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Lena Cristina Barros Mouzinho

Trabalho como psicóloga, com pessoas, famílias, casais e grupos. Sou apaixonada por Educação Relacional e fiz disto meu sentido de vida. Todo meu exercício profissional é na busca de conexão humana, por meio do diálogo.

E por falar em amar!

Lena Mouzinho

Conviver com tudo, realizar conexões, tecer laços, em síntese, aprender a conviver e a amar: esse é o destino humano.

Entenda-se amar, aqui, não no sentido idealizado da harmonia total e estável entre os seres. A vida é movimento e pausa...e movimento... Dela fazem parte os conflitos - quando polaridades encontram-se frente à frente - cuja superação produz aprendizagens e desenvolvimento.

Entenda-se amar, na concepção que o biólogo chileno Humberto Maturana aponta em sua Biologia do Amor: “Amar é fenômeno biológico”... “emoção fundamental”... “O domínio das condutas nas quais o outro surge como legítimo outro na relação com alguém”... “é a noção que funda o social.”

Não o amor-sentimento, simplesmente, mas o amor-verbo: experiência relacional temperada por muitos sentimentos e emoções humanas, num empenho do exercício contínuo do Respeito.

Desafio maior?  Principalmente exercitar este propósito com aquele que não me emociona de forma gratificante. Difícil engajar-se em tal exercício instalado no lugar da vítima-analista-expectadora, sem assumir co-responsabilidade na construção, em relação, do estado de coisas. Difícil quando, no tribunal que presido, decidi sentenciar culpados por minha insatisfação e infelicidade.

Pois amar implica em aprender a reverenciar ao outro como ele está (existem sentidos para este estado que desconheço). Implica na confirmação de que o reconheço em sua existência como outra pessoa, mesmo que em minha percepção ele se configure de uma forma incompreensível.

Origina-se no reconhecimento de que é alguém diferente de mim, mas com uma vasta humanidade que nos assemelha, pois guarda vivo em si sentimentos, emoções e necessidades universais, como as minhas. E de que é um oceano misterioso que não tenho o poder de perceber em todas as suas infinitas dimensões. Alguém, como eu, digno de todo e irrestrito Respeito.

Sentir/agir desta forma não acontece somente por esforço, para eu me sentir “gente do bem”. O que sustenta a confiança nas relações é autenticidade. Emoções e sentimentos não se submetem as ordens do querer e do dever. E são as emoções que nos movem em nossas ações cotidianas mais comuns.

Nadando à favor da corrente...

Para o exercício de amar preciso identificar se o que quero verdadeiramente é me conectar à esta outra pessoa.

Quero mesmo construir “sinapses” que permitam trocas que nos nutram, apóiem e curem mutuamente e a relação?

Ou por enquanto quero isto sim, mas só para mim?

Ou quero para mim e para quem eu identifico como “meus”?

Qualquer resposta, sem julgamentos, nos traz informações importantes sobre como estou agora e do que preciso.

Se a resposta a primeira pergunta for positiva, precisamos urgentemente buscar alimentar uma nova forma de olhar humanos. E “malhar” este olhar. Um olhar que privilegie agregar, antes de separar. Que busque primeiro identificar semelhanças que nos vinculem, no lugar de tentar primeiro valorizar as diferenças que rejeitamos.

Para mudar atitudes precisamos compreender e transformar emoções. E emoções se redefinem quando mudamos a perspectiva e buscamos genuína, gentil e curiosamente “adivinhar” o que pulsa vivo dentro de mim...e do outro. Quando olhamos com um olhar que investiga - busca vestígios dentro - sobre nossas motivações gêmeas.

É essa postura de equidade que nos coloca disponíveis ao diálogo: dança em que, presente diante de uma outra pessoa, a escuto para compreender o que está vivo nela e falo do que está vivo em mim, para que ela não precise proteger-se, me ferindo.

É neste espaço “entre nós” que podemos aprender a fazer combinações com nossas percepções diferentes – incompletas, limitadas, precisando de muitas outras para alcançarem profundidade e amplitude de compreensão.

Combinações que busquem a satisfação de nossas necessidades individuais e coletivas e que nos possibilitem desenhar a vida maravilhosa que desejamos.

É, portanto, o exercício de olhar por outros prismas e incluir novas percepções, que faz-nos descobrir, juntinhos, formas acolhedoras, cooperativas e amorosas de “dançar” no mundo.

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