
Ele também está animado com a COP 30. "Eu espero participar do evento, e acho que vai ser muito interessante ver a movimentação de turistas e o impacto que ele terá na cidade", revela Francisco, que planeja voltar a Belém muitas vezes no futuro.
Conexão entre Macapá e a capital paraense
Lorena Moraes, dona de uma loja em Macapá, compartilha que Belém é um destino muito especial para ela, que já visitou a cidade diversas vezes. "Adoro o Ver-O-Peso, e a gastronomia de Belém é única. A diferença de tempero é o que mais me encanta, especialmente o vatapá. Também sou fã do Mangal das Garças.
A cidade tem essa energia boa, e o povo é super acolhedor", conta Lorena, que também planeja vir para a COP 30.
"O evento vai ser muito bom para a cidade, para o turismo e para a economia. Estamos muito curiosos para saber como será a programação e o impacto da COP 30 na região."
Atração para jovens: diversidade e cultura em Belém
Stefany Íris, estudante do Maranhão de 24 anos, aproveitou uma escala em Belém para explorar a cidade pela primeira vez.
"Estou vendo que a cidade tem muita cultura e diversidade. É um lugar exótico e bem diferente do que eu estava acostumada a ver. A gastronomia é uma das coisas que mais me atrai. Vou experimentar tacacá agora, e estou muito curiosa. Além disso, percebo que há muitas obras e preparações para a COP 30", comenta Stefany.
Ela também ficou impressionada com o movimento em áreas como a Estação das Docas à noite e promete voltar para um passeio mais tranquilo, para vivenciar com mais calma a cidade.
Os números do turismo no Pará em 2024
Ao Grupo Liberal, a Secretaria de Estado de Turismo (Setur) informa que Belém recebeu 918 mil turistas em 2024, sendo 94,5% dos turistas nacionais e 5,5% internacionais, que injetaram R$ 600 milhões na economia da capital em setores ligados à hospedagem, alimentação e lazer. O total de turistas que visitaram a capital no ano passado foi quase 10% maior que o registrado em 2023, quando Belém recebeu 835 mil turistas.
Os turistas brasileiros vieram de estados como Amapá, São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Maranhão, Minas Gerais e Amazonas. Já entre os turistas internacionais que visitam Belém do Pará se destacam visitantes do Suriname, Estados Unidos, França, Portugal, Holanda, Itália, Alemanha, Espanha, Suíça, China e Japão.
A principal motivação de viagem dos turistas que vêm a Belém do Pará é visitar amigos e parentes (32,5%), atividades de lazer e turismo (27,8%) e viagem a negócios (22,6%). Ainda de acordo com a secretaria, a capacidade da rede hoteleira atual e prevista (ampliação da rede hoteleira e disposição de novos leitos) darão conta da demanda esperada para o evento COP30 em Belém do Pará.
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