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LUÍS ERNESTO LACOMBE

Formado em jornalismo, trabalha desde 1988 em televisão. Foram 20 anos na Rede Globo e passagens pela Rede Manchete e Bandeirantes. Hoje, tem dois programas na Rede TV!, dois projetos na internet e ainda é colunista de três grandes jornais do país. É autor de quatro livros, um deles best seller. Em 2021, venceu o prêmio Comunique-se, o mais importante da área de Comunicação no Brasil, em duas categorias. | lacombe@brasilmediahouse.com

Depende de nós

Todo fim de ano, dezembro começando, meu pai passava a cortar jornais. Usava uma boa tesoura, era cuidadoso. Uma matéria inteira, nota na coluna social, uma ilustração... Os recortes eram guardados numa pasta de papel e lá ficavam por pelo menos um ano. Até que chegava a hora de voltar a eles, antes de juntar novos recortes.

Meu pai abria a pasta e pegava o primeiro pedaço amarelado de jornal. Retângulos, quadrados, o velho e bom papel. Em todos, havia uma espécie de lista feita por um babalorixá, uma cartomante, um astrólogo, uma cigana... Previsões para o ano que chegava e, no abrir e fechar de uma pasta de papel, de repente terminava.

Um recorte por vez sobre a mesa, e meu pai percorria mentalmente, mês a mês, empurrado por sua boa memória, os fatos e acontecimentos mais importantes do ano velho. Ele sempre dava risadas, quando lia aquelas previsões genéricas nos jornais: “Vai morrer um artista importante”; “Vai haver um grave acidente aéreo”; “Caribe sofrerá com desastres naturais”. Tudo vago, impreciso, buscando um bilhete de loteria em que se paga mais para marcar mais números. Nada muito específico, para aumentar a chance de alguém transformar uma aposta, um chute, numa previsão sensitiva.

A porcentagem de erros nas previsões para o ano novo sempre foi enorme. Os jornais, em geral, não queriam saber disso. Meu pai pegava uma lista de dez previsões feitas pela mesma pessoa. Podia haver nove erros, mas deles ninguém falava. Agora, o único acerto, mesmo que naquela base do palpite bem genérico, ganhava manchetes: “Vidente previu!”

Sobre o futuro o que dizer? Ele é ilimitado, é cada vez mais desafiador. É preciso pesquisar, estudar, estar atento, ser curioso, desconfiado... Ter bom senso, cautela, prudência, conjecturar, debater, prevenir, planejar, sobretudo, planejar. É preciso preparação. Tentativa e erro, não! Fórmulas velhas, que nunca funcionaram, como alguém ainda pode pensar nisso?

Não sei o que dizem os búzios, a borra de café no fundo da xícara, o que dizem as cartas, as estrelas e os planetas. Os jornais estão doidos para nos contar. Meu pai já não está aqui com sua “agência verificadora de previsões para o ano novo...” Penso nele, tento buscar o otimismo, pelo menos em doses que a realidade permita. Quero ver o lado bom, que não pode ceder um centímetro. Quero alimentar minha fé e minha esperança. Assim, faço minhas melhores previsões e sigo na luta. O ano novo, mais uma vez, depende muito de nós!

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Luis Ernesto Lacombe
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