LUÍS ERNESTO LACOMBE

Formado em jornalismo, trabalha desde 1988 em televisão. Foram 20 anos na Rede Globo e passagens pela Rede Manchete e Bandeirantes. Hoje, tem dois programas na Rede TV!, dois projetos na internet e ainda é colunista de três grandes jornais do país. É autor de quatro livros, um deles best seller. Em 2021, venceu o prêmio Comunique-se, o mais importante da área de Comunicação no Brasil, em duas categorias. | lacombe@brasilmediahouse.com

Farinha d’água

Luiz Ernesto Lacombe

Era um almoço comum de sábado na casa do meu melhor amigo, na Lagoa, bairro da zona sul do Rio de Janeiro. Tínhamos dez anos de idade, éramos colegas desde a alfabetização. Não lembro qual era o cardápio, algo trivial, se não fosse aquele pote grande de vidro sobre a mesa... Dona Juju, avó desse meu amigo, girou a tampa vermelha e me ofereceu a iguaria típica do seu estado, o Pará: farinha d’água. Leve, crocante, nunca esqueci a sensação de explosões na boca. Dona Juju, sempre doce e atenciosa, me ofereceu mais. Aceitei, claro!

Passaram-se trinta anos até que alguém despejasse de novo no meu prato aquela farinha mágica paraense... Eu era apresentador do Esporte Espetacular e estava em Belém para cobrir o GP Internacional de Atletismo, no Mangueirão. Era minha primeira vez na região Amazônica. Na chegada, pela janela do avião, num sobrevoo quase infinito, aquela floresta toda já tinha me chacoalhado estranhamente. A descoberta de um mundo gigante, de como somos pequenos...

Também foi impossível não me emocionar no estádio tomado por torcedores. E não era futebol, o clássico entre Remo e Paysandu, era atletismo! Não me lembro de povo mais apaixonado por esporte, mais vibrante do que o paraense. Por sorte, como jornalista esportivo, estive em Belém mais duas vezes. Convidado pelo Grupo Liberal, fui à cidade entregar o Prêmio Rômulo Maiorana aos melhores esportistas do Pará. E voltei para cobrir o jogo da seleção brasileira contra a Argentina, o Superclássico das Américas. De novo, estádio lotado, e hino brasileiro cantado à capela, levando ao choro um jornalista veterano como eu e o jovem craque Neymar.

Na minha última visita a Belém, recebi dois pedidos de amigos do Rio. Um queria bombons de cupuaçu. O outro, o saudoso DJ Simpson, que fazia sucesso em festas cariocas, queria que eu garimpasse CDs de cantores e grupos musicais do Pará. Consegui com produtores locais um pen drive com cerca de 400 músicas: carimbó, tecnobrega, guitarrada, calypso, cúmbia, merengue... Só um pouquinho da força cultural paraense, que é imensa, que é amazônica.

Agora, eu chego ao Pará pelas páginas de um jornal com 75 anos de história: O Liberal. Criado para dar voz a um grupo político e, portanto, disposto ao debate. Ora, se não é disso que surgem as melhores respostas... O embate de ideias, opiniões contrárias, dúvidas, reflexões... Então, não troque nada disso por ódio, agressividade, desonestidade. Vamos conversar.

Apegado aos fatos, ao mundo real, lhes digo: precisamos de liberdade política, econômica, religiosa e de pensamento, de menos Estado na economia e nas nossas vidas... E tudo será sempre mais fácil, com um bocado de Pará. Precisamos muito do entusiasmo, da alegria, da criatividade, da fé e da esperança das pessoas desse Estado gigante. E, Dona Juju, por favor, não esqueça: muita farinha d’água!

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