LINOMAR BAHIA

LINOMAR BAHIA

Jornalista e radialista profissional. Exerceu as funções de repórter, redator e editor de jornais e revistas, locutor, apresentador e diretor de emissoras de rádio e televisão. Articulista dominical de O Liberal há mais de 10 anos e redator de memoriais, pronunciamentos e textos literários. | linomarbahiajor@gmail.com

Pedir, o que?

Linomar Bahia

Tempos atrás, o comercial de famoso fixador de cabelos começava dizendo que “todos cantam o Natal em toda parte ....”.  Nestes dias conturbados do país, frase assim, sintetizando ambiente de paz e crença no futuro, sequer poderia ser imaginada, considerada inoportuna acaso alguém a proferisse em qualquer lugar. Paira sobre o presente e o futuro um clima em que eventuais esperanças são turvadas pelas incertezas, propiciando que se evoque a exclamação de Cícero “o tempora! O mores!”, nas famosas “Catilinárias”, condenando os desmandos que corrompiam  os costumes da Roma daqueles tempos antes de Cristo, interpelando o devasso senador Catilina sobre “até quando abusarás de nossa paciência e teremos que viver tempos deploráveis”.

Pedir, então, o que a um imaginário Papai Noel? Pense em qualquer ação ou decisão das gestões políticas e institucionais essenciais aos brasileiros. Dificilmente encontrará algum desejo passível de ser materializado, diante das circunstâncias e práticas que somente vêm se aprofundando em todas as áreas da vida nacional, corroendo todos os pilares em que repousam os fundamentos da nacionalidade. Pontificam situações que estão transformando o país num imenso shopping center, com as lojas e prateleiras ocupadas com o que de pior poderia ser classificado como negação da moral e dos bons costumes, longe de alcançar o progresso econômico e social necessário, expondo o bom velhinho a tarefa inglória e a frustração jamais experimentada em tempo algum.

Há muito o país vem se distanciando da normalidade política e econômica, espécie de condomínio político-institucional, em que todos somos cúmplices e culpados, invertendo e ignorando prioridades conforme os interesses pessoais e conveniências de grupos. Enquanto são privilegiadas questões para desviar as atenções, aumentam os fatores de insegurança jurídica e a falência da representatividade popular, ameaçando de irrelevância o voto popular fundamental à democracia e o Brasil um país beirando a ficção. Manobras e conchavos oficiais ocorrem às escondidas, inclusive nas caladas das noites, tornando “letra morta” o dispositivo de que “o poder emana do povo”, inserido na Constituição de 1988, que Ulisses Guimarães acreditou ser “Cidadã”.

Então, o que se poderia pedir neste Natal, quando não há credibilidade nos agentes incorporados pelo personagem Justo Veríssimo, com que o saudoso Chico Anísio dizia que “o povo que se exploda”. Paz seria boa pedida, mas parece improvável a pacificação de um país dividido meio-a-meio na eleição e já inviabilizada nos primeiros discursos de quem prometia renunciar ao “nós contra eles” que, pelo contrário, tem sido acentuado.        Também seria desejável uma revolução nos costumes, transformando repentinamente em cordeiros os lobos que devoram as riquezas e anseios nacionais. São, todavia, desejos e sonhos tão impossíveis de se tornarem realidade quanto pretender que o dia e a noite deixem de acontecer. Resta a ilusão de que Pai Noel existe.

 

Linomar Bahia é jornalista e escritor

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