Escolha o tempo a tempo Patrícia Caetano 12.06.25 17h00 Vivemos correndo, literalmente e emocionalmente. Corremos para dar conta da agenda, dos compromissos, das metas. Corremos porque temos medo de ficar para trás, medo de perder algo, medo de falhar. Mas, nessa correria, muitas vezes esquecemos do mais essencial: escolher o tempo a tempo. Vivemos como quem corre para pegar um trem que já partiu. Tudo é urgente, tudo é agora, tudo é para ontem. A pressa virou símbolo de produtividade e a velocidade, um troféu para quem mal tem tempo de comemorar. Mas, no meio desse turbilhão de tarefas e notificações, há uma escolha que poucos se permitem fazer: escolher o tempo a tempo. Essa expressão, aparentemente simples, é um convite à presença, à sabedoria emocional e à reconexão com o que realmente importa. Escolher o tempo a tempo não significa procrastinar nem viver em câmera lenta, mas sim decidir, de forma consciente, quando agir, como sentir e com que intensidade reagir. É respeitar o compasso da vida e, principalmente, o nosso próprio compasso interno. Somos feitos de emoções, mas frequentemente agimos como se isso fosse uma falha. Engolimos mágoas, aceleramos lutos, disfarçamos cansaços, ignoramos angústias. Como se tudo isso pudesse ser resolvido com uma xícara de café e uma reunião marcada para depois do almoço. A verdade é que sentimos no tempo que precisamos. A dor tem seu ciclo, a alegria tem seu pico, o medo tem sua curva. Quando atropelamos esse ritmo natural em nome da pressa ou do que os outros esperam de nós adoecemos. A inteligência emocional nasce justamente da escuta interna: perceber o que se passa aqui dentro, nomear, respeitar, acolher. Escolher o tempo a tempo é dar voz às emoções, mas não dar a direção a elas. É saber que você pode sentir raiva, mas não precisa ferir. Pode sentir tristeza, mas não precisa parar. Pode ter medo, mas ainda assim seguir. A sabedoria está em dar tempo ao tempo para que ele te ensine, e não apenas te consuma. Quem nunca tomou uma decisão no calor da emoção e se arrependeu amargamente minutos depois? O imediatismo cobra caro. Vivemos tão condicionados a responder rápido que esquecemos que a melhor resposta, muitas vezes, é uma pausa. Seja no trabalho, nos relacionamentos ou nas escolhas de vida, há decisões que exigem reflexão. Há palavras que precisam ser pensadas antes de serem ditas. Há convites que merecem um “vou pensar” antes do “sim”. E há silêncios que dizem muito mais que qualquer resposta impulsiva. Escolher o tempo a tempo é usar a pausa como ferramenta, não como fraqueza. É entender que pensar antes de agir é sinal de inteligência, não de hesitação. E que maturidade é justamente saber discernir: “é agora ou ainda não?” Vivemos cercados de pessoas, cada uma com seu próprio tempo: de entender, de confiar, de amar, de perdoar, de mudar. Mas o nosso ego, tão ansioso por respostas imediatas, frequentemente exige que os outros nos acompanhem no nosso ritmo. E aí surgem os conflitos. Queremos que o outro nos entenda agora. Que mude agora. Que diga o que sentimos falta, agora. Mas relações saudáveis não se constroem na imposição, e sim na escuta. No respeito ao tempo do outro. Nem todo silêncio é descaso. Nem toda demora é desinteresse. Inteligência emocional também é empatia: é saber que o outro talvez precise de mais tempo do que você precisaria. E tudo bem. A pressa machuca. A compreensão acolhe. Por fim, há o tempo maior. O tempo da vida. Aquele que não controlamos. Que muda os planos, que vira a página sem nos avisar, que surpreende com um sim onde só havia não, ou com um ponto final onde sonhávamos vírgulas. Muitas vezes tentamos dominar esse tempo com planilhas, metas e planejamentos de cinco anos. Mas a vida, essa professora tão imprevisível, nos mostra que há coisas que só florescem quando o solo está pronto. Que há respostas que só chegam depois do silêncio. E que há recomeços que só se revelam após o fim. Escolher o tempo a tempo é confiar no processo, mesmo quando ele parece lento ou incerto. É parar de correr contra o tempo e começar a caminhar com ele. Em um mundo que valoriza a pressa, escolher o tempo a tempo é um ato de coragem. É a arte de respeitar os ciclos, silenciar quando necessário, agir com propósito e sentir com verdade. Porque a vida, apesar de breve, não é uma corrida. É um percurso. E o que fazemos com o tempo é, no fim das contas, o que fazemos com a nossa própria existência. E que você possa, hoje, escolher o seu tempo… a tempo. PATRICIA CAETANO patymops@gmail.com @patyccaetano @soupatriciacaetano Assine O Liberal e confira mais conteúdos e colunistas. 🗞 Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱 Palavras-chave patricia caetano Inteligência Emocional colunas COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA Patrícia Caetano . Desculpe pela interrupção. 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