Por que o Congresso é tão ruim
O brasileiro embarca no ano de 2022 com a certeza de que terá pela frente uma das mais – se não a mais – dura eleição presidencial desde a redemocratização do País. Mas enquanto todos os holofotes estão voltados para a guerra pelo Palácio do Planalto já em curso, o eleitor terá ainda mais quatro escolhas importantes a fazer: o governador do seu Estado, um deputado para a Assembleia Legislativa local, um senador e um deputado federal. Aí é que mora o perigo.
Desses cinco votos, dois serão submetidos ao escrutínio diário a partir de janeiro de 2023: o presidente, obviamente, e o governador. Enfrentarão o cerco da imprensa, do Judiciário, Ministério Público, dos próprios parlamentares e, principalmente, do tribunal das redes sociais. Mas e os deputados e senadores?
Há um raro consenso político na sociedade brasileira de que o Congresso Nacional é ruim, sempre foi ruim e isso nunca vai mudar. A última pesquisa feita pelo instituto Datafolha aponta que só 10% dos eleitores enxergam coisas positivas no trabalho feito na Câmara e no Senado. A interpretação desse desempenho pífio começa pela imagem que os próprios parlamentares transmitem: ganham ótimos salários – usufruem de muitos benefícios –, trabalham pouco, são corporativistas e, em larga escala, seguem a cartilha da corrupção.
O Congresso é lembrado pelo mensalão, o petrolão, os sanguessugas, os anões do Orçamento e daí segue uma extensa lista de escândalos. Porém, até hoje, só 35 parlamentares foram cassados – outros 25 renunciaram aos mandatos. É uma classe que protege os seus, onde ninguém solta a mão de ninguém.
Um detalhe deve ser levado em conta: a atual composição da Câmara chegou a Brasília com a promessa de, justamente, quebrar esse estigma. Não conseguiu. Boa parte dos parlamentares encerrará seus mandatos sem ter quase nada para mostrar às suas bases. Muitos deles tiveram de trocar de partido e fazer acordos para evitar o desfecho precoce dos mandatos – a exceção foi Flordelis (RJ), que deixou o gabinete direto para a cadeia, acusada de mandar matar o marido.
Já o plenário do Senado passou todo o período em brancas nuvens. Por falar nelas, o antropólogo Darcy Ribeiro, quando exerceu mandato na Casa, afirmava que ali era como o céu – não por acaso o tapete é azul. "Com a vantagem de que não é preciso morrer para estar nele", dizia. A maioria dos brasileiros sequer sabe o que um senador faz.
A nota triste foi a risível CPI da Pandemia, tratada como se fosse séria pela imprensa, mas que só desperdiçou dinheiro público e serviu para desgastar o governo, além de tentar lavar a biografia de senadores que são casos de polícia. Para piorar, a comissão só funcionou porque o Supremo Tribunal Federal (STF) também legisla.
Faltam dez meses para as urnas. É tempo suficiente para se lembrar em quem votou em 2018 e procurar saber o que foi produzido até agora. Já passou da hora de o brasileiro aprender a escolher seus representantes – e se responsabilizar por suas escolhas.
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